Etapas do câncer de mama: aceitação é primeiro passo para a cura

Dirceu Mauch, médico com grande influência na implementação do grupo de apoio Amigas do Peito, em Montenegro, relembra que “antigamente descobrir um câncer era quase que um sentença de morte, um atestado de óbito em branco, sem data. Mas sabiam que o desfecho era desfavorável”. Agora, com avanços científicos e tecnológicos, a maior parte dos pacientes sabe a realidade do seu diagnóstico. “Se pode fazer isso porque houve uma evolução muito favorável no diagnóstico e nos meios de tratamento, de modo que, junto com a notícia ruim, tem a boa, que é a possibilidade real de sucesso no tratamento. Então, junto, vem a dose de fé e esperança, os tratamentos mais terapêuticos que existem”, destaca.

Dirceu Mauch, médico montenegrino

Mauch ressalta que a frase mais utilizada pelos pacientes que descobrem um câncer é que seu mundo caiu, que ficaram sem chão. “O diagnóstico vem ligado a um forte impacto emocional e psicológico em todas as pacientes”, acrescenta. A partir daí, os pacientes com câncer de mama passam por algumas fases. Segundo o médico, a primeira é a de negação. “Eles falam que deve ter trocado o exame, que o exame deve ser de outra paciente, que o médico errou. Buscam uma forma de pensar que não é possível, que não é verdade”, afirma.

Logo, vem a fase da revolta, da raiva. “Pensam: por que eu? Por que comigo? O que eu fiz de errado? Pode ser uma revolta até mesmo contra Deus, se a pessoa tem alguma crença. Por que essa injustiça? Por que eu fui escolhido para isso? Por que eu mereci?”, salienta. Em seguida, vem a fase chamada de barganha, segundo Mauch. “A mulher passa a querer negociar com o médico, afirmando que não é tão grave assim, quase no processo de aceitação”.

Depois, é a vez da fase de resignação, não no sentido bom, mas em um momento que o paciente pode até mesmo chegar à desmotivação e depressão. “São pensamentos negativos, ideia de que não tem o que fazer, de que é o fim. A fase vem muito associada ao medo do desconhecido, do tratamento, da evolução”, enfatiza. Dirceu destaca que todo o processo de sofrimento em fases costuma terminar com a aceitação. “É aceitar a doença, não negar a sua existência, mas partir para o enfrentamento. É o que leva a pessoa para a fase da luta, de procurar recursos”, pontua.

Ele relembra que o câncer não se manifesta de mesma maneira em todas as pessoas, por isso, é preciso estar atento às fases. “Há aquelas pessoas que vivem muito menos, que jogam a toalha e não chegam à fase de aceitação, enfrentamento e luta, então se entregam”, diz. “Outras, lutam muito e se agarram em tudo que é racional e mágico, têm vontade de reagir e buscar alguma coisa. Essas são as que vivem muito mais tempo. Começam todos com a mesma doença, mas o desfecho é completamente diferente”, afirma. Daí vem a importância dos grupos de apoio.

Uma nova maneira de encarar a doença
Para Mauch, o grupo Amigas do Peito tem extrema importância por ser um espaço tão valioso para troca de vivências e informações, tendo a psicóloga Maria Paulina Polking à frente do movimento. O médico, que teve papel ativo dentro do grupo e segue acompanhando as ações até hoje, relembra a diferença das mulheres ao chegar no grupo e permanecer. “Chegava um certo momento que as mulheres que entravam depressivas, tristonhas e de cabeça baixa, assumiam uma posição de alegria, euforia e de estar de bem com a vida. Ocorria uma verdadeira transformação no modo de encarar e reagir frente à doença”, confidencia.

Além de servir de suporte e fortalecimento emocional para tantas mulheres em um momento de extrema fragilidade, o grupo acabou se tornando um espaço de informação. Mauch lembra que, desde o início, o grupo contava com palestras de especialistas de diversas áreas e rodas de conversa. “Era quase um cursinho sobre o câncer de mama para as mulheres ficarem informadas, tanto as que estavam em tratamento, quanto as que já estavam curadas e continuavam dando apoio para as mais novas. O foco já era a importância do diagnóstico precoce, do tratamento, mas com ênfase muito grande na prevenção, que tem diversos instrumentos”, ressalta.

Mauch ainda destaca que, com o passar dos anos, o grupo passou a ser também educador de saúde para a comunidade, marcando presença em carreatas, eventos educativos e até palestras com depoimentos de mulheres. “Esse trabalho elas assumem voluntariamente e com alegria. Mostram sua experiência de ter passado pelo câncer de mama e vencido com o conhecimento que foram tendo pelas oportunidades de conversas e mais essa vontade coletiva de ajudar, o que tornou o grupo um educador”, afirma. “Esse grupo foi uma iniciativa muito feliz da Paulina, que é uma entusiasta que gosta do que faz e passa esse entusiasmo adiante. Sempre que eu puder comparecer e ajudar, eu tenho alegria de fazer”, finaliza.

Rejane descobriu o câncer em 2013

“Não façam como eu, que esperei muito tempo”
Foi por meio do autoexame que Rejane Terezinha Rockenback, 52, de Pareci Novo, descobriu o câncer de mama, em 2013. Ao suspeitar da doença, pediu um receituário para mamografia, sem contar para ninguém ao seu redor. “Não queria fazer alarde”, diz. “Quando eu fiz o exame que me mostrou o câncer, eu cheguei em casa e guardei na gaveta de setembro até dezembro”, conta Rejane. Um dos motivos para esconder a doença foi o aniversário de 18 anos do filho. “Queria deixar ele comemorar. Chegou o Natal, comemoramos também. Fizemos até festa de final de ano, e eu quieta”.

Foi em 6 de janeiro quando foi ao médico atrás de tratamento. “Eu queria ver o que ainda podia fazer, porque o nódulo já era grande”. A partir daí, quando percebeu que o câncer estava avançado, Rejane estava disposta e preparada para fazer tudo que precisasse. A primeira quimioterapia foi a vermelha e ocorreu em abril, seguida de mais três. Depois, foram mais quatro brancas. Em 1º de outubro de 2014 ocorreu sua cirurgia. As radioterapias ocorreram até março do mesmo ano.

Rejane fez um book de fotos durante seu processo para servir de inspiração

O câncer já estava tão agressivo que Rejane perdeu seu cabelo. Ela relembra que em um certo momento começou a coçar, mesmo já curtinho, então ela decidiu tirar de vez, na Páscoa. Ela até chegou a fazer uma peruca com seu próprio cabelo, mas não se adaptou. Usava lenços por um tempo, depois, até mesmo estes ela dispensou. Rejane levou a perda do cabelo com bom humor. “No dia seguinte, no trabalho, perguntei porque estavam me olhando, então expliquei que o coelhinho da Páscoa não tinha palha pro ninho, então levou meu cabelo”, relembra entre risos.

Foi neste período que conheceu o Amigas do Peito, grupo do qual participa até hoje, principalmente pelo WhatsApp. “Eu acho muito importante porque só pode falar para as meninas novas quem já passou por isso. Neste grupo a gente ajuda muito com palavras, acolhimento e tirando dúvidas”, conta. Rejane diz que outra coisa que lhe ajudou muito, além do grupo, foi a espiritualidade. Ela ainda agradece por todo o apoio, suporte e força que recebeu da comunidade de Pareci, família (em especial a nora) e da floricultura em que trabalha.

Rejane conta que o pior momento foi o período em que deixou sua doença escondida, até que chegasse à aceitação e começasse a buscar ajuda. “Eu tive vontade de não começar um tratamento, de achar que tinha dado já para mim. Mas, eu olhava para meu filho, para minha família e eu pensava que não podia deixar de procurar ajuda. Se fosse por mim, eu estava desistindo“, afirma.

Ela deixa um conselho para as mulheres, incentivando o autocuidado. “Não pensem duas vezes para fazer o autoexame. Se apalpem e, se notarem alguma coisa de diferente, procurem um médico. Não façam como eu, que esperei muito tempo, de repente, se tivesse buscado ajuda antes, eu não precisaria ter passado por um processo tão agressivo“, enfatiza. Ela também reitera a importância da mamografia. “Vejo as pessoas dizendo que dói, mas eu já passei por quimioterapia, isso sim é terrível. Descobrindo no começo, teu tratamento não é tão agressivo e tu pode nem perder o cabelo, o que para muitas mulheres é a pior parte”, finaliza.

“Eu consegui aceitar, contei para a família, tive muito apoio”
Já Leocina Ferreira Prestes, 85, descobriu o câncer de mama em 2011. Ela conta que, em certo momento, se preocupou com algumas dores nas costas. Mesmo sem qualquer outro sintoma, ela recorreu ao hospital, onde, em check up, já soube da probabilidade de estar com a doença. Através de uma mamografia e exames complementares, soube que estava com um nódulo de três centímetros. Leocina lembra que, ao saber da doença, colocou na cabeça que precisava fazer o necessário, já que havia tido a sorte de descobrir o nódulo ainda pequeno.

Leocina está sempre presente nos eventos do Amigas do Peito

Para ela, o momento mais difícil foi quando, sozinha, aceitou que estava com câncer. “Eu consegui aceitar, contei para a família, tive muito apoio. A pior parte foi um dia, quando caiu a ficha de que eu estava com a doença. Sozinha em casa eu chorei bastante, fiquei pensando como eu, que já cuidei de tanta gente nessa vida, tive que ter o câncer. Mesmo assim, não me lamentei por muito tempo. Pensei que não era a primeira e nem seria a última a ter câncer de mama, então fui para a cirurgia e tratamento”, recorda.

No ano seguinte, em 2012, Leocina estava operada. Justamente por ter descoberto a doença no início, retirou apenas o nódulo e manteve a mama. “Me disseram no hospital que se eu tivesse demorado mais, talvez teria que retirar tudo”, conta. Foi no mesmo ano que Leocina descobriu e começou a participar do grupo Amigas do Peito. “Lá tem muitas mulheres que já passaram essa experiência, que na época eu estava passando. Desde lá nunca saí do grupo, onde levantei e hoje ajudo a levantar outras mulheres”, finaliza. Leocina manteve o tratamento por sete anos, residindo em Montenegro, mas se deslocando até São Leopoldo. Foram 30 radioterapias no total até chegar em 2019, quando acabou seu tratamento.

Maratá: evento alusivo ao Outubro Rosa e Novembro Azul
Mulheres e homens marataenses estão convidados para participar no dia 27 de um evento alusivo ao Outubro Rosa e ao Novembro Azul. A ação, promovida pela secretaria municipal de Saúde, acontece no Parque Municipal da Oktoberfest a partir das 13h.

A programação inclui conversa com orientações e informações sobre a saúde da mulher e do homem com a médica Luciana, agendamento de exames PSA e também atrações artísticas. O grupo de mulheres do Centro de Referência em Assistência Social (Cras) realizará uma apresentação, bem como o mágico Chris Keyne.

A tarde será finalizada com o lanche e distribuição de brindes aos marataenses que estiverem no encontro. Haverá transporte gratuito aos participantes. O roteiro será o mesmo realizado nos demais eventos promovidos pela secretaria. (ARH)

Últimas Notícias

Destaques