Fobia: quando dirigir se torna um problema

Mãos suadas que tentam, com muito esforço, segurar o volante. Palpitação e sentimento de impotência frente ao medo crescente. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet), dois milhões de brasileiros não dirigem por medo, em sua maioria mulheres, contabilizando 75%.

Maísa Krugmann tem Carteira Nacional de Habilitação há sete anos e pânico de pegar na direção. Foto: arquivo pessoal

Com a tão sonhada Carteira de Habilitação em mãos há sete anos, Maísa Krugmann, 29 anos, contribui com esse índice. Ela conta que só de pensar em dirigir o coração acelera e já começa a tremer.

O que era apenas uma insegurança, segundo ela, agravou-se após bater o carro no portão de casa, na última vez que tentou conduzir o veículo. Depois disso, a jovem relata que trava em frente ao volante.

“Meu marido quer muito que eu dirija, mas fico muito nervosa em pensar. Já tentei, inclusive, pegar o carro sozinha, mas fico tão nervosa que prefiro fazer as coisas a pé”, desabafa.

Com desejo de algum dia conquistar sua autonomia no trânsito, Maísa relata que chegou a pensar em procurar ajuda profissional para vencer a fobia. “Terapia, para ver se crio coragem. O ruim é que sempre dependo dos outros para poder ir em algum lugar mais longe”, declara.

A cabeleireira Raquel Hegner, 52 anos, também sofre com os sintomas desagradáveis da fobia de dirigir. Habilitada há três anos, Raquel afirma que o carro não sai da garagem se for ela quem precisar conduzir. “Vou trabalhar todos os dias a pé, porque eu sento no banco do motorista e tremo feito vara verde, parece que o coração vai saltar pela boca. Tirei a carteira, passei de primeira na prova, mas só de sentar em frente à direção, mesmo com o carro parado, fico em pânico de ter um ataque, suando frio”, descreve.

Suar frio e palpitação são alguns dos sintomas que a cabeleireira Raquel Hegner enfrenta ao sentar no banco do motorista. Foto: arquivo pessoal

Muitas vezes incompreendida pela limitação emocional, revela que nem mesmo a pressão do marido pode ajudá-la a vencer o medo. “Eu queria muito poder dirigir, porque faz muita falta na minha vida. Seguidamente preciso levar meu filho no médico, aí vou caminhando, chamo Uber. A caminhoneta está aqui, parada na garagem e sigo a pé, 20 minutos abaixo de sol, para trabalhar”, salienta.

No início, ao pegar a Carteira de Habilitação provisória, conforme conta, ser motorista não era um problema. Mas há um ano e meio desenvolveu o pânico. “Muitas vezes tirei o carro, estacionei do outro lado da rua da minha casa. Mas o coração fica muito acelerado, a ponto de quase perder o ar. Até volta ao normal, leva uns 15 minutos. É uma sensação de fobia mesmo, como medo de rato, cobra”, destaca.

O que é fobia?
De acordo com a psicanalista Adriana Bandeira, fobia é um termo utilizado como referência para algum tipo de medo. “A fobia, enquanto estrutura psíquica é uma forma de lidar com as questões da vida. Como todas as outras estruturas (neurose, psicose e perversão). Contudo, a fobia, especificamente, traz sofrimentos e sintomas muito limitantes, que podem ocasionar um grau de angústia que necessite tratamento”, informa.
Segundo Adriana, por tratar-se de pessoas, não é possível predeterminar o público mais propenso a desenvolver fobia. “Para cada sujeito, a formação ou estrutura psíquica vai estabelecer-se a partir das construções únicas, particulares”, destaca.

Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito, dois milhões de brasileiros não dirigem por medo

Fobia x angústia
De acordo com a profissional, na psicanálise, onde se lida com diagnóstico de estrutura psíquica, a fobia é considerada uma forma de lidar com as situações ou mundo. “Uma estrutura fóbica tem sintomas específicos que impõe ao sujeito limites para amar, trabalhar ou criar. O termo fobia, quando visto como transtorno, pode ser facilmente confundido com a angústia. Acredito que a maioria dos casos de medo em relação ao trânsito, diz respeito à angústia”, afirma.

Na fobia, conforme informa Adriana, o medo está ligado a um objeto, eleito pela pessoa, que, aparentemente, não parece fazer sentido, impondo limitações ao acometido. “Por exemplo, medo extremo do anoitecer, medo extremo de algum objeto ou animal. Esses medos como desencadeadores de uma crise de angústia. Contudo, muitas pessoas desenvolvem mecanismos opostos ao medo, como defesa. A insegurança traça dúvidas! O medo traz certezas, em se tratando de um medo patológico”, expressa.

Em relação ao trânsito, de acordo com a profissional, o medo não necessariamente trata-se de uma fobia. A angústi,a advinda do “dirigir” ou medo de transitar a pé ou de carro, precisa ser vista em cada caso específico, conforme orienta Adriana.
“A angústia é um sintoma importante que avisa, assim como uma febre, que algo precisa ser visto. Junta-se a isso, o contexto social em que o sujeito precisa dar conta de violências reais como se não existissem. O processo de análise está para aqueles que desejam saber de si.Isso inclui medos, desejos e angústias.A angústia faz buscar o tratamento”, conclui.

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