Diabetes: mantenha hábitos saudáveis e evite a doença

Carolina Leães Rech, chefe do Serviço de Endocrinologia da Santa Casa de Porto Alegre

14 de novembro é o Dia Mundial do Combate ao Diabetes. Dados da Federação Internacional de Diabetes revelam que o número de pessoas com a doença aumentou em 74 milhões, totalizando 537 milhões de adultos no mundo em 2021. No Brasil, as estimativas mais recentes somam 16,8 milhões de pessoas com a doença, cerca de 7% da população. Carolina Leães Rech, chefe do Serviço de Endocrinologia da Santa Casa de Porto Alegre explica que o diabetes é uma doença que ocorre quando há falta da ação (resistência) ou da produção (deficiência) de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que é responsável pelo aproveitamento da glicose como energia para nosso corpo. A insulina atua como uma “chave” que abre as portas das células do corpo para que a glicose entre. Quando não há insulina, a glicose não consegue entrar nas células para produzir energia e se acumula no sangue.

O diabetes melittus (nome oficial) é uma doença inicialmente silenciosa em adultos, por isso é importante realizar controle periódico da glicemia (taxa de glicose no sangue). Os sintomas típicos aparecem quando os níveis de glicemia atingem valores próximos a 200mg/dL. Segundo Carolina, destaca-se o excesso de urina (rins aumentam o funcionamento tentando eliminar o excesso de glicose junto com grande quantidade de água). “Isso gera desidratação de graus variados e sede excessiva, perda de peso, aumento da fome, cansaço, tontura, visão embaçada e formigamentos”, pontua. Mas, há como prevenir a doença.

Tipos de diabetes
•Há vários tipos de diabetes. Os mais conhecidos são o tipo 1 e o tipo 2. Segundo Carolina, a diabetes tipo 1 é uma doença autoimune (defeito no sistema imunológico que produz anticorpos que atacam o pâncreas), que faz com o que o pâncreas pare de produzir insulina. Ele corresponde de 5% a 10% do número total de casos e é comumente diagnosticado na infância.

•Já o diabetes tipo 2, que corresponde a 90% dos casos, é multifatorial com interferência genética (risco maior em pacientes com história familiar). Geralmente se desenvolve a partir de hábitos não saudáveis, principalmente alimentação não adequada, sedentarismo e excesso de peso. “Neste tipo, o pâncreas até produz insulina, mas o corpo cria resistência a sua atuação, que não dá conta de metabolizar a glicose que acaba se acumulando no sangue”, explica.

•Mas, ainda existem outros tipos, como o diabetes mellitus gestacional. Este ocorre quando a alteração da glicose é descoberta a primeira vez na gestação. Outros, são decorrentes de defeitos genéticos associados com outras doenças ou com o uso de medicamentos.

•Os sintomas em comum entre o diabetes tipo 1 e 2 são, além vontade excessiva de urinar, fome e sede frequentes. Mas, existem sintomas específicos para cada uma. Para o tipo 1, os sinais são também fraqueza, fadiga, mudanças de humor, náusea e vômito. Do tipo 2, há infecções frequentes na bexiga, rins e pele, feridas que demorar para cicatrizar e visão embaçada.

Tenha uma alimentação equilibrada
Conforme Carolina, manter hábitos saudáveis é a melhor forma de ficar longe da diabetes e de outras doenças que podem ser consequência. Por isso, mantenha uma alimentação equilibrada, rica em vegetais e moderada em gordura e açúcares. A dieta é um ponto crucial para prevenir diabetes, pois está relacionada à quantidade de carboidratos ingeridos. Pessoas que usam carboidratos complexos (pão, macarrão, arroz, etc) e simples (doces, guloseimas, etc) de forma incorreta são mais propensas a desenvolver diabetes. Além disso, realize a manutenção de peso corporal e trate sobrepeso e obesidade.

Pratique exercícios físicos
O sedentarismo é uma condição em que o indivíduo não pratica nenhum exercício físico, comprometendo, no geral, a saúde física e mental. Especificamente em relação à prevenção de diabetes, o sedentarismo está diretamente relacionado ao acúmulo de gordura visceral. Outra dica da profissional é a prática de exercícios regularmente. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza 1h de exercício diário para crianças e adolescentes e 150 minutos por semana para adultos”.

Fotos: Freepik

Evite álcool e cigarros
Evitar o abuso de bebidas alcoólicas e não fumar também é uma ótima maneira de prevenção, já que álcool e cigarro agravam o risco de desenvolvimento da doença.

É importante destacar que não existe limite seguro de uso do cigarro. Portanto, a melhor estratégia é eliminar totalmente esse comportamento da rotina.

Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é feito através de exame de sangue com medida da glicemia (taxa de glicose no sangue) e hemoglobina (exame que mostra a média dos últimos três meses da glicose no sangue). Carolina explica que o diagnóstico de diabetes é feito na presença de sintomas com valores de glicemia acima de 200mg/dL; pacientes sem sintomas com duas glicemias maiores que 125mg/dL; realização do teste oral de tolerância a glicose, em que o paciente toma líquido concentrado com glicose e coleta o exame 2h após com valores maiores que 199mg/dL, ou, ainda, valores do exame de hemoglobina glicada (HbA1C) maior que 6,4%.

Quanto ao tratamento, Carolina destaca que os pacientes que apresentam diabetes tipo 1 precisam de injeções diárias de insulina para manterem a glicose no sangue e valores considerados normais. “Não existem comprimidos de insulina, pois não é possível absorvê-la, uma vez que os ácidos do estômago a destroem. Atualmente, também temos novas tecnologias com dispositivos de bomba de infusão contínua de insulina e pâncreas artificial”, diz.

Mas, pacientes com tipo 2 em fases mais avançadas também podem necessitar insulina, segundo a profissional. “Existem diversos medicamentos orais e injetáveis usados conforme caso. A consulta com médico especialista em endocrinologia é fundamental na escolha da melhor medicação caso a caso”, acrescenta. Para este tipo, o tratamento costuma ser feito com medicamentos antidiabéticos que podem atuar tanto aumentando a produção de insulina no pâncreas, melhorando a sensibilidade do organismo à insulina, diminuindo a produção de glicose pelo corpo ou mesmo diminuindo a absorção de glicose na alimentação.

Cuidado: diabetes acarreta outras doenças
Quando uma pessoa não sabe que possui diabetes ou por algum motivo não segue o tratamento, outras doenças começam a surgir. Carolina explica que o corpo fica mais suscetível a infecções e inflamações que, devido às altas taxas de açúcar no sangue, podem evoluir rapidamente. O pé diabético é uma delas. Se trata de uma pequena ferida que pode evoluir rapidamente e, no pior quadro, até mesmo levar a amputação. Carolina também cita a doença arterial periférica, que reduz o fluxo de sangue para os pés e ocasiona a redução da sensibilidade devido aos danos que a falta de controle da glicose causa aos nervos. “Estas duas condições fazem com que seja mais fácil sofrer com úlceras e infecções, que podem levar à amputação”, salienta.

No entanto, a maioria das amputações são evitáveis com medidas simples de cuidados regulares de examinar diariamente os pés, principalmente entre os dedos; utilizar calçados adequados; evitar andar descalço; inspecionar e palpar o interior dos sapatos antes de calçar; não cortar calos ou verrugas e não tirar cutículas ou cantos das unhas.

Outra doença que pode ser consequência do diabetes é a neuropatia. “Pode cursar com perda de sensibilidade, levando a machucados que o paciente não percebe, pois não sente dor, ou com hipersensibilidade, sensação de dor e formigamentos nos pés e nas mãos”, destaca. Doenças renais também podem ocorrer, levando a perda de funcionamento renal com necessidade de hemodiálise ou transplante de rim.

Carolina ainda destaca doenças de risco com diabetes não tratadas retinopatia diabética, que pode começar aos poucos, mas levar à perda de visão pouco a pouco, chegando à cegueira; doenças cardiovasculares, pois pessoas com diabetes têm maior risco de sofrerem infartos, derrames cerebrais e insuficiência cardíaca; doença gastrointestinal e disfunção sexual em homens e mulheres, devido a altas taxas de glicose, lesões nos nervos, depressão e propensão a infecções genitais.

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