Bizarrices

Tchês, como sabem, o mundo é bizarro. A vida então, nem lhes conto. Lembro quando era adolescente, tinha uma revista em quadrinhos do super-homem, bizarro. O planeta Terra dele era quadrado. Claro, menos bizarro que plano. Mas, como era de se esperar, em bizarrice também temos que evoluir.
De qualquer forma, o presente é só um detalhe. Importante é ver que a bizarrice sente existiu e que ela persevera. Dar uma olhada na História mostra que, de tempos em tempos, os malucos tomam conta do pedaço. Isso, pelo jeito, deve ser parte de algum processo, de um plano da Matrix.
Você sabia que, durante a Idade Média, houve processo jurídicos contra animais? Segundo li, os processos se baseiam em Êxodo (21, 28): Quando um boi ataca um homem ou uma mulher e causa sua morte, o boi será apedrejado e sua carne não poderá ser consumida. Seu dono será absolvido.
Então, em 1331 o herdeiro da coroa francesa vinha cavalgando e um cervo desavisado atravessou o caminho do cavalo. O nobre caiu e morreu. O cervo foi processado. Neste período, gatos eram seguidamente acusados de bruxaria. Se eram pretos, então… De blasfêmia, uma porca foi acusada em 1394 em Mortaing, na França, por ter entrado em uma igreja e ingerido o que havia de sagrado no altar.
Em 1338, besouros devastaram uma plantação e foram julgados pela Igreja. Em 1470, um homem foi surpreendido copulando com uma égua. Ele foi julgado. A égua também.
Na Espanha da Idade Média, também se costumava cobrar de cada chefe de família judeu o valor que Judas cobrou para entregar Cristo. Trinta dinheiros. E aquele que matasse um judeu, de forma que o rei não recebesse essse valor, devia pagá-lo com seu dinheiro, sob pena de perder seus bens e ser escravizado. Através do estudo histórico destes valores pagos, a Espanha tem uma noção hoje de quantos judeus viviam por lá naqueles tempos sem noção.
Antes disso tudo, César, imperador romano, utilizou-se de uma bizarrice para se livrar da esposa. Era casado com uma tal Pompeya. Daí, numa festa religiosa para uma deusa da fertilidade em que só podiam entrar mulheres, um cara se vestiu de mulher e entrou. Todo baile gaúcho ou nordestino tem isso. Mas na Roma do Século I A.C. deu treta. Como era um evento religioso só de mulheres e entrou um homem, Cesar disse: é necessário que os meus sejam tão isentos de suspeita quanto de crime.
Não tinha nada a ver com traição ou desonestidade, o que passou para a História. A mulher nem teve culpa. Era só um cara infiltrado numa espécie de missa, de culto, em que não podia estar. E era na casa de César. Deu merda. Pompeya perdeu o marido e a história ganhou uma frase.
Esta parte não é muito bizarra como chama o título, mas achei interessante e inseri na crônica. Peço desculpas. Perco o leitor, mas não perco uma pérola literária. Minhas crônicas não têm nenhum critério mesmo. Às vezes, não passam de bizarrices, como o tal super-homem bizarro que sumiu, nunca mais vi. A sociedade não precisa mais contar cabeças de minorias para cobrar tributos; não precisa mais processar animais pela nossa animalidade. E muito menos usar motivos moralistas para ser cafajeste.
Enfim, achei que estas bizarrices estariam à altura das do presente. Mas não tenho certeza. Talvez nunca nos livremos de bizarrices. Esperamos pelo menos que as atuais não destruam o pouco que nos resta de civilidade.

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