Qual é a sua dor? O quanto ela incomoda você? É raro encontrar alguém nos dias atuais totalmente livre de dor sem fazer uso de medicamentos analgésicos. Um estudo realizado em parceria pela Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (Sbed), Universidade Federal de Santa Catarina, da Faculdade de Medicina do ABC e de uma clínica de tratamento da dor, apontou que pelo menos 37% da população brasileira, ou seja, 60 milhões de pessoas, sentem dor de forma crônica – persiste por mais de três meses. Na região Sul é ainda mais grave, onde os desconfortos contínuos alcançam 42% dos voluntários. Para o levantamento, foram entrevistadas 919 pessoas de todo o País.
Enfrentar a dor, descobrir como saná-la e encarar o tratamento – seja medicamentoso, por terapias alternativas ou cirúrgico – não é fácil. Mas há exemplos de quem conseguiu. Paloma Rossi, de apenas 21 anos, sabe bem o que é conviver com a dor. Por um tempo elas foram companheiras inseparáveis. Tudo começou em 2018. Paloma fazia aula de zumba e passou a sentir dor na sola do pé. Não parecia ser nada. Depois, descobriu-se que a origem da dor era bem mais antiga. Paloma nasceu com displasia coxofemoral e, ainda na infância, passou por uma cirurgia para corrigir o problema. “O que surgiu agora é provavelmente uma doença secundária. O médico acha que o osso foi desgastando aos poucos, ao longo dos anos. Mas há casos de quem passou pela mesma cirurgia anos atrás e não teve problemas depois. Depende de como o corpo reage”, narra Paloma.
Passada a fase de exames, descobriu-se que a osteoartrose, um desgaste no quadril, tinha como solução definitiva a cirurgia para a colocação de uma prótese. Porém, estas têm um prazo de validade, que, em 95% dos casos passa de 10 anos. Parece muito tempo, mas considerando a juventude da paciente, seria a certeza de que em duas décadas, no máximo, ter um novo encontro com a mesa cirúrgica. “Então o médico me sugeriu hidroginástica, remédio e fisioterapia. Que poderia reduzir a dor e retardar a necessidade da cirurgia”, conta Paloma. “Mas não foi o bastante”, completou.
Por a hidroginástica ser um exercício de baixo impacto que ajuda no fortalecimento muscular, fazia todo sentido à jovem, mas a dor não diminuiu. Ao contrário, com o surgimento de uma hérnia, as crises se tornaram mais intensas e corriqueiras. “Então tratei a hérnia e fiz o que chamam de ‘injeção de bloqueio’ para descobrir onde estava o problema. Por fim, o médico decidiu que era hora de partir para a cirurgia”, conta.
O pós-operatório não é fácil, mas vale o esforço
Quem ouve que a operação lhe deixou apenas três dias internada pode considerar que se trata de um pós-operatório simples. Não é bem assim. Em casa, por uma semana, foi obrigada a utilizar andador. Outras duas com muleta e, passados dois meses, a fisioterapia é parceira constante e seguirá assim por bastante tempo. “A cirurgia durou 1h30min, na qual o médico tira o osso desgastado e substitui pela prótese”, conta ela.
A operação também corrigiu a diferença de três centímetros que ela tinha a menos em uma das pernas. E isso faz “esticar” a musculatura. Será ótimo no futuro, mas causa muita dor até o corpo se adaptar. “Dói. Mas é uma dor temporária. E antes também doía muito. Chegou num ponto que eu tomava remédios muito fortes pra controlar a dor, com efeitos colaterais fortes, e não resolvia. Então eu preferia não tomar o remédio pra não ter o efeito colateral”, conta Paloma, esperando pelo fim completo das dores. “A glória será não ter mais dor nenhuma”, sonha a estudante.
Após ter feito aulas domiciliares durante o período mais crítico da recuperação, agora ela voltou a frequentar as aulas regulares na Ulbra, em Canoas, onde cursa publicidade. A vida começa a recuperar seu curso. “Me sinto bem. Mas estou me recuperando ainda. Não caminho muito e vou testando o quanto aguento”, completa Paloma. Na última quarta-feira, 16, ela pode voltar ao trabalho em uma agência de publicidade de Montenegro.
Coisas que ensinam
Quem conhece Paloma sabe que este não foi o único desafio na área da saúde que enfrentou, apesar da pouca idade. Quando os problemas no quadril iniciaram, ela comemorava um ano da cura de um câncer de ovário. Foi um banho de água fria. “Na parte prática não influenciou em nada. Falei à médica que acompanha e nada do tratamento do quadril interferiria no meu problema anterior. Eu já estava curada. Mas foi muito recente. Apesar de serem coisas diferentes, há um sentimento de ‘logo agora’”, conta ela. “Essas coisas te mudam de alguma forma”, reconhece ela. E a mudança a que se refere vai muito além da física. A cicatriz está longe de incomodar. “Fiquei com uma cicatriz do câncer, para a retirada do tumor. E tenho essa no quadril agora. Não vou ter raiva delas. Elas são do tratamento. Elas fizeram bem pra mim”, finaliza.