Com cerca de 8 meses que a detecção do novo coronavírus na China foi divulgada, o mundo foca sua esperança e esforços no desenvolvimento da imunização contra a doença. Há, atualmente, quase 166 iniciativas ao redor do mundo de desenvolvimento de vacina contra a Covid-19, que serão submetidas a estudos pré-clínicos (sem testes em humanos), três fases de testes clínicos para avaliar segurança e eficácia, além da etapa de aprovação. Ao menos cinco delas são consideradas mais promissoras, das quais duas estão sendo testadas com voluntários brasileiros.
Uma delas é a vacina chinesa CoronaVac, que começou a ser testada em brasileiros na última segunda-feira, dia 20, com projeção de ser aplicada em 890 profissionais da área da saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo (capital) que concordaram em participar desta etapa da pesquisa de uma das alternativas de imunização.
A vacina chinesa é aplicada em duas doses, sendo que segunda será ministrada após 14 dias a contar desta semana. Os pesquisadores do Hospital das Clínicas vão analisar os voluntários em consultas que são agendadas a cada duas semanas. A estimativa é concluir todo o estudo da fase 3 de testes em até 90 dias.
Ao todo, os testes com a CoronaVac serão realizados em nove mil voluntários em centros de pesquisas de seis estados brasileiros: São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. A pesquisa clínica será coordenada pelo Instituto Butantan e o custo da testagem é de R$ 85 milhões, custeados pelo governo paulista.
Caso seja comprovado o sucesso da vacina, ela começará a ser produzida pelo Instituto Butantan a partir do início do ano que vem, com mais de 120 milhões de doses, o suficiente para vacinar cerca de 60 milhões de brasileiros.
“Se esse estudo for concluído antes do final deste ano, e essa é uma expectativa real, poderemos ter essa vacina disponível para a população brasileira já no início do próximo ano”, afirma Dimas Covas, diretor do Butantan. Segundo o governador de São Paulo, João Doria, após aprovada, esta vacina será destinada a todos os brasileiros.
Sobre a CoronaVac
A Sinovac Biotech está desenvolvendo a vacina PiCoVacc (ou CoronaVac), que utiliza o vírus Sars-CoV-2 inativado quimicamente. É uma das vacinas em fase mais adiantada de testes – na terceira – chamada de clínica, onde é feita a testagem em humanos. O laboratório chinês já realizou testes do produto em cerca de mil voluntários na China nas fases 1 e 2. Antes, o modelo experimental aplicado em macacos apresentou resultados expressivos em termos de resposta imune
*As informações são da Agência Brasil/EBC
Vacina Inglesa também é testada
Quase 30 dessas candidatas a vacina iniciaram testes clínicos e menos de 10 estão em etapa avançada de análise de eficácia (fase 3 dos testes), que leva à aprovação, caso se mostrem seguras e eficazes. Uma delas é conhecida popularmente como “vacina de Oxford”, pois é elaborada pela universidade britânica de Oxford, com colaboração da multinacional farmacêutica AstraZeneca. Essa também foi notícia na última segunda-feira, com divulgação dos resultados detalhados sobre as fases 1 e 2, indicando-a como ‘segura e capaz de treinar o sistema imunológico para se defender’.
O estudo publicado neste dia 20. A próxima etapa envolve voluntários no mundo inteiro — incluindo 5 mil brasileiros – dos quais 1 mil já receberam doses na fase 3, e que serão acompanhadas por um ano.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) negociou um acordo com a AstraZeneca para a compra de lotes e transferência de tecnologia, o que permitiria a produção da vacina no Brasil no início de 2021.O acordo, estimado em quase R$ 700 milhões, prevê a entrega de 15 milhões de doses até dezembro de 2020 e outros 15 milhões até janeiro de 2021. Esse montante seria suficiente para imunizar 15% da população brasileira. Em seguida, seriam produzidas mais de 70 milhões de doses, com custo unitário em torno de R$ 12,00 (US$ 2,30).
Outros quatro estudos promissores
– Vacina AD5-nCoV – China: fase 3
Em março, a empresa chinesa de biotecnologia CanSino Biologics iniciou seus ensaios. Sua vacina usa uma versão de um Adenovírus do resfriado comum. Esse vetor transporta o gene da proteína da superfície do coronavírus e, assim, tenta provocar a resposta imune. É a vacina em fase mais avançada.
– Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan/ Grupo Farmacêutico Nacional da China: fase 3
A terceira desenvolvida no país asiático é uma vacina de vírus inativado, feita a partir de partículas do novo coronavírus, bactéria ou outros patógenos cultivados, sem capacidade de provocar doenças. Em abril, 96 voluntários de três faixas etárias receberam uma injeção, cujos resultados preliminares indicaram que ela é segura e provoca uma resposta imune (100% dos voluntários geraram anticorpos).
– Vacina mRNA-1273 – Estados Unidos: fase 3
A fórmula da Moderna Therapeutics, empresa de biotecnologia de Massachusetts, é produzida com pequeno fragmento de código genético do coronavírus, criado em laboratório. Assim, não é capaz de causar infecção ou sintomas da Covid-19, mas sim resposta do sistema imunológico. Os ensaios clínicos mostraram produção de anticorpos, no entanto, apenas nas oito primeiras pessoas de um total de 45 participantes.
– Vacina Russa
De acordo com Ministério da Defesa da Rússia, o segundo grupo de voluntários – composto principalmente, por militares – já eve alta médica após ensaios clínicos, com todos desenvolvendo resposta imunitária sem complicações. Os voluntários foram vacinados em 23 de junho e serão submetidos em 4 de agosto a uma nova série de análises de controle para confirmação dos resultados.
Países Americanos se unem para garantir acesso
Os países das Américas estão unindo esforços para garantir o acesso a tratamentos e vacinas. Segundo a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, atuando como um bloco, os Estados Membros se beneficiarão da expertise técnica da entidade em distribuir vacinas de maneira rápida e eficiente. “Também garantiremos que o processo seja o mais inclusivo possível, alocando as doses de maneira justa entre os países participantes”, disse Etienne.
A diretora da OPAS explicou que o Fundo Rotatório da OPAS para vacinas pode ser usado como um ativo estratégico para comprar e distribuir a imunização. A OPAS também está envolvida no mecanismo da Organização Mundial da Saúde (OMS) chamado Covax – um esforço de grupo para negociar com produtores de vacinas. Por meio do mecanismo, negociará em nome de países do mundo todo direto com fabricantes destas vacinas candidatas promissoras. “Isso permitirá que os países – independentemente do nível de renda – obtenham melhores preços e assumam menos riscos do que se negociarem individualmente. Nenhum país deve fazer isso sozinho”, observou.
Santa Casa lidera pesquisas inéditas sobre a Covid-19
Nesta semana, pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular do Complexo Hospital Santa Casa conduzem dois novos estudos epidemiológicos de campo sobre Covid-19 no Rio Grande do Sul. Ambos liderados pela Instituição de Porto Alegre, em parceria com o Instituto Cultural Floresta e a Universidade Federal (UFCSPA).
O primeiro avaliará profissionais de saúde que atuam em emergências de cinco grandes hospitais de Porto Alegre. Além de informações clínicas, todos serão testados para saber quantos já tiveram contato com o vírus e desenvolveram anticorpos. O estudo será repetido após 15 dias, somando 3 mil testes.
O segundo será com 1,5 mil agentes da Brigada Militar (BM), em 10 cidades onde a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) aplicou seu estudo epidemiológico. “Além de estudarmos uma população que esteve trabalhando durante toda a epidemia, faremos a detecção de anticorpos por ‘ELISA’, sabidamente mais sensíveis que os testes rápidos”, explica o médico Alessandro Pasqualotto.