Criado pela World Heart Federation (WHF), ou, em português, Federação Mundial do Coração, o Dia Mundial do Coração, 29 de setembro, é uma data escolhida com foco em chamar a atenção da população sobre a necessidade de conscientização e incentivo aos cuidados da saúde cardiovascular. A data se tornou oficial em 2000 e desde então, no dia, instituições de diversas áreas promovem ações com medidas que ajudam a orientar sobre os cuidados fundamentais para garantir um futuro com qualidade de vida. Além disso, a data tem objetivo de alertar a sociedade acerca dos perigos das doenças cardiovasculares e riscos de possíveis ataques.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), as doenças cardiovasculares, afecções do coração e da circulação, representam a principal causa de mortes no Brasil. São mais de 1.100 mortes por dia, cerca de 46 por hora e uma morte a cada 1,5 minutos. O órgão ainda relembra que as doenças de coração causam o dobro de mortes que aquelas devidas de todos os tipos de câncer juntos; 2,3 vezes mais do que todas as causas externas (acidentes e violência); três vezes mais do que as doenças respiratórias e 6,5 vezes mais que todas as infecções incluindo até mesmo a AIDS.
A Sociedade estima que até o final deste ano, 400 mil cidadãos brasileiros morrerão por doenças do coração e circulação. Até o dia 28 de setembro deste mês, o número de mortes por doenças de coração no Brasil era 298.970. É por isso que o alerta, prevenção e tratamento adequado dos fatores de risco e das doenças em si podem reverter esta grave situação que se agrava a cada dia.
Mude seu estilo de vida
Carisi Polanczyk, chefe do serviço de cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, destaca o principal meio de prevenção: ter o controle dos fatores de risco. Dentre eles está o tabagismo, hipertensão (pressão alta), diabetes melitus, doenças que afetam os lipídios, dislipidemia, colesterol elevado e histórico familiar. Apenas o último é um fator que não tem como prevenir ou atuar contra. Uma dieta saudável, com alto teor de proteína de origem vegetal, frutas, legumes e carne de peixe são ótimas opções para prevenir doenças de coração.
“Estes alimentos estão relacionados a uma menor chance de desenvolver problemas cardíacos. Além disso, ingestão baixa ou moderada de álcool e atividade física aumentada também são fatores protetores”, destaca. Carisi relembra que existem também doenças relacionadas ao sistema imunológico, como lúpus, artrite reumatóide e HIV, que potencializam o aparecimento da doença cardiovascular.
O cardiologista montenegrino Gerson Antônio Reis da Silva ainda acrescenta como fatores de risco a obesidade, sedentarismo e o estresse. Ele explica que a prevenção é o fator mais importante para evitar o estabelecimento das doenças cardiovasculares. Por isso, destaca como método de prevenção a atividade física. Segundo o Ministério da Saúde, apenas 30 minutos de caminhada pelo menos três vezes por semana já é benéfico ao coração. Gerson também alerta para a alimentação adequada. Dentro do possível, abandone ou reduza a ingestão de gorduras, frituras, excesso de açúcar, massas, pães e alimentos industrializados. Ainda, dê preferência as carnes brancas.
Outro ponto fundamental é o cuidado com o colesterol alto, um dos principais fatores de risco para o aparecimento de doenças cardiovasculares. Por isso, realize exames e saiba como está o seu. Ter esta informação é essencial para calcular seu risco cardiovascular, o que também pode ser o empurrãozinho necessário para que você mude seu estilo de vida e adote hábitos mais saudáveis.
Em seguida, Gerson enfatiza a importância do controle da pressão arterial. A pressão alta é uma das consequências do excesso de sal na dieta e é uma das mais importantes causas modificáveis de morte por doença cardiovascular precoce. Portanto, é essencial controlar a quantidade de sal durante o preparo das refeições e também tomar cuidado com os alimentos processados ou ultraprocessados, incluindo os doces, pois estes também levam sal na composição. “É importante também a espiritualidade, ter uma mente saudável”, destaca o cardiologista.
Principais doenças cardiovasculares
Carisi Polanczyk ressalta que as principais doenças do coração no Brasil são as que afetam também os países desenvolvidos. “Estão relacionadas à doença isquêmica do coração, doença ateroesclerótica, cardiopatia hipertensiva, que seria a hipertensão não controlada, que pode se manifestar também como síndromes de insuficiência cardíaca e arritmias cardíacas”, exemplifica. Cada uma tem seus fatores de risco individuais.
Segundo ela, em populações mais jovens, as doenças congênitas e as doenças infecciosas, especialmente as virais, têm uma expressão maior. Já em indivíduos idosos, na faixa de 80 e 90 anos, as doenças valvulares aparecem com maior frequência. “Quando se soma o fator de vulnerabilidade social, doenças como a febre reumática, que a gente não vê tanto no país, ainda são uma preocupação, assim como a doença de Chagas”, diz.
O cardiologista Gerson Antônio Reis da Silva lembra também do infarto do miocárdio (ataque cardíaco) e angina no peito, além das doenças valvulares. Os sinais do infarto do miocárdio, segundo o profissional, contam com dor no peito de forte intensidade acompanhada de sudorese e tontura. Já a angina no peito é sinalizada por dor no local durante um esforço com duração de alguns minutos, que alivia com o repouso.
No geral, Carisi pontua que os sintomas que sempre remetem são dor no peito ou dor torácica, que pode ser uma dor em aperto, uma dor em fincada. “Pode acontecer um mal súbito, relacionado à sudorese, mal estar, mas eventualmente em um caráter progressivo e crônico, que a gente chama de angina do coração (angina pectoris)”, explica. A médica ainda destaca falta de ar, sensação de sufocamento, cansaço e inabilidade de fazer as atividades físicas do dia a dia. “Em alguns casos mais extremos, a pessoa não consegue dormir durante a noite, ela sente falta de ar e inchume nas pernas, nos membros inferiores”.
Outro conjunto de sintomas que pode estar relacionado às doenças do coração são as arritmias e palpitações, percepção do batimento cardíaco diferente. “Em alguns pacientes, as arritmias podem se manifestar como perda de sentido, desmaios, que a gente chama de síncopes ou alteração da consciência”, acrescenta.
Pressão Alta
A pressão alta é uma doença crônica que afeta 25% da população brasileira e está associada à gênese dos demais problemas de saúde cardíacos. É uma doença silenciosa, pois nem sempre apresenta sintomas específicos. No geral, é caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias, quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (14 por 9).
Por isso, o diagnóstico deve ser feito com a medição frequente dos níveis de pressão arterial. É causada, na maioria das vezes, pelo excesso do consumo de álcool, cigarro, alimentos com muito sódio, sedentarismo e excesso de peso. Os sintomas da hipertensão costumam aparecer somente quando a pressão sobe muito. Podem ocorrer dores no peito, dor de cabeça, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaçada e sangramento nasal.
Cardiopatia isquêmica
Ocorre quando existe redução ou interrupção da circulação de sangue em uma, ou mais artérias do coração, conhecidas como coronárias. Neste sentido, o maior problema é que o quadro pode evoluir sem a presença de sintomas, passando por casos com dor torácica e até infarto agudo do miocárdio ou ataque cardíaco. Por conta da diminuição do fluxo de sangue nas coronárias, ocorre uma lesão no músculo do coração, o que pode resultar em redução da força de contração ou de bombeamento e até mesmo em parada cardíaca e morte. Alguns dos sintomas são dores fortes no peito, palpitações cardíaca sensação de queimação no peito, falta de ar, dificuldade para respirar, vômitos e palidez.
Aterosclerose
A aterosclerose é o acúmulo de placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias. Esses depósitos dificultam a passagem de sangue dos vasos, o que chega a causar infartos, derrames e até morte súbita. Pode ser desencadeada pelo excesso de colesterol na corrente sanguínea, o que ocasiona uma reação inflamatória no endotélio, uma capa celular que reveste as paredes internas das artérias. É nesses pontos que começam a nascer os ateromas, as placas.
Ao longo dos anos, formam-se mais e mais camadas, congestionando o trânsito sanguíneo. Alguns sinais de que você pode estar com a doença são arritmia cardíaca, câimbra, aumento da pressão arterial, fadiga e palpitação.
Insuficiência cardíaca
É caracterizada pela diminuição do fluxo de sangue bombeado do coração para o restante do corpo. Com isso, o volume é insuficiente para atender todas as necessidades de oxigênio e nutrientes do organismo. Por conta disso, podem ocorrer limitações na realização de atividade da rotina. Em geral, a insuficiência pode ser resultado de hipertensão arterial sistêmica maltratada ao longo de anos ou de cardiopatia isquêmica com danos severos ao músculo do coração. É uma doença progressiva, podendo ter sérias implicações para a pessoa, devido à restrição física, arritmias e até morte súbita. Os sintomas incluem falta de ar, inchaço nos pés e pernas, falta de energia, tosse com muco espumoso ou catarro, confusão e abdômen inchado ou mole.
Infarto
O infarto do miocárdio, ou ataque cardíaco, é a morte das células de uma região do músculo do coração por conta da formação de um coágulo que interrompe o fluxo sanguíneo de forma súbita e intensa. A principal causa do infarto é a aterosclerose. Na maioria dos casos o infarto ocorre quando há o rompimento de uma placa, levando à formação do coágulo e interrupção do fluxo sanguíneo, o que leva, ainda, a diminuição da oxigenação das células do músculo cardíaco (miocárdio).
O infarto pode ocorrer em diversas partes do coração, depende de qual artéria foi obstruída. Em casos raros o infarto pode acontecer por contração da artéria, interrompendo o fluxo de sangue ou por desprendimento de um coágulo originado dentro do coração e que se aloja no interior dos vasos. O principal sintoma do infarto é dor ou desconforto na região peitoral, podendo passar para as costas, rosto, braço esquerdo e, raramente, o braço direito. O desconforto costuma ser intenso e prolongado, acompanhado de sensação de peso ou aperto sobre tórax. Outros sinais são suor excessivo, palidez e alteração na frequência cardíaca.
