AGRICULTURA. Estresse hídrico de setembro matou mudas, e retarda o plantio e a colheita
Delícia do verão e presença confirmada em algumas mesas na ceia de Natal, a Melancia será outro cultivo em Montenegro prejudicado pelo excesso de chuva que cai sobre o Sul do Brasil. Quem plantou “no cedo” viu as mudas morrerem no campo e precisou replantar; e quem aguardou deverá colher mais tarde do que o previsto. Mas, qualquer projeção é incerta, pois tudo depende do comportamento clima.
O chamado estresse hídrico foi causado pela ocorrência de ciclones extratropicais a partir de julho; mas, sobretudo em setembro, quando, segundo o Escritório da Emater-Ascar/RS as precipitações somaram 477 milímetros. A média normal em 30 dias é de 180 mm, sendo que a mais elevada havia sido em setembro de 2018, com 291 mm. Muitas culturas agrícolas foram abaladas, inclusive os citros.
No caso da Melancia, os produtores ficaram com mudas paradas nas estufas, esperando um período de calor e sol predominante, clima ideal para essa fruta. O extensionista rural da Emater Valmir Michels alerta que ainda é cedo para fazer projeções em relação à quebra de safra ou queda na qualidade, pois essas são dependentes do comportamento do tempo.
A probabilidade mais certa é de aumento do preço da fruta ao consumidor devido a elevação nos custos de produção. O primeiro elemento que compõe este cálculo é o tratamento fitossanitário, cuja aplicação de agrotóxicos precisou ser ampliada para combater fungos que proliferam com a umidade. O segundo é a adubação em cobertura, refeita após ser carregada pela erosão ou pela absorção acelerada no solo encharcado.
Um efeito prejudicial devido ao radicular desta planta ser superficial e não profundo. Michels explica que o efeito de retirada de nutrientes do solo (lixiviação) é ainda mais acentuado no terreno inclinado que, em geral, é escolhido pelo agricultor para se valer do efeito gravitacional, já que a melancia não tolera muita água.
“Se teve perdas totais da primeira florada, do cedo”, diz, referindo-se as frutas que nascem no início do ramo, próximo as raízes. Restam então aquelas na ponta do ramo, que consomem mais energia da planta para receber nutrientes. Este combinação afeta o calibre da fruta e a vida do pé de melancia. Em relação ao sabor, ele explica que este aspecto será definido na fase de maturação, quando os dias de sol serão fundamentais.
Motta espera por sol e calor para colher
Os agricultores são os que mais sentem na pele as mudanças climáticas. Durante três anos tiveram perdas devido as estiagens, e agora amargam prejuízos pelo excesso de chuva. João Luis da Motta agora reza pelo retorno daqueles dias secos e quentes, para não ver morrer mais das 2.000 mudas plantadas no Sobrado Alto, interior de Montenegro.
“Já replantei umas três vezes! Só que não sei no que vai dar”, comenta. Da lavoura consorciada com Eucalipto plantada em 13 de outubro, já perdeu 30%. O último plantio foi no fim do mês passado, com desenvolvimento ainda modesto e que dependem do clima equilibrar. Assim, sua projeção é colher na véspera do Natal, enquanto o normal era tirar frutas entre 10 e 15 de dezembro.
ENXURRADAS NA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
No Sobrado Baixo, Felipe da Rosa Ulrich arrisca pela primeira vez plantio de melancia para venda no mercado. São 2.000 pés em um hectare, cultivados em 8 de outubro. “Queria plantar mais cedo, pois estava com as mudas prontas na estufa”, revelou. Apesar da prudência, mas ainda ter plantado antes do vizinho, perdeu 10%. Ele projeta começar a colheita na primeira quinzena do próximo mês.
Durante a entrevista recordou da experiência de um amigo da Vendinha, que perdeu todo o plantio de melancia, e substitui tudo por milho, cultura um pouco mais beneficiada neste momento. Mas Ulrich alerta que não é tão simples. Ele atrasou sua lavoura de milho por não conseguir entrar com o trator na terra encharcada; sendo que terá apenas uma safra, a primeira plantada, que dará forragem em fevereiro.
É bom saber
A Melancia não é produção principal dos produtores rurais da região, que costumam consorciar a lavoura com plantação de mato (Eucalipto ou Acácia). Os carros-chefe das propriedades seguem sendo Citros, gado – de corte e leiteiro –, silvicultura e hortaliças