Passo da Serra. Prefeitura também não quer revitalizar acesso alternativo à comunidade
O cidadão Alcides Lopes Sarmento quer apenas que a estrada onde mora na localidade de Passo da Serra tenha saída. Na verdade, a Boa Vista, antigo acesso à comunidade do interior, tem uma saída, mas que está intransitável, limitando quatro famílias à entrada e saída por um único local. Em oposição à revitalização estão os moradores que têm suas propriedades voltadas de frente à RSC-287.
Sarmento mora há 22 anos no endereço, e garante que aquele pedaço do traçado antigo sempre foi trafegável, unindo-se à Estrada do Jacaré. O abandono teria iniciado após a construção da rodovia estadual, quando foi aberta a ligação atual – direta e mais curta – ao Passo.
Sarmento e seus vizinhos defendem que outras Administrações Municipais faziam manutenção da via pública, mantendo uma alternativa de acesso fora da rodovia, apesar de não haver moradores ao longo daqueles cerca de 100 metros. Outro fator é que o trecho onde vivem, apesar de estar em bom estado de conservação, é estreito. Com a largura de um caminhão, obriga visitantes a sairem em marcha ré. “Estes dias entraram três carros aqui. Quase se bateram”, exemplificou.
Esta argumentação é refutada pelos moradores que têm saída para a RSC-287, e que não querem circulação de estranhos pelos fundos de suas residências. E após os questionamentos do Ibiá à Prefeitura, o grupo organizou um abaixo-assinado com 27 nomes solicitando “que não haja modificação na estrada Boa Vista”. Datado do dia 27 de setembro e direcionado ao prefeito Gustavo Zanatta, o documento ainda firma o compromisso daqueles moradores em “fazer a manutenção da estrada”.
Saída original é questão de mobilidade
A família de Vera Behrens vive na última casa do trecho trafegável, onde abriram um ponto de manobra dentro do limite da propriedade. “Para facilitar para os vizinhos”, explica. Mas ela própria depende que veículos maiores saiam com agilidade. Na casa vive uma filha de 34 anos com problemas de saúde e respirando com ajuda de aparelho. Ela já precisou de socorro, e a ambulância ficou limitada à manobra ou saída de ré.
E Vera chama atenção para o perigo de um veículo sair de costas para a rodovia, pois o acesso é escondido e logo após a ponte. “É perigoso sair um caminhão de ré”, exemplifica a moradora que há 12 anos vive na Boa Vista. A entrada de veículos grandes para entrega de mercadorias ou realização de serviços também é lembrada pelo vizinho Marcolino Machado D’ Ávila.
“Vem um caminhão e entra outro atrás, ele já não pode mais sair”, ilustra o morador há 16 anos no local. A situação também interfere na coleta de lixo, que é feita apenas através de contêiner colocado na ligação com a rodovia. E, como apontaram os moradores, a reportagem presenciou um carroceiro usando a Boa Vista para evitar circular no acostamento da RSC-287.
Investimento não valeria a pena
As estradas do interior são responsabilidade de departamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural. O responsável pela pasta, Ernesto Kasper, diz, inicialmente, que qualquer reivindicação de melhoria em estradas rurais tem sido atendida. Mas, em relação à estradinha Boa Vista, o Município não vê benefício em reabrir o trecho não habitado, e para o qual a alternativa mais viável é a rodovia asfaltada. Segundo Kasper, seria trabalho e material investidos para em poucos dias o mato ter novamente tomado conta, devido à falta de circulação.
A Secretaria defende a vontade divergente da maioria, firmada no abaixo-assinado. Estes moradores, além de considerarem desnecessário reabrir o trecho sem casas, usam o argumento da segurança, pois a passagem junto aos quintais expõe suas vidas e patrimônio. “Ela é uma estrada que, para alguém fazer um desvio ali, tudo bem. Mas não vejo necessidade… então que vá investir em uma estrada que tem necessidade”, comentou Sergio Ávila, morador que tem saída pela rodovia e que assinou o documento.