TRADIÇÕES que unem fé e alegria
“Na sexta-feira Santa não se fazia nada, tudo era pecado, pois Jesus tinha morrido. No Domingo de Páscoa, fazíamos uma junção na casa da vó com todos os tios e primos. Era uma comilança de carne de ovelha”, a recordação de Lucas Gabriel Bruck, de 40 anos, sobre a Páscoa em sua infância é semelhante às memórias de muitas pessoas que, mesmo depois de adultas, tentam manter viva a tradição da união familiar nesta data.
A rotina da celebração durou até Lucas atingir a juventude e, assim como alguns de seus familiares, deixar a cidade onde morava, Barra do Quarai. Ainda hoje ele tem como preferido um dos chocolates que ganhava de seus padrinhos. “Na época, uma caixa de bombom era ouro”, diz. Atualmente, Lucas mora em Montenegro, e com base no seu passado, tenta tornar a Páscoa de muitas crianças um pouco mais doce. Há alguns anos ele começou a montar cestas com balas e bombons para serem doados. Este ano, serão montados 60 kits.
Cada família tem seu jeito próprio de aproveitar a Páscoa: seja para refletir, orar ou fazer caridade. Independente da forma como ela é vivenciada, o importante são as boas recordações que deixa entre seus membros.
Recordações coloridas de uma infância feliz
Caroline Ritter, aos 55 anos, revive com nostalgia as memórias de Páscoa de sua infância. “Minha mãe pintava as cascas dos ovos com tintas que vinham em um pacotinho, eram cinco embalagens, cada uma com uma cor. Ela cozinhava os ovos e tingia com essa tinta que era misturada no vinagre e na água”, rememora. O ritual de pintar ovos era seguido pela “caça aos tesouros escondidos”. “Ela escondia uma travessa transparente com esses ovos coloridos e a gente tinha que procurar eles e os ninhos. Era muito bom”.
No dia seguinte, a tradição continuava com a visita às madrinhas para buscar os doces de Páscoa. “Até pouco tempo eu fazia para os meus netos também. Tingia os ovos, escondia agora a tinta não é mais fabricada. Eu desenhava, com canetinha, os ovos cozidos. Fazia carinha de coelhinho, carinha de bonequinho, escondia e as crianças tinham que procurar dentro de casa”, conta Carol.
Caroline ainda guarda lembranças afetivas de objetos que fizeram parte dessas celebrações. “Encontrei a xícara manchada de tinta, e minha mãe disse que o coelho usava ela para pintar os ovos. Quando eu cresci, fiquei sabendo que essa xícara tinha passado pela minha avó, pela minha tia, e pela minha mãe. Uma pessoa comprava a tinta e passava para as outras pintarem os ovos”, lembra a herdeira do objeto.
Já Priscila Spohr, aos 41 anos, recorda sua infância e percebe como as tradições de Páscoa foram passadas de geração em geração. “Sempre tinha a função das casquinhas de ovo, começávamos bem antes já, eu e minha mãe, a guardar os ovos para pintar. Sempre enchíamos com aquelas carapinhas de açúcar de amendoim”, relata.
Essas tradições foram replicadas na vida adulta de Priscila, que hoje compartilha o espírito da Páscoa com seus próprios filhos. “Gosto bastante da Páscoa, acho bem legal as decorações. Faço também os ovos aqui na minha casa para os meus filhos, a Júlia tem 10 anos, e até hoje ela adora a função do ninho escondido”, conta Priscila.
E assim como na sua infância, a Páscoa é um momento de encontro familiar e celebração. “Sempre nos encontramos na casa de alguém para fazer o almoço de Páscoa, sempre é um churrasco”, compartilha Priscila, destacando a importância desses momentos para fortalecer os laços familiares e criar novas memórias afetivas.
Leandro Oliveira, aos 39 anos, rememora sua infância e adolescência durante as celebrações de Páscoa. “Nunca tive as pegadas de coelhinho, mas por muitos anos eu esperava a chegada do coelhinho, a cesta na porta da casa”, recorda.
Seu encontro com a cesta de chocolates era um momento de alegria. “Era uma cesta
grande de chocolate. Era um momento de muito choro para comer o chocolate, não queria comida, só chocolate”. Além das tradições familiares, Leandro recorda a tradição religiosa da Páscoa. Uma das memórias mais marcantes para ele foi uma Sexta-Feira Santa em particular. “Nós ficamos jejuando. Queríamos tomar café e não dava, porque nós tínhamos que jejuar. Todos estavam com fome, eu devia ter uns oito ou nove anos”, descreve.
Apesar das restrições alimentares, o momento de reunir-se com a família era especial para Leandro. “Esse é um período que me deixa cheio de saudade da infância, com os tios, as tias, minha avó que já é falecida. Era um momento muito bom”, conclui.