Sim, é preciso falar sobre suicídio

Cercado de tabu e escondido no mais profundo silêncio da sociedade, o suicídio tem índices cada vez maiores no Brasil e no mundo. Além de delicado, o assunto toca em uma feriada que, apesar de pouco discutida e evitada, em grande parte dos casos, permanece aberta e reflete um grave problema de saúde pública, que resulta em números alarmantes.

Diariamente, cerca de 32 brasileiros tiram a própria vida, e no mundo são quase 1 milhão de pessoas por ano, uma a cada 40 segundos – são mais vítimas que todas as guerras, homicídios e conflitos civis somados. Além disso, para cada morte, existem outras 10 ou 20 pessoas que já tentaram fazer o mesmo e entre 2007 a 2016, 106.374 pessoas consumaram o ato.

No Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Montenegro, a realidade não é diferente. Na avaliação da psicóloga e coordenadora da entidade, Jaqueline Porto, os números também são preocupantes no município. “A procura pelos nossos serviços vem crescendo, assim como os casos depressivos com risco de suicídio”, disse Jaqueline. “Um pouco disso é porque as pessoas vêm reconhecendo o nosso trabalho e entendem que podem buscar nossa ajuda.”

Apesar dos números expressivos, atualmente o Brasil é considerado um país com índices baixos de suicídio (6 a 7 casos por 100 mil habitantes, contra 12 da média mundial), no entanto, enquanto os índices têm caído na maioria dos países, as taxas brasileiras avançam. Só em 2016 foram 11.433 mortes, um crescimento de 2,3% em relação ao ano anterior. “Nós nos preocupamos muito com o que vem acontecendo e fazemos tudo que é possível profissionalmente para poder ajudar, principalmente através da escuta, o que nos permite entender o que a pessoa está sentindo, buscando e quais suas as necessidades, para depois auxiliá-las no tratamento”, explica Jaqueline.

No Caps, as pessoas podem chegar por demanda própria – sem a necessidade de encaminhamento – onde são acolhidas. Dependendo da escuta, a equipe define se o paciente precisará ser acompanhado ou não pelo serviço que atende somente casos graves. “Toda a equipe envolve psicóloga, enfermeira, assistente social e terapeuta ocupacional está preparada para esse acolhimento, já que o tratamento é multidisciplinar com atendimento em grupo ou individual”, destaca. “Esse olhar de diversas áreas é importante para o plano terapêutico de cada um.”

Nos casos de urgência e emergência, em que a pessoa está em uma situação de risco, é necessário um suporte hospitalar ou, talvez, uma internação em um leito de saúde mental. No município, o serviço é oferecido no Hospital Montenegro, onde psiquiatra Ricardo Silveira é responsável. Apesar da falta de estatísticaslocais, o especialista revela que as causas são um fenômeno complexo e envolve diversos fatores. “O desemprego, por exemplo, pode ser um fator, assim como violência doméstica, no caso das mulheres, mas isto deve ser melhor avaliado pelos órgãos públicos. O que posso dizer com certeza é que 90% dos casos podem ser evitados”, destaca o psiquiatra.

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