O 11º mês do ano marca o início da campanha do Novembro Azul. Aos moldes do que acontece anualmente com o Outubro Rosa, o movimento trata, principalmente, de diagnóstico precoce. No caso, referente ao câncer de próstata, o segundo câncer com mais incidência entre os homens. É neste sentido que toda a campanha foca no incentivo aos exames periódicos e ao reconhecimento da doença.
Com 32 anos de experiência na área de urologia no município, Waldir João Kleber ressalta a importância do movimento. “Nos anos oitenta, era raro entrar um homem no consultório para fazer exame preventivo, sem estar sentindo nada. A maioria, se vinha consultar, era porque sentia alguma coisa. Hoje, já 30% das consultas são por prevenção. Aumentou bastante, mas ainda tem muita gente que não faz”.
O médico explica que, sem a consulta, dificilmente se constata o câncer. Ao contrário do câncer de pele, que ocupa o primeiro lugar na incidência entre os homens, o de próstata não oferece sintomas externos claros, e, por isso, apresenta risco maior. “O paciente pode não sentir nada, e estar com a doença”, relata. A consulta preventiva se dá a partir de um exame de sangue, chamado de PSA, junto do exame de toque, onde o profissional verifica se existem áreas endurecidas na região da próstata.
Fazer a consulta uma vez por ano é suficiente. “Ela é uma doença que evolui lentamente, então no espaço de doze meses, se ela surgir, ela ainda vai estar numa fase inicial, permitindo que se faça a cirurgia” indica o doutor Kleber. A periodicidade é indicada para os homens a partir de 45 anos, pois não há registros de incidência em idade inferior a esta. O médico cita possíveis sintomas iniciais, como dificuldade para urinar e sangue na urina, mas afirma que estes também podem estar associados a outras doenças, reforçando a necessidade do exame.
Cirurgia cura, mas tem consequências
Atualmente, a cura para o câncer de próstata é a cirurgia para retirada da região afetada. “É uma cirurgia aberta. Se faz uma incisão abdominal, se tira a próstata, as vesículas seminais e o tecido ao redor. Daí, se faz uma ligação da bexiga direto com a uretra”, explica Kleber. Como é na próstata que grande parte do liquido seminal é produzido e são nas vesículas seminais onde os espermatozóides ficam armazenados, a cirurgia acarreta no fim da ejaculação do paciente e na consequente infertilidade. Não há nenhuma relação disso com a ereção, então o indivíduo pode continuar tendo relações sexuais.
O procedimento cirúrgico, no entanto, não é recomendado para todos os casos. Como aponta o médico, a lentidão no desenvolvimento da doença pode levar à escolha, em algumas situações, por tratamentos que diminuam as ações dela no organismo, sem a efetiva cura. “Em pessoas que tem muita idade, depois dos 80 anos, por exemplo, para a doença que está em fase inicial não se indica mais cirurgia. Na maioria desses casos, não é isso que vai causar a morte da pessoa, porque ela não tem expectativa de vida para ter consequências graves desse câncer”, coloca.
Novembro Azul é tendência mundial
O mês da campanha foi escolhido porque é, tradicionalmente, no dia 17 de novembro em que se comemora o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. Enraizado na Austrália em 1999, o movimento iniciou com um grupo de amigos que, em apoio à conscientização da saúde masculina, deixou o bigode crescer durante todo o mês. Por isso que, hoje, é o bigode que representa o símbolo da campanha.
A iniciativa do grupo australiano se espalhou rapidamente em todo o país e, logo, pelo restante do mundo. Em alguns lugares ela recebe o nome de “No Shave November” (Novembro sem barbear), que segue a ideia inicial de um mês todo sem tirar o bigode e a barba, levantando a curiosidade como forma de chamar atenção da população sobre o exame regular a partir dos 45 anos.
Quem trouxe a campanha para o Brasil foi o Instituto Lado a Lado pela Vida, em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia. Com grande engajamento, uma série de atividades são realizadas no decorrer do mês. Em Montenegro, seguindo o padrão dos anos anteriores, algumas iniciativas serão oferecidas pela Secretaria Municipal da Saúde. O órgão deve estar divulgando, nos próximos dias, toda a sua programação.
Hábitos saudáveis ajudam, mas não há definição de prevenção
Especialistas indicam hábitos saudáveis – como manter uma dieta saudável, rica em frutas e verduras; praticar atividades físicas regulares; controlar o peso; diminuir o consumo de álcool; e não fumar – ajudam na diminuição dos riscos da doença. Não há, no entanto, uma definição, de fato, do que se pode fazer para prevenir o câncer de próstata. “Tem fatores de risco, mas eles não são únicos”, coloca o urologista Kleber. “Por exemplo, o consumo de carne vermelha é associado com o aumento de risco de ter câncer de próstata. Mas não tem, assim, uma clareza.” Ele reforça, novamente, que o que se pode fazer é o exame preventivo para posterior tratamento.