Outubro Rosa: autoexame favorece diagnóstico precoce do câncer de mama

Chegou o Outubro Rosa! Este grande movimento popular é celebrado no mundo todo. O nome remete à cor do laço rosa que simboliza a luta contra o câncer de mama, estimulando a participação de todos os setores da população. A data, relembrada anualmente, tem o intuito de compartilhar informações sobre o câncer de mama e, mais recentemente, câncer do colo do útero, promovendo a conscientização sobre as doenças, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribuindo para a redução da mortalidade.

O câncer de mama é o tipo de tumor mais frequente em mulheres no mundo – e no Brasil -, depois do câncer de pele não-melanoma, e corresponde a 28% dos novos casos de câncer. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no Brasil 66.280 novos casos de câncer de mama, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres.

O câncer é a multiplicação desordenada de células em um determinado tecido de qualquer órgão do corpo e as causas são multifatoriais. Há os fatores comportamentais, reprodutores, hormonais e genéticos. Dentro destes, pode-se destacar o sedentarismo, obesidade e sobrepeso, consumo de álcool, menopausa após os 55 anos, primeira gravidez após os 30 anos, história familiar de câncer de ovário e caso de câncer de mama em homens na família.

Túlio C. F. Farret, ginecologista, obstetra e mastologista. Foto: arquivo pessoal

Túlio C. F. Farret, ginecologista, obstetra e mastologista montenegrino, destaca que a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia é que as mulheres comecem a realizar o exame de mamografia anualmente, a partir dos 40 anos de idade. Nas pacientes com histórico familiar (parentes de primeiro grau), a mamografia de rastreamento deverá iniciar 10 anos antes do caso na família. Imediatamente após o diagnóstico, a equipe médica deve estabelecer por qual etapa do tratamento a paciente irá iniciar. “As alternativas são quimioterapia, cirurgia, hormonioterapia e radioterapia. Em alguns casos, opta-se por iniciar o tratamento pela quimioterapia ou pela hormonioterapia antes da cirurgia”, diz.

Prevenção está ligada ao auto cuidado
Túlio ressalta a importância da prevenção desta doença que tanto acomete as mulheres. Segundo ele, hábitos saudáveis de vida são fatores de proteção para o câncer de mama: alimentação balanceada e moderada, prática de exercícios físicos, evitar o consumo abusivo de álcool e não fumar são exemplos. “Além desses fatores, sabe-se que a amamentação também é um fator de proteção, verificando-se que as mulheres que amamentam apresentam menos câncer de mama que as que não amamentaram”, destaca.

Considerando a alta incidência do câncer de mama, é importante ficar alerta aos sinais, já que a descoberta precoce é fundamental para o bom controle da doença. Tumores iniciais possuem uma evolução muito favorável, podendo chegar a mais de 95% de cura se diagnosticados e tratados precocemente. Muitas mulheres têm dúvidas quanto ao autoexame, por isso, Túlio adianta que ele é muito importante para que cada mulher possa conhecer seu próprio corpo e notar anormalidades.

Mas, fique atenta! “O auto exame não substitui a mamografia para a realização do diagnóstico precoce do câncer de mama, visto que ele detecta o nódulo em estágios mais avançados da doença”, explica. Ou seja, apesar de indicado para conhecimento geral, o auto exame não pode substituir consultas e exames com especialistas para saber se está tudo bem com a saúde da mulher.

Quando o câncer de mama já se encontra com manifestações clínicas, em 90% das vezes ele se apresenta como nódulo palpável na mama. Mas, existem outros quatro sintomas que também podem indicar a presença da doença, geralmente sinais inflamatórios que não respondem a tratamentos tópicos (cremes dermatológicos, por exemplo). São eles: retrações de pele e do mamilo que deixam a mama com aspecto de casca de laranja; saída de secreção aquosa ou sanguinolenta pelo mamilo, chegando até a sujar o sutiã; vermelhidão da pele da mama e pequenos nódulos palpáveis nas axilas e/ou pescoço. Outros sinais possíveis são a inversão do mamilo, inchaço da mama e dor local.

“Eu sempre mirei na cura, sei que este é o meu objetivo”
Regina Josiane Born, 43, é natural de Salvador do Sul, mas mora em Montenegro há pelo menos 20 anos, casada com Gilnei Freitas, mãe do Arthur, de 19 anos; está vivendo uma experiência que ninguém imagina passar. Foi através de um autoexame, no final de março deste ano, que Regina descobriu um câncer de mama. “Eu senti que tinha um caroço na minha mama direita que eu não estava acostumada, porque sempre faço o auto exame. Fui para a médica já na outra semana para tirar a dúvida. Ela me pediu exames adicionais, como de sangue, mamografia e ecografia, onde apareceu a possibilidade de ser câncer de mama. Então, já tive o encaminhamento para a biópsia através do Sistema Único de Saúde (SUS)”, relembra.

No dia 2 de maio, Regina já tinha o diagnóstico em mãos. “Quando eu tive o diagnóstico, eu não me questionei o porquê comigo; porque se tu fica pensando assim tu “desces ladeira abaixo” e para entrar em uma depressão é muito fácil. Quando eu descobri que era câncer, eu falei, ok, o que podemos fazer para resolver?”, conta. “Eu ter descoberto no início foi uma bênção. No momento que eu vi que tinha alguma coisa errada eu já corri”.

Regina, ao meio, na caminhada pelo Outubro Rosa deste ano, com colegas do Amigas do Peito

No dia 18 de junho ocorreu a cirurgia. Como ela não tinha metástase (quando as células cancerosas se soltam do tumor original, vão para outras partes do corpo e formam novos tumores), seu procedimento foi a quadrantectomia, que é a cirurgia que retira apenas parte da mama acometida pelo câncer, preservando o restante da glândula mamária. A cirurgia com preservação da mama foi possível graças ao diagnóstico precoce. “Se eu tivesse esperado muito, se tivesse se alastrado pelo meu corpo poderia ser pior. Tu nunca sabe o quão agressivo é o câncer no teu corpo”.

Atualmente, o tratamento ocorre na Oncologia Centenário, em São Leopoldo, onde faz quimioterapia intermediária, com seis ciclos e intervalo de 21 dias. “Fico enfraquecida, o cansaço é uma coisa que persiste, mas não é uma quimio tão agressiva. Como me preparei para o processo, eu já estava mais ciente disso. Para mim é uma vitória cada quimio que eu faço, é mais uma forma que eu tenho de me curar”, pontua.

“Eu quero viver, isso foi só mais uma coisa que me aconteceu e vai passar”
Regina diz que sempre se esforçou para levar uma vida saudável, tanto física quanto espiritualmente, além de não ter histórico da doença na família, assim, por não fazer parte do grupo de risco, pensou que não poderia ser câncer. “Mas eu não fiquei esperando e não me dei o tempo para ficar pensando sobre isso, sendo câncer, a única opção que eu tinha era lutar e me curar”, destaca. Muito determinada, ela relembra que nunca foi pessimista quanto ao seu processo. “Sempre procurei me manter calma e serena, porque por mais que a palavra câncer dá aquele significado de fim de vida, temos duas opções: ou a gente vive no sofrimento da doença, ou então se mantém forte e segue. Hoje em dia, quando diagnosticado cedo, a chance de cura é de 95 a 99%”, comenta.

Mas, também há os momentos em que um colo é o apoio necessário para se manter confiante, especialmente da família. “Tem dias que é bastante desafiador. Não quero romantizar o processo e dizer que são tudo flores, porque não são. A gente perde o chão quando sabe da notícia, mas aí é questão de tu saber onde quer chegar”, declara. Para Regina, pensar na cura é o gás fundamental para a batalha. “Eu sempre mirei na cura, sei que este é o meu objetivo. Algumas pessoas não conseguem expor quando passam por isso, mas eu vou me autocurando enquanto falo sobre isso e penso que sempre tem alguém que posso auxiliar falando sobre meu processo. Eu quero viver, isso foi só mais uma coisa que me aconteceu e vai passar”, confidencia.

Regina faz agradecimento ao grande apoio da família e amigos, especialmente do marido, Gilnei. Foto: arquivo pessoal

Regina destaca a importância da fé e do acompanhamento terapêutico. “Minha oncologista me falou uma coisa que eu estou levando muito a sério. A vida da gente é uma cama elástica, então, quando eu estou embaixo, eu faço um esforço para subir, e quando eu conseguir subir, eu aproveito muito. Nos dias que eu estou bem, faço minhas coisas, aproveito para estar com a família, amigos, passear e curtir a natureza”. conta. “Eu sempre mantive o pensamento para frente, mas vivendo um dia de cada vez, este é meu mantra. Não posso focar no que já foi e nem no que ainda está por vir, se não a ansiedade pega. É viver no agora com muita fé na cura”.

Regina, participante do Amigas do Peito desde o mês passado, soube através de amigas e conhecidas sobre o grupo e destaca que o apoio e a troca de experiência com pessoas que estão passando ou já passaram pelo mesmo processo é enriquecedora. “A Dra. Paulina [coordenadora do grupo] nos transmite paz, tranquilidade e muito acolhimento. Isso é tudo que tu precisa neste momento e as Amigas participantes do Grupo auxiliam muito no processo com seus exemplos de vida” destaca. Focada em sua cura, ela lembra que tudo mudou em sua vida, mas a causa é nobre. “O mundo parou, os projetos deste ano foram para a gaveta e a prioridade ficou sendo me cuidar. É difícil a gente se colocar como prioridade, mas eu me coloquei e eu estou em primeiro lugar neste período. Aos poucos, à medida que o tratamento vai passando, eu vou retomando meus projetos e a vida segue”, conclui.

Como fazer o auto exame?
O exame de mamas em casa pode ser feito em frente ao espelho, em pé ou deitada. Lembre-se: caso sinta algum nódulo ou mudança na textura ou tamanho das mamas, procure um médico ginecologista sem demora. Ele realizará o exame clínico de mama e poderá solicitar a mamografia. Siga as instruções para o autoexame:

Em frente ao espelho
– Posicione-se em frente ao espelho;
– Observe os dois seios, primeiramente com os braços caídos;
– Coloque as mãos na cintura fazendo força;
– Coloque-as atrás da cabeça e observe o tamanho, posição e forma do mamilo;
– Pressione levemente o mamilo e veja se há saída de secreção.

Em pé (pode ser durante o banho)
– Levante seu braço esquerdo e apoie-o sobre a cabeça;
– Com a mão direita esticada, examine a mama esquerda;
– Divida o seio em faixas e analise devagar cada uma dessas faixas. Use a polpa dos dedos e não as pontas ou unhas;
– Sinta a mama;
– Faça movimentos circulares, de cima para baixo;
– Repita os movimentos na outra mama.

Deitada
– Coloque uma toalha dobrada sob o ombro direito para examinar a mama direita;
– Sinta a mama com movimentos circulares, fazendo uma leve pressão;
– Apalpe a metade externa da mama (é mais consistente);
– Apalpe as axilas;
– Inverta o procedimento para a mama esquerda.

Amigas do Peito: o apoio que fortalece
Maria Paulina Hummes Polking, psicóloga, psicanalista e coordenadora do grupo Amigas do Peito, está à frente do grupo desde o seu início, há 15 anos. Ela afirma que, em primeiro lugar, a descoberta de um câncer de mama aciona a necessidade de uma ação de aceitação e enfrentamento. “Esta descoberta mobiliza muitos sentimentos que aparecem vinculados ao momento que a mulher está vivendo, sua individualidade e seu modo de viver”, explica. É aí que entra o essencial apoio emocional, que, segundo Paulina, traz maior leveza para todo o processo. “Uma vez que foi diagnosticado, é importante estabelecer um plano de tratamento e começar com confiança, esperança e mantendo o que é indicado. Tem luz no final do processo”, destaca.

“Sentir-se acolhida pela família e por seu meio social é fundamental, assim como ter um espaço para falar e pensar fortalece e muito a saúde emocional da mulher. Mas, falar em um espaço onde outras mulheres já viveram este momento oferece para cada mulher uma oportunidade de sentir-se compreendida”, destaca. É este o maior objetivo do Amigas do Peito: fortificar as mulheres que estão passando pelo processo do câncer de mama. Os encontros ocorrem quinzenalmente na Estação da Cultura. As interessadas podem entrar em contato através do número (51) 3649-8960, que também tem WhatsApp. Vale lembrar que o grupo é uma promoção da Unimed Vale do Caí, mas qualquer mulher pode fazer parte do Amigas do Peito gratuitamente e sem necessidade de inscrição.

Maria Paulina Hummes Polking, psicóloga, psicanalista e coordenadora do grupo Amigas do Peito

Tanto no grupo quanto em família, o apoio é fundamental desde os exames iniciais. “Cada caso é um caso, por isso, a importância de ser acompanhado e monitorado por uma equipe que está preparada. A família é um suporte, até com a compreensão de que a descoberta e o tratamento causam alterações importantes”, explica Paulina. Ela enfatiza a importância da divulgação do Outubro Rosa. “O objetivo é chamar atenção para a importância das atitudes de prevenção, mas, principalmente, para o diagnóstico precoce, a importância do autoexame e da consulta médica anual com realização dos exames de imagens solicitados”.

Lembre-se: quanto mais cedo o câncer for diagnosticado, muito maiores são as chances de cura. “Essas campanhas e movimentos do grupo Amigas do Peito têm fundamental importância para conscientização. Não visando o temor, mas o cuidado. Que a mulher possa vivenciar o tratamento como uma experiência na sua vida, onde ela vai aprender coisas e ter vivências para se fortalecer”, diz.

Onde surgiu o Outubro Rosa?
O movimento iniciou nos Estados Unidos, onde vários Estados tinham ações isoladas referente ao câncer de mama e mamografia no mês de outubro. Posteriormente, com a aprovação do Congresso Americano, o mês se tornou o mês nacional (americano) de prevenção do câncer de mama. A história do Outubro Rosa remonta à última década do século 20, quando o laço cor-de-rosa, foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, em 1990 e, desde então, promovida anualmente na cidade.

No Brasil, o Outubro Rosa demorou um pouco mais a chegar. O primeiro sinal do envolvimento com a campanha se deu em outubro de 2002, quando o Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, foi iluminado com luzes cor de rosa. Depois disso, o evento seguiu morno ano após ano. Somente em 2008 que a movimentação ganhou força em várias cidades brasileiras que abraçaram o Outubro Rosa, fazendo campanhas, promovendo corridas e, assim como no resto do mundo, iluminando os principais monumentos com a cor rosa durante a noite.

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