Desde 1998, o 1º de dezembro é, oficialmente, o Dia Mundial de Luta contra a AIDS, do inglês, Acquired Immunodeficiency Syndrome, em português, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. A data foi instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), cinco anos após a descoberta do vírus que causa a doença, chamado HIV, o vírus da Imunodeficiência Humana. Naquela época, 65,7 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas com o vírus e 38 mil já tinham falecido. A iniciativa se consolidou e até hoje o dia é marcado com uma campanha global que combate o preconceito, a desinformação e o estigma que ainda existem à cerca da doença.
Eliana Wendland, médica epidemiologista e pesquisadora do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, diz que a importância da data reservada para este fim está em chamar a atenção de todos para a epidemia de AIDS em curso no Brasil e no planeta. “Conscientizar sobre a prevenção e o tratamento para desmistificar o assunto ajuda a acabar com o preconceito em relação àquelas pessoas que são portadoras de HIV, além de dar o acesso amplo às informações para quem precisa”, destaca.
O HIV ataca o sistema imunológico, que é encarregado por defender o organismo humano de doenças. O vírus é capaz de entrar na célula e se replicar com o próprio processo natural de multiplicação celular do organismo. Eliana explica que, após se replicar, o vírus destrói os linfócitos e busca outros linfócitos para dar sequência a infecção, deixando o indivíduo cada vez mais vulnerável a infecções.
Como prevenir a doença?
Apesar de a forma mais comum de transmissão ser por meio do sexo sem proteção, há também a transmissão da mãe para o bebê, por transfusão sanguínea com sangue contaminado, acidentes com agulhas infectadas ou por compartilhamento de agulhas na administração de drogas intravenosas. Ou seja: para que alguém seja infectado, o vírus precisa entrar em contato com o sangue. Abaixo, veja as principais maneiras de evitar a doença.
Contato sexual: preservativo é essencial
A camisinha (preservativo) continua sendo o método mais eficaz para prevenir muitas doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a AIDS, em qualquer tipo de relação sexual, seja anal, oral ou vaginal, seja homem com mulher, homem com homem ou mulher com mulher. Embora o preservativo masculino seja o modelo mais conhecido e de uso mais disseminado, as mulheres também têm a opção de utilizar a camisinha feminina. De qualquer modo, a camisinha deve ser usada do começo até o fim de qualquer relação sexual. Lembre-se: nunca utilize o mesmo preservativo mais de uma vez.
Cuidado ao utilizar materiais perfuro-cortantes
Devido à possibilidade de se transmitir o vírus HIV durante o compartilhamento de objetos perfuro-cortantes que entrem em contato direto com o sangue, é indicado o uso de objetos descartáveis. Caso contrário, a utilização de objetos como lâmina de depilação, navalhas e alicates de unha devem ser esterilizados seguindo a esterilização simples, ou seja, fervendo, passando álcool ou água sanitária. É importante destacar que os objetos cortantes e perfurantes usados em consultórios de dentista, estúdios de tatuagem e clínicas de acupuntura também correm o risco de estarem contaminados. Portanto, exija e certifique-se que os materiais estão esterilizados e, se são descartáveis, sejam substituídos.
Drogas injetáveis: não compartilhe seringas
O uso de drogas injetáveis e o compartilhamento de seringas é uma das principais formas de transmissão do vírus HIV. Durante o contato do sangue soropositivo, a seringa é contaminada e a reutilização da seringa por terceiros é também uma forma de contagio do vírus, já que pequenas quantidades de sangue ficam na agulha ou seringa após o uso. Se outra pessoa usar este objeto, o sangue será injetado em sua corrente sanguínea. Por isso, os usuários de drogas injetáveis também precisam tomar alguns cuidados, como ter materiais de uso próprio (seringa, agulha, etc) e não compartilhá-los com outros usuários; não reutilizar as agulhas e seringas, além de descartar os instrumentos em local seguro, dentro de uma caixa ou embalagem.
Transfusão de sangue segura
O contágio de diversas doenças, principalmente do vírus HIV, através da transfusão de sangue e da doação de órgãos tem contribuído para que as instituições de coleta selecionem criteriosamente seus doadores e adotem regras rígidas para testar, transportar, estocar e transfundir o material. Estes procedimentos estão garantindo cada vez mais um número menor de casos de transmissão de doenças através da transfusão de sangue e da doação de órgãos. Atualmente, apenas pessoas saudáveis e que não façam parte dos grupos de risco para adquirir doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue, como Hepatites B e C, HIV, Sífilis e Chagas, podem fazer a doação de sangue.
Prevenção da transmissão vertical
A transmissão vertical ocorre quando a criança é infectada durante a gestação, parto, e em alguns casos durante toda amamentação. Assim, é de suma importância que toda mulher grávida faça o teste que identifica a presença do vírus HIV. Se o exame for positivo, a gestante vai receber tratamento adequado para evitar a transmissão para o filho na hora do parto.
A gestante soropositiva recebe, ao longo da gravidez e no momento do parto, medicamentos indicados pelo médico. Até as seis primeiras semanas de vida, o recém-nascido também deverá fazer uso das drogas. Como a transmissão do HIV de mãe para filho também pode acontecer durante a amamentação, através do leite materno, será necessário substituir o leito materno por leite artificial ou humano processado em bancos de leite que fazem aconselhamento e triagem das doadoras.
Sintomas
Eliana Wendland, médica epidemiologista e pesquisadora do Hospital Moinhos de Vento, explica que na primeira fase, chamada de infecção aguda, ocorre a incubação do HIV, no tempo que decorre entre a exposição ao vírus até o surgimento da doença. “Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebido”, alerta.
A próxima fase é marcada pela forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus. Segundo ela, este período pode durar muitos anos e é chamado de assintomático. “Com o frequente ataque, as células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns. Os sintomas que normalmente aparecem nesta fase são febre, diarréia, suores noturnos e emagrecimento”, acrescenta.
Logo, a baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo, segundo Eliana. “Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a AIDS. Quem chega nesta fase, por não saber da sua infecção ou por não seguir o tratamento indicado pela equipe de saúde, pode sofrer de hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer”, destaca a profissional.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou por fluido oral. No Brasil, existem os exames laboratoriais e os testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos. Esses testes são realizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).
Após o diagnóstico, o tratamento para a infecção pelo vírus HIV é feito por meio de medicamentos antirretrovirais (ARV) que impedem a multiplicação do vírus no organismo, ajudando a combater a doença e a fortalecer o sistema imunológico, apesar de não serem capazes de eliminar o vírus do organismo. Esses medicamentos são fornecidos gratuitamente pelo SUS independente da carga viral que a pessoa possui. Os primeiros medicamentos ARV surgiram na década de 1980.
Já existem muitos estudos com o objetivo de descobrir a cura da infecção pelo HIV, no entanto ainda não existem resultados conclusivos. Porém, é importante seguir o tratamento indicado para que seja possível diminuir a carga viral e aumentar a qualidade de vida da pessoa, além de também diminuir o risco do desenvolvimento de doenças que muitas vezes estão relacionadas com a AIDS.
Desmistificação da AIDS
Apesar de a doença existir a séculos e ser cada vez mais estudada e abordada em instituições e casas de saúde em campanhas, ainda existem diversos mitos e preconceitos a cerca da AIDS. Eliana relembra que são várias as opções equivocadas das pessoas sobre a transmissão da doença. Atenção: abraçar, ter contato com a pele, lágrimas, suor, saliva, respirar em um mesmo ambiente, dividir itens de alimentação, compartilhar uma fonte de água potável, usar equipamentos comuns na academia, tocar em um assento de vaso sanitário ou em uma maçaneta não transmite o vírus HIV, portanto, não causa AIDS.