Na próxima segunda-feira, 14, é comemorado o Dia Nacional do Cardiologista, data estabelecida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em 2007, a fim de valorizar este profissional e relembrar a importância da saúde do coração. O dia lembra a população que deve manter o acompanhamento médico com exames para o coração. Ao realizar consultas e exames periódicos, é possível conhecer os níveis de pressão arterial, taxas de colesterol, triglicérides e outros importantes indicativos para a saúde. Dessa forma, o médico pode identificar alterações e ajudar na prevenção do desenvolvimento de doenças cardiovasculares, além de tratar algumas pré-existentes, iniciando tratamento precoce. Por isso, falamos com um dos grandes cardiologistas de Montenegro, Paulo Casani, sobre o assunto.
Casani adianta que a principal doença que os cardiologistas atendem é a hipertensão, ou seja, pressão alta. Segundo ele, cerca de 30% da população é hipertensa. A hipertensão arterial, ou pressão alta, é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias. Ela acontece quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9).
“A hipertensão é silenciosa, não dá sintomas, geralmente as pessoas descobrem ela porque têm casos na família ou verificam a pressão em postos de saúde, em hospitais”, afirma. Segundo o Ministério de Saúde, o problema é herdado dos pais em 90% dos casos, mas há vários fatores que influenciam nos níveis de pressão arterial, como os hábitos de vida do indivíduo. A pressão alta é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de acidente vascular cerebral, enfarte, aneurisma arterial e insuficiência renal e cardíaca.
A segunda condição destacada por Casani é a cardiopatia isquêmica. Esta é uma doença causada por obstrução nas artérias coronárias (vasos que levam sangue para o coração) devido ao acúmulo de placas de colesterol que pode levar ao infarto do miocárdio ou até insuficiência cardíaca. A cardiopatia uma doença silenciosa. Em quase metade dos casos a primeira manisfestação da doença é a morte súbita ou infarto agudo do miocárdio. Por esta razão, são importantes os “check-ups” e exames preventivos para que a doença seja detectada e tratada antes de causar danos irreversíveis. “O único sintoma que acontece em doença isquêmica é dor no peito, chamada de angina, que é uma dor atrás do externo, na frente do peito, e que às vezes é irradiada pela mandíbula e às vezes pela face interna do braço, que ocorre normalmente aos esforços ou grande emoção, com duração de cinco minutos mais ou menos”, explica.
Já a terceira, conforme Casani, é a própria insuficiência cardíaca, o famoso coração fraco. Ele explica que ela ocorre geralmente após uma cardiopatia hipertensiva ou cardiopatia isquêmica, o que a longo prazo enfraquece o coração, levando-o a ficar insuficiente, por isso o nome. Ele destaca que podem ocorrer diversos sintomas como falta de ar, inchaço nas pernas, intolerância ao esforço e sudorese fria.
De onde vêm as doenças cardíacas e como prevení-las?
Casani afirma que muitas vezes, maus hábitos de saúde ou alterações genéticas de familiares são determinantes para o surgimento das doenças de coração. “Por exemplo, uma família propensa à hipertensão tende a ter mais membros com pressão alta na família, e a hipertensão leva muitas vezes essas outras doenças cardíacas”, acrescenta. Ele também cita a diabetes, doença com um forte componente hereditário e tão séria quanto a hipertensão. Outro fator é o tabagismo. “É tradição familiar do cigarro. Às vezes o pai fuma, a mãe fuma, os filhos fumam também e isso leva a problemas tão sérios quanto as outras duas. Então tem os componentes familiares e alguma tendência hereditária”, resume.
Mesmo com tendência familiar ou maus hábitos, tem como prevenir estas doenças e proteger seu coração. “Por exemplo, a hipertensão, se tratada desde jovem, a tendência é que se tenha uma vida normal como qualquer outra pessoa que não seja hipertensa”, diz. Por isso, a prevenção serve para todas as doenças cardiovasculares, ou seja, prevenindo-se dos fatores de risco: tabagismo, obesidade, sedentarismo, aumento de colesterol e triglicerídeo, aumento de pressão e etc.
Proteja seu coração
Diga não ao cigarro
Fumar é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Os produtos químicos presentes no cigarro podem danificar o coração e os vasos sanguíneos, levando a um estreitamento das artérias e, consequentemente, ao infarto. O monóxido de carbono na fumaça dos cigarros substitui parte do oxigênio no sangue, aumentando a pressão arterial e os batimentos cardíacos, forçando o coração a trabalhar mais para fornecer oxigênio suficiente.
Pratique exercícios
Os exercícios físicos ajudam a controlar o peso e melhoram a circulação sanguínea. Atividades como natação ou caminhada, por exemplo, devem ser praticadas durante 30 a 60 minutos, de duas a três vezes por semana. Outras atividades como jardinagem, limpar a casa, subir e descer escadas ou passear com o animal de estimação também ajudam a reduzir o risco de doenças cardiovasculares.
Saúde começa pela boca
Para prevenir o aparecimento de doenças do coração, é importante evitar ou reduzir o consumo de alimentos com gordura saturada ou gordura trans, que são os dois tipos de gordura prejudiciais à saúde. Evite ou diminua o consumo de carnes vermelhas, queijos gordurosos, molhos, embutidos, frituras, doces, refrigerantes, temperos e margarina. Aumente o consumo de frutas, vegetais, soja, linhaça, abacate, peixes, nozes, azeitonas e azeite de oliva.
Controle o peso
O excesso de peso é um dos principais vilões do seu coração, pois está associado à pressão arterial elevada, colesterol alto ou diabetes, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, como derrame ou infarto. Para verificar se você está no peso ideal, calcule o índice de massa corporal (IMC), que deve estar 18,5 e 24,9 Kg/m2
Controle a pressão arterial, o colesterol e a diabetes
Pressão arterial elevada, colesterol alto e diabetes podem danificar o coração e os vasos sanguíneos. Eles aumentam o risco de infarto, AVC ou insuficiência cardíaca, por exemplo. É importante manter a pressão arterial normal, ou seja, até 139 x 89 mmHg. Já o colesterol total deve ser inferior a 200 mg/dl e a glicemia, isto é, o açúcar no sangue em jejum inferior a 99 mg/dL.
De olho no colesterol!
O colesterol é uma gordura considerada essencial para o bom funcionamento do organismo. Entretanto, quando atinge níveis elevados, ele se deposita nas paredes internas das artérias, evoluindo para obstrução parcial ou total dos vasos, tornando-se a principal causa do AVC. Existem dois tipos dessa gordura: o bom, chamado de HDL; e o colesterol ruim, denominado LDL. Enquanto o bom tem a função de encaminhar o colesterol ruim ao fígado, para que ele seja metabolizado e eliminado do organismo, o ruim é famoso por levar o acúmulo de placas de gordura nas paredes internas das artérias, reduzindo a passagem do sangue para os órgãos, o que leva ao surgimento de doenças cardiovasculares como infarto e derrame, por exemplo.
Estresse leva a sérios problemas
O cardiologista Paulo Casani ainda sinaliza para um assunto importante e cada vez mais frequente para a população: o estresse. “Está se tornando uma doença endêmica, principalmente pós-pandemia, quando aumentou muito o nível de ansiedade da população”, afirma. Ele explica que a ansiedade muitas vezes conduz a doenças cardiovasculares, quando o estresse se torna muito alto. Então, para evitar o estresse, são medidas fáceis e muito simples que devem ser adquiridas, mas que são deixadas de lado na correria do dia a dia. Bons hábitos alimentares, rica em vegetais, legumes e frutas reduzem a ansiedade, assim como exercícios físicos.
Outro ponto crucial é a saúde em ambiente de trabalho. Casani pontua que não ter uma carga excessiva de trabalho é fundamental. “Tenha intervalos durante o trabalho pra relaxar. Por exemplo, sente-se alguns minutos no seu trabalho e coma uma fruta, olhe o horizonte. São coisas simples, mas quando realizadas, reduzem bastante o estresse. Tem pessoas que trabalham continuamente, sem parar, isso induz o estresse, é uma coisa cumulativa. Quanto mais tempo de trabalho, tempo excessivo, vamos dizer, maior o estresse”, declara. Além disso, o estresse pode fazer com que o coração bata mais rápido, fazendo com que artérias e veias fiquem mais duras, diminuindo o fluxo de sangue. Desta forma, procure levar uma vida mais tranquila. Também recorra a massagens, técnicas ou exercícios de relaxamento, como o yoga.
Diagnóstico e tratamento
Casani diz que os diagnósticos mais comuns ocorrem através de eletrocardiograma, teste de esforço e ecocardiograma. Existe ainda o mapeamento de pressão e o Holter, que é um eletrocardiograma de 24 horas, feito de maneira domiciliar. “Esses são exames que a gente tem disponíveis por aqui. Depois disso, se a gente tiver que investigar mais, tem ecocardiograma de estresse, ressonância nuclear magnética cardíaca, angiotomografia de coronárias, sintilografia meocárdica, que a gente tem empregado muito mais frequentemente do que alguns anos atrás”, explica. Segundo ele, os convênios dão direito a esses tipos de exames que são mais sofisticados.
Se for necessário, ainda, existe o cateterismo cardíaco, que é um exame invasivo. Mas, vale ressaltar que o procedimento todo depende de cada caso e o que o médico vai optar, a melhor escolha pro paciente. Depois disso, o paciente faz regularmente exames de laboratórios, porque em muitos casos, a pessoa não tem um tipo de problema de saúde, tem problemas associados. “Por exemplo, o aumento de colesterol é muitíssimo comum na população. Então, às vezes, a pessoa tem hipertensão, mas tem problema de colesterol junto”, exemplifica. O tratamento segue a mesma linha, pois depende de cada doença e comportamento da mesma. Além do repouso para não forçar o coração, pode ser necessário o uso de antibióticos, antifúngicos ou antivirais. Medicamentos para combater a pressão alta, diuréticos e betabloqueadores também podem ser indicados como tratamento pelo médico, a depender de cada caso e do envolvimento mais grave do coração.
Alimentos ultraprocessados são vilões para o coração
Os alimentos ultraprocessados incluem vários tipos de guloseimas, bebidas adoçadas com açúcar ou adoçantes artificiais, pós para refrescos, embutidos e outros produtos derivados de carne e gordura animal, produtos congelados prontos para aquecer, gelatinas artificiais, produtos desidratados (como misturas para bolo, sopas em pó, “macarrão” instantâneo e “tempero“ pronto), e uma infinidade de novos produtos que chegam ao mercado todos os anos, incluindo vários tipos de salgadinhos de pacote, cereais matinais, achocolatados, barras de cereal e bebidas energéticas, entre muitos outros. Isso tudo pode trazer problemas sérios para o coração.
Casani afirma que alimentos ultraprocessados têm ação sistêmica sobre o corpo, ou seja, não tem ação apenas sobre o coração. “Eles envelhecem o sistema como um todo, mas muitas vezes estiveram em outras partes antes de afetar o coração”, diz. Ele exemplifica com o uso de agrotóxicos utilizados nas plantações. “A gente vê afetar vários tipos de pacientes, mas principalmente a parte neurológica e hepática. Eu já vi intoxicações cardíacas por agrotóxico, mas é muito raro atingir o coração, tem que ter atingido o resto do organismo de modo violento”, explica. Ele alerta que estes alimentos têm muito conservante, o que é um deletério para a saúde, causando até mesmo câncer e justamente os distúrbios e degenerações hepáticas e neurológicas ainda mais do que a parte cardíaca.