Tremor, rigidez muscular, lentidão de movimentos, desequilíbrio postural, alterações na fala e na deglutição. Esses são alguns dos problemas causados pela Doença de Parkinson. A enfermidade degenerativa está relacionada à escassez de produção de dopamina cerebral – substância química/neurotransmissora produzida nas células cerebrais. O transtorno de saúde é mais comum em pessoas acima dos 60 anos. Porém, em alguns casos, pode se manifestar em indivíduos com menos de com menos de 21, inclusive crianças.
O parkinsonismo primário divide-se ainda em: juvenil (antes dos 21 anos); de início precoce (entre 21 e 40 anos de idade), DP com tremor predominante (DP benigna) e DP com instabilidade postural e distúrbios de marcha (DP maligna). Em geral, o tratamento é semelhante ao dos pacientes idosos.
A doença de Parkinson tem caráter universal. Pode acometer homens e mulheres, brancos e negros, ricos e pobres. No mundo inteiro, a estimativa é de existirem cerca de 10 milhões de pacientes. No Brasil, são cerca de 300 mil portadores.
No parkinsonismo secundário, há uma causa específica ou reconhecida por condições suspeitas, como infecções, medicamentos, hidrocefalia, acidentes traumáticos, neoplasias e condições hereditárias. O neurologista do Hospital Montenegro, Carlos Augusto Adamy, destaca o fato de a doença juvenil ser rara. No entanto, o médico atendeu o caso de uma menina de 9 anos, natural de Capela de Santana. “Esta criança foi referenciada para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, naquela oportunidade, pois esta instituição era referência no atendimento de pacientes com Parkinson Juvenil. Infelizmente, perdi o contato com a paciente e familiares”, lembra o médico.
Os casos podem ocorrer esporadicamente ou por causa genética, aponta Adamy. “É mais comum no Japão, porém está sendo reconhecida em outros países mais frequentemente. Os pacientes com Doença de Parkinson juvenil têm sintomas semelhantes aos mais velhos, mas tem incidência mais alta de movimentos distônicos (involuntários) nos membros inferiores”, revela.
O médico salienta, ainda, a necessidade de apoio e cuidados especiais dos pacientes com o problema, em especial dos parentes. “A repercussão da doença de Parkinson num ser humano altera consideravelmente seu bem-estar e capacidade de viver. O caráter crônico da doença não poupa e exige envolvimento da família, na prestação de assistência e cuidados de que o paciente necessita”, reforça.
Atividades para enfrentar os sintomas
Dércio Sangalli, 66 anos, descobriu a Doença de Parkinson há 15. Segundo ele, o problema de saúde apareceu após o divórcio com a ex-esposa. “Fiquei tenso, nervoso, não consiga ficar parado, ia para a casa e só chorava. Eu me separei e nunca mais consegui dar a volta por cima”, lamenta. Quando os sintomas começaram, buscou ajuda médica e logo foi diagnosticado.
Sangalli conversou com a reportagem na Casa de Amparo Mão de Deus, onde mora há cinco anos. Estava sentado em um dos sofás do saguão da instituição, concentrado na televisão, uma das atividades favoritas dele. Não fosse o leve tremor nas duas mãos e a fala um pouco lenta e volume baixo, seria difícil notar a doença dele.
Uma das dificuldades é levantar e deitar, tarefas para quais precisa de auxílio dos profissionais da Casa. Para se locomover, usa uma bengala e, vez por outra, uma cadeira de rodas. Contudo, não vai sentado. Fica de pé, a empurrando como apoio. “Tem uns dias que nem bengala uso”, garante, orgulhoso.
Na TV assiste de tudo, com preferência para as partidas de futebol. Gremista não ficou muito contente ao saber o time do repórter (Internacional). “Fazer o quê? Um não pode viver sem o outro”, pondera. Além da televisão, está na rotina atividades físicas. Em especial, pedalar na bicicleta ergométrica. “Faço todos os dias, caminhar não gosto muito. Também jogo boliche aqui todas as quintas”, acrescenta. Natural de Encantado, Dércio vive em Montenegro há cerca de 30 anos.
Quem também tem a doença e reside no Mão de Deus é Constante de Freitas Xavier, 79. “Procurei um médico porque estava com as mãos tremendo e com dor de cabeça”. Além desses sintomas, tem problemas para comer. Natural de São Gabriel, gosta de fazer desenhos e pinturas com a artesã, além de fisioterapia. Outra atividade é trabalhar na horta elevada para facilitar o acesso dos residentes, inclusive dos cadeirantes.
Mão de Deus tem 10 pacientes com o problema
Dez pacientes com Doença de Parkinson residem na Casa de Amparo Mão de Deus atualmente. Desses, metade está em estado de demência total e os outros apresentam graus distintos d da doença. Por isso, necessitam de cuidados diferenciados.
Em geral, uma das maiores preocupações da equipe é quanto à alimentação. Devido à rigidez de músculos, eles começam a ter dificuldade para deglutir. Passam da dieta normal para alimentos pastoso, evoluindo ao ponto de quase ser líquida. Alguns precisam de auxílio, pois não conseguem mais segurar os talheres com as mãos sozinhos. Outro cuidado é quanto à locomoção, pois quedas podem levar a fraturas.
A responsável técnica pela instituição, enfermeira Liliane Cruz, também destaca a necessidade de ser trabalhada a questão psicológica e das emoções. “Muitos fatores agravam os sintomas, isso é nítido para nós. Tem dias que, quem conversar com eles, não vai notar que têm Parkinson, estão tranquilos. Em outros dias, se recebem alguma notícia ruim da família, por exemplo, apresentam tremor”, explica.
Eles têm trabalhos específicos de fisioterapia, educação física, desenhos e pinturas, entre outras atividades. “A ideia é proporcionar a melhor sobrevida possível. Dentro das limitações deles, temos que tentar estimular. Nunca podem se sentir inferiorizados, pois isso vai piorar a doença”, salienta. Neste contexto, é importante sempre convidar os residentes para participarem das diferentes atividades em grupos desenvolvidas na instituição.
Também incentivar ao máximo a independência deles e o convívio familiar.
A Associação Beneficente Casa de Amparo Mão de Deus foi fundada em 15 de dezembro de 2009. A instituição possui capacidade instalada para atendimento a 89 idosos.
O descobridor da doença
No mundo, a data de lembrança da Doença de Parkinson é 11 de abril, em virtude da comemoração de nascimento do descobridor do problema de saúde, o cirurgião James Parkinson (11/04/1755). Em 1817, com a publicação de um artigo científico do médico, a doença começou a ser descrita e estudada com mais propriedade.