Gustavo Zanatta, prefeito de Montenegro, participou da série de entrevistas com os candidatos a eleição municipal de 2024. O gestor justificou por que não conseguiu executar todos os compromissos previstos em seu Plano de Governo. Segundo ele, a pandemia e as enchentes consumiram muito tempo de trabalho e impactaram na economia local, atrapalhando o cronograma.
Contudo, Zanatta afirma estar satisfeito com o trabalho feito até o momento, principalmente no que diz respeito às obras de pavimentação, restauração do Parque Centenário, e a recuperação do sentimento de orgulho dos montenegrinos por viverem na cidade.
JI – Chama à atenção na sua trajetória política, que em 10 anos o senhor esteve em 3 partidos. O que motivou essas trocas?
Gustavo Zanatta – Fui eleito para o pleito de 2013 a 2016 pelo Progressistas. Em 2016 concorri a prefeito pelos Progressistas, e em 2020, por unanimidade, o partido decidiu me indicar como candidato a prefeito. Na época, lembro que o Kadu (Carlos Eduardo Müller), o prefeito, era Solidariedade. Como ele tinha que sair do partido, que era muito pequeno, para concorrer num partido maior, se viu a possibilidade entre alguns integrantes do Progressistas para que ele pudesse ir para o PP.
Chegou um momento que vi que o Progressistas havia feito a escolha do Kadu, ao invés do meu nome, como candidato a prefeito, acabei saindo do partido. Fui para o Partido Trabalhista Brasileiro, nele concorri e me elegi prefeito.
Ocorreu que, na época, o Roberto Jefferson, que era presidente nacional do PTB, expulsou o vice-governador do primeiro mandato do Eduardo Leite, o Ranolfo Vieira, o que ocasionou uma debandada de inúmeros deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores do partido. Fui um dos poucos que ficou no partido. Mas em algum momento eu faria a escolha por outro partido. Fiquei muito feliz na época, porque fui convidado por inúmeros partidos da nossa cidade. Eu tenho uma linha, segui essa linha e acabei escolhendo o Republicanos. Estou muito feliz com as minhas decisões.
JI – Em 2020, o senhor prometia fazer diferente. No Ibiá foi questionado de como seria isso na prática e a resposta foi: “Fazer diferente é respeitar mais e ouvir as pessoas”. Como o senhor praticou essa premissa?
Gustavo Zanatta – Colocando em prática tudo isso que as pessoas hoje enxergam de diferente, e que o sentimento de pertencimento é o que faz a gente entender que o fazer diferente traz esse sentimento nas pessoas. Aquilo tudo que pensávamos em fazer diferente, hoje soma para que a gente possa entregar todas as nossas grandes ações.
JI – A forma de relacionamento que o senhor estabeleceu com o Legislativo, foi uma maneira de blindagem de proteção contra eventuais pedidos de impeachment?
Zanatta – Jamais. Tive a felicidade de ser vereador por quatro anos. Naquela época eu recordo que não existia diálogo com o Poder Executivo, diante do prefeito Paulo Azeredo. Na época também havia sido dito que não poderia se fazer nada para quem era oposição ao governo. Sofremos muito na Câmara com relação a buscar aproximação com o governo. Isso me fez entender que, caso eu tivesse o êxito um dia de estar prefeito, não agiria dessa forma. No mesmo sentido, compreendo que a aproximação entre os dois poderes consegue trazer resultado para nossa comunidade.
Aquilo que está dando certo a gente não mexe. Essa construção, na Câmara, deve continuar. Temos que mostrar para novos vereadores, que irão entrar, que o trabalho vai continuar de forma transparente e clara entre todos.
JI – As duas vezes que o senhor concorreu a prefeito não tinha experiência em gestão. Agora que tem a experiência de ter governado, qual a diferença que isso vai fazer em um novo mandato?
Zanatta – A experiência que nós adquirimos faz entender que realmente sozinho a gente não faz nada. Tenho muitas experiências de tantos outros secretários que estão na Administração e que têm muito mais conhecimento em algumas áreas que eu, não é vergonha dizer.
Não quero ser melhor que o Silvio Kael, que é o gerente de contratos e convênios, por exemplo, quero ser melhor comigo mesmo. E que cada um de nós possa ter a sensibilidade de entender que não é querendo saber mais que o outro ou melhor que o outro que vai acabar somando. Isso só faz com que o grupo acabe ficando desagregado. O que importa é o conhecimento, quando se soma todas as forças, se consegue trazer um resultado ainda maior para os projetos serem colocados em prática.
JI – Quando Vereador encaminhou junto ao Executivo várias ações. Como prefeito, depois de 44 meses, embora constando no seu Plano de Governo, acabou não executando muitas destas ações que no passado considerava importante. O que mudou de lá pra cá?
Gustavo Zanatta – Quando a gente assume uma Administração Municipal pela primeira vez, enfrenta grandes desafios. A Câmara é completamente diferente do Executivo. O principal papel do vereador é fiscalizar os atos do Executivo. Se trabalha com algumas ferramentas, pedidos de informação, de providências e de indicação.
Fizemos inúmeros desses pedidos, alguns foram atendidos pelos gestores, outros não. Agora é diferente, porque, além de colocar em prática todas as nossas principais ações, temos também uma leva de todos os vereadores que têm os seus pedidos e as suas necessidades.
Assumimos num momento totalmente atípico, tivemos a Covid-19, além de termos de assumir os compromissos do governo anterior. O volume de tarefas, muitas vezes, ocupou nosso tempo e fez com que as demandas que tínhamos na Câmara não pudessem ser colocadas em prática.
JI – Quando vereador, falava muito em ciclovia, problemas no trânsito, mobilidade urbana, e a gente viu que, no decorrer desses quase quatro anos, não teve um metro a mais de ciclovia. O que houve?
Gustavo Zanatta – Isso tudo tem que ter planejamento. Não é tão simples para se tirar do papel. Mas vamos pensar no lado positivo. A ciclovia, do jeito que estava, as melhorias que fizemos, principalmente em torno do morro, nós fizemos inúmeros reparos e várias adequações.
A parte da mobilidade urbana, sabemos que a cidade está um caos, mas existem pessoas e técnicos que têm capacidade para elaborar e para dizer o que deve ser feito. E quando se fala em mobilidade, as pessoas acham que entendem tudo, que tem que botar rotatória, duplicar, a rua tem que ser sentido único. Aí eu digo, gente, calma, vamos deixar isso para quem é técnico, para quem tem conhecimento. Na nossa administração, fizemos isso.
Licitamos e contratamos uma empresa especializada para estudos de mobilidade urbana e nos foi entregue no final do ano passado , e que está lá no meu gabinete. Infelizmente, em decorrência de todas as enchentes, isso não é uma desculpa, isso é uma realidade, uma verdade que todos nós enfrentamos, não só no município de Montenegro, mas em todo o estado do Rio Grande do Sul.
JI – O seu Plano de Governo, nota-se que ele é praticamente o mesmo da eleição de 2020. Que leitura pode ser feita disto?
Gustavo Zanatta – Se pudesse deixar um plano de governo para 16 anos, é o que eu deixaria, porque é o que município precisa para se restabelecer e chegar ao patamar que realmente merece. Nosso plano de governo tem ideias que podem ser colocadas em prática, de verdade, não são ideias faraônicas. Muitas delas não conseguimos desenvolver em decorrência de tudo que passamos. No plano de governo, temos inúmeras coisas que tiramos do papel e colocamos em prática e que a gente enxerga hoje.
O que está no plano é o que de fato conseguiremos conquistar, ainda vai faltar muita coisa porque é difícil tirar do papel e botar na prática, mas a gente sabe que tem condições e é possível fazer. Nosso plano de governo prevê ações que beneficiam toda a cidade, inclusive, os 26 bairros e o interior de Montenegro.
JI- O senhor já falou em várias entrevistas da situação que encontrou as escolas. Obras já foram executadas, tem obras licitadas e projetos sendo feitos. Mas pouco tem se falado sobre a qualidade do ensino. O desempenho das Escolas Municipais no IDEB, não tem evoluído. O que o seu governo fez para melhoria da qualidade de Ensino?
Gustavo Zanatta – A qualidade do ensino passa por inúmeros fatores, seja a qualificação, oferta de cursos para professores e propriamente a infraestrutura das escolas e qualidade de salas de aula para que os professores e os alunos possam se sentir melhores, mais organizados, e ter melhor entendimento da matéria.
Professores me relatam, por exemplo, que muitos alunos têm dificuldade de aprendizado devido à temperatura da sala de aula no verão. Quando assumimos 21 das 26 escolas municipais tinham problemas no telhado. Sempre tentamos ofertar qualidade, para os alunos e também para os professores. Contratamos uma arquiteta específica para projetos para as escolas. Conseguimos fazer inúmeras melhorias, hoje estamos com subestação de energia, com climatização e ar-condicionado em inúmeras escolas. Estamos fazendo isso e também qualificando os professores, através de cursos, para que possam melhorar esse índice, que realmente tem condições de ser melhorado nos próximos anos.
JI- O senhor prometeu um novo Plano de Carreira para o Magistério, com ampla discussão com a classe. Além de não fazê-lo, ainda tem aquela polêmica exclusão de um nível do PC. O senhor se sente confortável em pedir votos para os professores?
Zanatta – Temos sido injustamente acusados de acabar com o plano de carreira dos professores. Isso é mentira. Tive inúmeras conversas com os professores, tentando explicar a situação que aconteceu. Todos os nossos professores receberam aumentos superiores à inflação e todos tiveram os benefícios do plano de carreira.
Nada foi perdido. As promoções por tempo de trabalho, melhorias na formação, isso tudo não mudou naquela alteração que a gente fez. Quero deixar bem claro que o Bolsonaro fez uma lei para um aumento de 33,3% para os professores. Aqui em Montenegro tínhamos 14 professores abaixo do piso, numa média hoje de 560 professores. Nós temos aqui os níveis, nível 1, nível 2 e nível 3. O nível 1 que era os 14 professores que estavam abaixo do piso, deveriam receber esses 33%, só que existe uma lei municipal que faz com que o nível 1 seja vinculado ao nível 2 e ao nível 3. Então se eu desse 33% de aumento para aqueles 14 que estavam abaixo do piso, eu teria que, automaticamente, dar 33% para todos os 560 professores, o que acho injusto.
Foi quando nós enviamos para a Câmara o projeto de lei para desvincular o nível 1 do nível 2 e 3 para que a gente de fato pudesse dar os 33% para os 14 professores que estavam abaixo do piso.
Nenhum governo pagou tantas licenças-prêmio quanto o nosso. O salário dos professores de Montenegro está entre os maiores do estado. São pontos importantes que fazem entender que, por mais que possam ter alguns professores que ficaram tristes com essa decisão, eu não fiz por uma questão de querer arranjar briga, apenas entendi que o certo era fazer o pagamento àqueles 14 professores.
JI – No 1º Debate nas Eleições 2020 o senhor disse: “vou retomar a revisão do Plano de Carreira do Magistério, que está engavetado” – e apontou que os professores devem poder fazer seus planejamentos com horário em casa. O senhor mudou de opinião?
Zanatta – São pontos que já estamos organizando, caso reeleitos, para com diálogo conseguir construir tudo. Assim que reeleitos, queremos sentar e organizar, junto com os professores e diretores, essa aproximação e essa conversa para que a gente, sim, de fato reveja a questão do Plano, porque isso é importante para nós.
JI – Qual é a sua posição em relação à manutenção do Fundo de Assistência à Saúde?
Gustavo Zanatta – Existe uma preocupação muito grande em relação ao FAP e o FAS, com relação, principalmente, ao Plano de Carreira. Eles sabem disso. Eu sempre comentei com os servidores que se quiserem conversar, é só bater na porta.
JI – Também manifestou que iria fazer concurso público e que achava exagerado o número de CCs. Ao contrário da previsão que o senhor tinha, o número aumentou. Por que isso aconteceu?
Gustavo Zanatta – Atualizamos os dados, hoje, nós temos 1.655 funcionários públicos e, no levante total, desses, temos 103 CCs, cargos comissionados. Então, por aí afora, a oposição acaba mentindo para as pessoas para tentar desgastar a imagem da atual administração, dizendo que tem 300, 260, não, isso é uma mentira.
Temos 103 CCs e a soma de mais alguns cargos de função gratificada. Além do que a função gratificada é dada para o funcionário concursado. Então, de cargos comissionados, somente 103.
Quando assumimos, estávamos em meio a uma pandemia, não sabíamos como seria o comportamento das receitas dos anos seguintes, em virtude do grande impacto sobre a economia. Essa era uma preocupação, nunca fui contra o concurso público. No segundo ano avaliamos os projetos que teríamos que colocar em prática, também a questão do concurso público, se teríamos condições de fazer ou não.
Nunca dissemos que não iríamos fazer o concurso público. Enxergamos que sim, deve ser feito, até porque a gente precisa, principalmente na parte administrativa, de fiscal. A gente vai fazer concurso público, mas também quero deixar uma coisa bem clara, do concurso vigente que tínhamos quando assumimos, chamamos 88 pessoas que estavam a espera.
Hoje, de 1.655 funcionários, 103 são CCs, isso não dá nem 10%. E o mais importante disso tudo é que, independente do número de CCs ou de concursados, o importante é entregar resultado para as pessoas do município.
JI – Dos cargos existentes na prefeitura, no quadro, de 1.770, apenas 1.138 são supridos. Isso não demonstra a necessidade de concurso público?
Gustavo Zanatta – Se eu fizer o chamamento de 600 e tantas pessoas, vai estourar o índice, não tem como. É importante a gente entender que tem cargos importantes como auxiliar administrativo. Isso vai ser um dos principais pontos que a gente vai assumir agora na virada, caso reeleito, o administrativo vai ser um dos principais.
Fiscal também a gente vê necessidade, mas agora assim, num volume de 600 é impossível. Essa questão deve ser bem avaliada para sabermos quais são as principais necessidades, porque a gente vê, dentro do plano de carreira, até cargos que não existem mais. Calceteiro, por exemplo, isso não existe.
JI – Que medidas o seu governo vai adotar para mitigar os efeitos de novas enchentes?
Gustavo Zanatta – Temos vários eixos que podemos trabalhar. Por exemplo, o Plano Diretor, que está na Câmara, e deve ir à votação após as eleições.
Foi feita uma ampliação, porque agora enxergamos coisas que a gente nunca imaginou que aconteceriam na nossa cidade.
O que nós podemos fazer? O que a gente já está fazendo, desassoreamento dos arroios. No rio Caí não compete ao município de Montenegro, é governo estadual. Muitas vezes, as pessoas não entendem o que acontece. A gente cobra e está atento a tudo que o Governo do Estado vem apresentando, e também ao Governo Federal.
Foi aprovado o valor de R$ 14 milhões para a atualização daquele projeto de 2012, que temos para o município. Montenegro não é isolado, tem todos os municípios onde passa o rio Caí.
Resolver, não vai, é impossível resolver os problemas das enchentes, mas a gente consegue minimizar. Dentro do município a parte que nos compete, que é o desassoreamento dos arroios, nesse momento nós estamos fazendo.
JI – E a Defesa Civil a gente percebe que precisa ser melhor aparelhada. Isso está projetado?
Gustavo Zanatta – Sim, tanto para a Defesa Civil quanto o Corpo de Bombeiros. A nossa administração comprou um barco de R$ 180 mil para o Corpo de Bombeiros, além de roupas de neoprene.
JI – Em 2020 falava muito em resgatar a auto-estima dos montenegrinos. Qual é o mote que vai levar como bandeira principal num segundo mandato?
Gustavo Zanatta – O trabalho precisa continuar e o sentimento de pertencimento deve ser cada vez maior. Não quero mudar nada porque eu tenho certeza que o trabalho, da forma como está sendo feito, as pessoas estão percebendo que existe uma mudança muito grande e que a gente está no caminho certo. O que eu posso dizer como prefeito é o seguinte: dá para fazer muita coisa, ao contrário de muitos que passaram e não fizeram. Não quero olhar para o passado, quero olhar para frente.
JI – Temos um ano atípico, em que tivemos queda na arrecadação. O senhor vai conseguir fechar a conta?
Gustavo Zanatta: Vamos fechar a conta no positivo. E para o ano que vem a promessa de arrecadação é maior. Vamos ter que fazer muitos projetos, sabemos que temos muitas necessidades. A gente vai mudar a cidade.
JI – Qual foi seu principal aprendizado nestes 44 meses como gestor do Município?
Gustavo Zanatta – Entendi que quando temos pessoas boas, capacitadas, com vontade de trabalhar, somado a ideias para serem realizadas em projetos, consegue-se mudar a vida das pessoas.
Vamos fazer o Parque Centenário ser um dos mais bonitos do Estado. Isso é uma promessa minha, que sei que temos condições de fazer. Se tivermos a oportunidade de continuar, no final de 2028, vamos entregar uma cidade muito mais bonita.
JI – Porque votar em Zanatta e Braatz?
Zanatta- Apenas por uma questão de continuidade de inúmeros projetos e principalmente pela credibilidade de mostrar que tudo é possível de se fazer. As pessoas podem acreditar numa gestão transparente, de pessoas capacitadas, que termina pela primeira vez depois de muitos anos com o prefeito e vice de mãos dadas buscando trabalhar por mais quatro anos, diferente de todos que passaram e que brigaram.
Temos vários projetos que as pessoas irão perceber a partir de janeiro, o próximo ano vai ser um canteiro de obras. Nossa cidade tem potencial para crescer, a gente pede apenas a oportunidade para continuar no nosso trabalho.