Passado o Outubro Rosa e sua grande campanha contra o câncer de mama, chegou o Novembro Azul, campanha iniciada em 2011 pelo Instituto Lado a Lado pela Vida. Ela é destinada a conscientização dirigida à sociedade, em especial aos homens, para o cuidado com as doenças masculinas, com ênfase na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. Mas vai além disso: visa incentivar a população masculina ao olhar atento com seu corpo e mente. O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele.
Segundo André Berger, urologista e coordenador do Núcleo de Cirurgia Robótica do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, a cada ano no Brasil, 65 mil homens são diagnosticados com o câncer. No Rio Grande do Sul, é um dos maiores Estados com incidência. Ele explica que o câncer de próstata é uma neoplasia maligna, ou seja, é o crescimento desordenado das células da próstata. Para ele, o mês é muito importante para educar os homens quanto ao assunto ainda considerado um tabu entre os mesmos. “Temos a oportunidade muito grande de detectar precocemente o câncer e de tratá-lo enquanto ele ainda está localizado apenas na próstata, o que aumenta a chance de cura e minimiza as consequências para a qualidade de vida dos pacientes”, explica.
Rastreamento e diagnóstico precoce
Para prevenir o câncer de próstata, ter uma alimentação equilibrada e saudável é fundamental. Desta forma, também previne o sobrepeso e a obesidade. Segundo Berger, a obesidade pode estar ligada a maior incidência de câncer de próstata assim como maior gravidade. Por isso, mantenha seu peso corporal adequado. A prática de exercícios físicos também é um método de prevenção muito importante. Ainda, não fumando e evitando o consumo de bebidas alcoólicas você também está prevenindo a doença.
Mas, ainda assim, a melhor forma de prevenção da doença é o rastreamento e o diagnóstico precoce. O Antígeno Prostático Específico (PSA), que é um exame de sangue, é usado principalmente para rastreamento do câncer de próstata em homens assintomáticos. É também um dos primeiros exames realizados em homens que apresentam sintomas que podem ser causados pelo câncer de próstata. Já o Toque Retal (exame de toque) se tornou popular por ser o mais indicado para identificar alterações que podem ser sinal de câncer de próstata, mas também pode avaliar diversas condições. O procedimento é rápido (dura em média 10 segundos), indolor e não traz riscos à saúde. Berger explica que, juntos, são fundamentais na avaliação inicial dos homens que estão avaliando a possibilidade do câncer de próstata.
Mas afinal, qual a diferença entre rastreamento e diagnóstico? O urologista explica que o rastreamento ajuda no diagnóstico. O rastreamento é feito com o PSA e o Toque Retal. “É importante realizar os dois porque em cerca de 15% a 18% das vezes, pode existir o câncer de próstata sem alteração no PSA, mas no Toque pode estar alterado”, afirma. Após isso, ocorre a investigação com biópsia, onde são retirados pequenos fragmentos que são mandados para o exame.
Tecnologia é grande aliada de todo o processo
Segundo o urologista, nos últimos anos e com ajuda da tecnologia, principalmente através da Cirurgia Robótica, o diagnóstico tem se tornado mais preciso. “Nós utilizamos uma modalidade de biópsia chamada biópsia com fusão de imagens. O paciente faz uma ressonância magnética da próstata. No momento da biópsia se faz uma ultrassonografia, uma ecografia transretal, em que as duas imagens são sobrepostas, fundidas. Assim, conseguimos direcionar melhor a agulha que vai retirar os pedacinhos da próstata. Com isso, detectamos com mais acurácia o câncer”, explica. Isso ajuda não só no diagnóstico, mas no planejamento do tratamento.
Apesar de fundamental, o diagnóstico precoce ainda é um tabu para os homens quando se trata do exame de Toque Retal, assim como o temor às consequências do tratamento associada com prejuízo funcional, ou seja: há o medo de disfunção erétil e incontinência urinária. Segundo Berger, é aí que entra a tecnologia que mudou drasticamente os resultados. “A cirurgia hoje é feita com cortes pequenos, de maneira eficiente, com pouco sangramento e a gente consegue curar o câncer na grande maioria das vezes e não prejudicar a função urinária e sexual”, afirma.
Segundo ele, no Hospital Moinhos de Vento, o programa do câncer de próstata é um dos maiores e mais respeitados da América Latina, com profissionais de excelência em todas as áreas. “Isso dá a segurança para podermos oferecer o melhor cuidado para os nossos pacientes e causar um impacto positivo para a sociedade”, destaca.
Fatores de risco, sintomas e tratamento
O urologista destaca que o principal fator de risco para o câncer de próstata é o histórico familiar da doença em parentes como pai, irmão, tio e primo. Outros cânceres na família também são fatores, como o de mama, colo do útero e pâncreas. Ainda, pacientes de raça negra tem mais probabilidade de desenvolver o câncer. De acordo com Berger, há indícios de que o consumo excessivo de carne vermelha, embutidos e gorduras aumenta o risco da incidência do câncer de próstata. O câncer de próstata é raro em homens com menos de 40, mas a chance aumenta rapidamente após os 50 anos. Aproximadamente 60% dos cânceres de próstata são diagnosticados em homens com mais de 65 anos.
A grande maioria dos pacientes com o câncer são assintomáticos, ou seja, não apresentam sintomas. “Quando o câncer de próstata está sintomático, muito provavelmente a doença já é metastática, ou seja, já está fora da próstata e de mais difícil controle”, alerta. Quando há sintomas, podem ser destacados dificuldade para urinar, sangue na urina ou no sêmen, vontade de urinar frequentemente à noite, disfunção erétil, dor óssea e fraqueza/dormência nas pernas/pés.
Segundo Berger o tratamento deve ser personalizado, baseado no potencial biológico do câncer e nas características individuais do paciente. O urologista explica que para o câncer de próstata localizado, se é pequeno e não tem potencial de malignidade, pode ser oferecido o tratamento focal, em que é tratado apenas um pedaço da próstata com energia que pode ser a ultrassonografia de alta frequência ou crioablação (que congela o câncer de próstata localizado). Também há a opção da radioterapia. Já quando está mais avançado, o câncer precisa de uma atenção mais multidisciplinar. Há o uso de medicações específicas e personalizadas que pode variar bastante.