O ritual mais comum da região acontece há mais de 40 anos na Festa
de São João, em Macega. A edição deste ano está marcada para o sábado
Neste domingo, comemoramos o dia de São João Batista e ele é o grande homenageado de diversas festas juninas que acontecem pelo mundo. Os eventos envolvem festejos musicais com comes e bebes típicos de cada região, aliando a fé que muitos depositam no mártir que batizou Jesus, conforme as religiões cristãs.
As celebrações mais comuns no Brasil envolvem músicas típicas do Nordeste, onde ocorre o maior número de festas juninas e as mais famosas. Bolo de fubá, canjica, pipoca, rapadura, pinhão, quentão são alguns dos componentes do cardápio festivo. No entanto, um símbolo mais quente e luminoso faz a alegria das pessoas e esquenta o ambiente: a fogueira de São João.
Na região de Montenegro, a fogueira mais famosa é da festa de São João de Macega, distrito de Maratá. Não é pelo tamanho, mas por um costume peculiar, preservado há mais de 40 anos. Montada com taquaras e grandes galhos de árvores, é acesa por volta das 22 horas. Pouco antes da meia-noite, um aglomerado de brasas de quase um metro de altura é espalhado com o auxilio de uma enxada por um benzedor.
Os pequenos pedaços de madeira ainda vermelhos e superaquecidos formam uma fina camada num grande círculo. O ritual de oração é feito pelo benzedor, juntamente com água benta e um ramo verde. Depois de alguns minutos, de pés descalços e calça arregaçada, o primeiro a passar é quem preparou tudo. “Viva São João”, fala em voz alta. Em seguida, muitos corajosos e fieis fazem fila para caminhar pelo braseiro.
A tradição reúne visitantes curiosos que nunca viram o fato diante dos próprios olhos. Há os que fazem questão de assistir a passagem pelas brasas, na madrugada do dia 24 de junho, a cada ano. É uma atração curiosa, comemorativa e se transforma em programa cultural para várias pessoas e famílias.
O anúncio do nascimento de João Batista para Maria
A Igreja Católica define a fogueira como o anúncio do nascimento do filho de Isabel e Zacarias. De acordo com o reitor do seminário São João Batista, de Viamão, padre Eduardo Luis Haas, faz parte de uma tradição e, de certa forma, de um folclore, o acendimento de uma grande fogueira no dia 24 de junho. “Faltando três meses para Isabel dar a luz ao seu filho, Maria volta para a sua terra, a alguns quilômetros de distância. Assim, Isabel disse para a sua prima que faria uma grande fogueira para avisá-la do nascimento do menino”, conta Haas. Esse é um dos elementos de ligação da fogueira com o nascimento de João.
Conforme Pe. Eduardo, outro elemento é que, próximo do dia 24 de junho, no Hemisfério Norte, acontece o dia mais longo do ano e, no dia 24 de dezembro, o mais curto. “O fogo e a luz têm muita ligação com o dia maior e o menor do ano e a fogueira teve essa relação com a dimensão da luz bem antes do Cristianismo”, diz. Junto dessa simbologia, cria-se o costume de celebrar o nascimento de João Batista com festa e alegria, pois ele é prenúncio da alegria maior, a chegada de Jesus Cristo.
Com a evolução dessas tradições, surge a questão das brasas. “Algumas pessoas, para demonstrarem fé e confiança em São João Batista, a quem foi acesa a fogueira, passam sobre as brasas acesas sem sofrerem queimaduras”, conta o padre. Para ele, quem faz o rito quer mostrar que confia na santidade, na força e na bênção do Santo. “A igreja não incentiva, mas também não proíbe, pois é algo da devoção das pessoas e o jeito de manifestar a fé”, ressalta o sacerdote, natural de Montenegro.
Mestra em física explica por que os pés não queimam
Segundo a mestra em Física e diretora da Escola São João Batista de Montenegro, Valéria Graça, algumas questões cientificas estão ligadas no processo de passagem pelas brasas acesas. “A pessoa não pode deixar entrar ar entre a brasa e o pé, porque existe uma fina camada de cinzas em cima do braseiro e isso serve como isolante térmico”, afirma.
A velocidade também influencia. “Quando a pessoa passa por cima do braseiro, ela deve transitar com uma velocidade suficiente para que o pé não afunde nas brasas que estão em chamas, as quais vão provocar as queimaduras”, relata. Portanto, a velocidade precisa ser suficiente para que o peso do corpo não faça o sujeito afundar além da camada de cinzas. Uma pessoa magra, por exemplo, pode caminhar um pouco mais devagar. Já uma pessoa um pouco mais pesada, deve acelerar o passo.