O surto de toxoplasmose que atinge atualmente a cidade de Santa Maria, a cerca de 250 km de Montenegro, pegou todo o Estado de surpresa. Atualmente, é muito incomum uma localidade ter tantos registros da doença em um curto período de tempo. Já foram 51 casos confirmados na cidade, sendo sete em gestantes, situações consideradas graves por oferecer risco aos fetos. Outras 30 amostras ainda aguardam confirmação no laboratório. Em Montenegro, segundo a enfermeira Kátia Kern, da Vigilância em Saúde, são registradas pouquíssimas notificações.
A toxoplasmose, destaca Kátia, é uma doença de notificação compulsória somente nos casos de gestantes infectadas e toxo congênita. Em 2018 foi registrado apenas um caso desse tipo. “São realizados testes de toxoplasmose em todas as gestantes atendidas pela rede SUS. Para as pessoas que necessitam deste exame, é autorizado pela SMS de Montenegro”, garante Kátia Kern. Ela destaca ainda, porém, que 80% de toda população apresenta resultado de IGg reagente para toxoplasmose devido a, em algum momento da vida, ter se infectado com o parasita, e esse ficou a memória imunológica.
Através de orientações nas Unidades Básicas de Saúde e nas unidades de Estratégia de Saúde da Família, além de visitas domiciliares realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde são realizadas ações contra a doença. A toxoplasmose é uma enfermidade infecciosa causada por um protozoário, amplamente disseminada por todo mundo. Sua disseminação está vinculada a fatores como padrões culturais da população, hábitos alimentares, procedência rural ou urbana e a presença de gatos, entre outros.
Atenção com os alimentos consumidos
A toxoplasmose humana é considerada uma doença de origem alimentar. O consumo de linguiças, carne suína, rosbife, churrasco mal passado, embutidos crus, verduras e água contendo cistos do protozoário pode ser responsável pela alta prevalência de toxoplasmose em algumas regiões. Indivíduos vegetarianos podem ser infectados pela ingestão de alimentos como vegetais e águas contaminados com os cistos, bem como pelo contato de mucosas com terra, areia, ou qualquer objeto contendo resíduos de fezes de gatos.
Como ocorre a transmissão?
Os gatos e demais felinos silvestres abrigam o parasita no trato intestinal. Eles são os únicos hospedeiros completos do toxoplasma, pois apresentam todos estágios reprodutivos do seu ciclo. Os roedores, suínos, bovinos, ovinos, caprinos e aves e outros mamíferos selvagens, assim como o homem, são hospedeiros intermediários.
Porém, dificilmente os gatos seriam responsáveis por um surto. Em Santa Maria, por exemplo, a principal suspeita é de uma contaminação pela água. Por lá, os bebedouros das escolas foram interditados e as crianças estão sendo orientadas a levar água fervida para a água até que se tenha certeza da origem da contaminação.
O homem pode infectar-se por três formas. A primeira é a contaminação congênita, seja por vias transplacentária, transfusões e acidentes de laboratório, e possivelmente por transplantes. A segunda por cistos contaminados. Eles podem estar presentes em carnes consumidas cruas ou mal cozidas. Ou, ainda, devido a transplantes de órgãos que contenham cistos, sobretudo coração. Nesse caso é grave uma vez que o receptor de um órgão transplantado necessita tratamento imunossupressor, ficando mais vulnerável. A terceira forma é a transmissão através do solo, plantas, reservatórios de água mal protegido ou tanques de areia contaminados.
Perigo para gestantes
A toxoplasmose preocupa especialmente quando constatada em gestantes. Se a mulher é contaminada pela primeira vez com esse protozoário – por tanto sem ter anticorpos – durante a gravidez, ele poderá afetar o bebê. Cegueira ou atraso mental podem ser as consequências.
Fique alerta!
Toxoplasmose não é transmitida diretamente entre as pessoas. Os gatos excretam os cistos nas fezes durante 7 a 15 dias após a infecção. Já por água e solo a contaminação é viável por meses.
Principais fatores de risco
-Baixo nível socioeconômico e baixa escolaridade;
-Residir ou ter residido em zona rural ou suburbana;
-Presença de roedores no domicílio;
-Ausência de coleta pública de lixo;
-Consumo ou contato com carne crua ou mal cozida;
-Consumo de vegetais mal higienizados;
-Consumo de vegetais crus fora de casa;
-Consumo de ovos crus ou mal cozidos;
-Higiene inadequada das mãos e/ou utensílios no preparo dos alimentos;
-Beber água não fervida ou não filtrada;
-Manuseio do solo (jardim, horta, limpeza do pátio, brincadeiras em tanques de areia);
-Geofagia (hábito de comer terra ou barro);
-Contato com rio, lago, água de poço;
uContato com gatos;
uContato profissional com animais.
Fonte: Vigilância em Saúde