Se a prática de exercícios físicos é vital para a manutenção da saúde e representa uma vida longe das enfermidades, mais longeva, independente e com qualidade de vida, o exercício físico é para todos, certo? Uma parte da população, porém, tem dificuldade de acesso – também – a isso. Nem sempre é simples para um deficiente físico conseguir se integrar a uma equipe de esporte adaptado ou utilizar uma academia. E isso representaria grande incremento à saúde deles.
Eles podem e devem se exercitar, mas sempre com o acompanhamento de um profissional. É o que defende o professor de Educação Física e pós-graduado em Educação Física Adaptada Eduardo Gonçalves Pereira, o Dudu. Ele, que atua profissionalmente tanto em academias que atendem ao público em geral como dá aulas aos alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), cita a importância de um trabalho especializado.
“Eles poderiam utilizar qualquer academia da cidade, mas seria necessário um acompanhamento mais próximo. O profissional que atende um aluno com deficiência, seja paralisia cerebral, Síndrome de Down ou qualquer outra, precisa ter um conhecimento específico”, diz Dudu, que cita ter feito um projeto recentemente no intuito de integrar essas realidades tão distantes. “Eles entram na academia e parece outro mundo. E não é que os profissionais ‘não gostem’ de trabalhar com deficientes. É que não sabem como atuar da melhor forma. Afinal, a formação em Educação Física não prepara especificamente para isso”, complementa.
Mas o ideal é ter uma academia especializada ou trabalhar com integração? Assim como na área educacional, por vezes, essa dúvida ainda se mantém. “Ter uma academia específica para eles, pra atender esse público, seria legal. Mas incluir também é importante. E mesmo os exercícios para eles sendo 100% adaptados, é possível realizá-los sem ser em uma academia ‘normal’, porque você pode utilizar movimentos do próprio corpo”, destaca o especialista.
Muito é possível realizar. Precisando apenas da companhia de um familiar, caminhadas ou corridas guiadas podem ser realizadas na pista do Parque Centenário, por exemplo. Mas outras possibilidades poderiam existir. Montenegro hoje não conta, por exemplo, com equipes de basquete para cadeirantes, futebol para cegos ou outros tipos de esportes adaptados.
Respeito à individualidade de cada um
Para escolher a melhor atividade e colocá-la em prática é essencial que um profissional capacitado atue com o atleta. Tem de respeitar as condições físicas, o histórico e as limitações de cada um. Além de aumentar o bem-estar e a autoestima, a prática da atividade física trará benefícios como tornar o aluno o mais independente possível, dentro das suas características. Assim como qualquer pessoa, eles também se beneficiam das melhoras na capacidade cardiovascular, força, resistência e coordenação motora.
Eduardo Pereira exemplificou a necessidade de atenção individual desse público ao atender a um dos Grupos de Convivência da Apae de Montenegro. A turma – com alunos na faixa dos 20/30 anos – se encontra uma vez por semana para realizar atividades diversas. Entre elas, a educação física. “O objetivo é que eles tenham uma atividade física, já que muitos não fazem exercício fora da escola”, destaca Dudu.
Na academia híbrida da Apae, a turma utiliza equipamentos que, aparentemente, são similares àqueles das academias de rua. Mas são bastante diferentes porque permitem, por exemplo, que um cadeirante os utilize. O professor acompanha, orienta e incentiva aluno a aluno. Cada um utiliza o equipamento realizando os movimentos conforme consegue. Alguns concluem rapidamente, outros precisam de mais apoio. Sempre, cada um segue ao seu tempo e possibilidades. Eles adoram e fazem os exercícios, sempre brincando. Mas as preferências logo aparecem. “Hoje tem bola?”, queria saber Michael Diemer Jorge. Naquele dia não tinha. Mas eles praticam futebol também uma vez por semana, para alegria da turma.
Depois, a aula ainda contou com exercícios que utilizam o corpo, como sentar e levantar, para aqueles que têm condições para isso ou movimentar os membros. “É muito específico. Nem todos fazem determinado exercício. Mas todos participam da aula”, conclui Dudu.
Olimpíadas estaduais
De 4 a 8 de dezembro, no complexo esportivo da Ulbra Canoas, ocorre a Olimpíada Estadual das Apaes. Quatro estudantes de escola de Montenegro se classificaram para essa etapa. Eles competem nas modalidades Arremesso de Pelota para Down, Arremesso de peso para Down, Caminhada e Corrida na categoria PC (Paralisia Cerebral) e dois alunos do futsal masculino.