Acúmulo de água em várzea próxima à BR-386 é reflexo das cheias

SOLO SATURADO dificulta que a água baixe no local

Recentemente, a área de várzea situada às margens da BR-386, na localidade de Volta do Anacleto, nas proximidades da praça de pedágio da CCR ViaSul, em Montenegro, foi severamente impactada pelas cheias do Rio Caí. Embora as águas do Rio tenham recuado, a região permanece alagada, chamando a atenção de quem passa pelo local.

Segundo Markus Brose, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), áreas de várzea desempenham um papel crucial na ecologia dos rios. “As várzeas são formadas pela natureza para que o rio possa transbordar em períodos de cheia, funcionando como uma espécie de esponja natural que absorve o excesso de água”, explica. Ele ressalta que, embora o acúmulo de água seja natural em tais regiões, a persistência do alagamento pode ser influenciada por diversas variáveis, como a composição do solo e uso da terra.

Imagem de satélite do dia 2/7 mostra o solo 100% saturado no local

Brose pontua que a área alagada pode possuir uma camada de argila que, devido à sua baixa permeabilidade, retém a água por períodos prolongados. “Em regiões onde o solo é muito úmido, especialmente com chuvas constantes, a água tende a ficar acumulada por mais tempo”, observa o professor.

Rafael Altenhofen, biólogo e presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Caí, também ofereceu sua perspectiva sobre a questão. Analisando uma imagem de satélite da área datada de 2 de julho, Altenhofen constatou que o solo da região está completamente saturado, impossibilitando a absorção adicional de água pelas baixadas naturais da planície. “O encharcamento do solo, que está 100% saturado, impede que a água seja absorvida, resultando na permanência dos alagamentos”, explica.

Altenhofen destaca que as áreas próximas aos rios frequentemente possuem uma elevação natural, conhecida como dique marginal, que é mais alta do que a planície circundante. “Mesmo quando o rio retorna ao seu leito, essas áreas podem permanecer alagadas até que o solo seja capaz de absorver a água remanescente, contribuindo, assim, para a recarga do lençol freático”, completa o biólogo.

O presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Caí explica que o encharcamento do solo torna a absorção da água extremamente lenta. “O solo está completamente saturado, e muitas dessas áreas receberam depósitos de barro, um material argiloso que pode formar uma camada impermeável no fundo. Isso faz com que algumas dessas regiões, especialmente as áreas de campo aberto, funcionem como açudes naturais, retendo a água por períodos prolongados, que podem durar meses, dependendo das condições climáticas e de novas precipitações”, conclui Altenhofen.

Solo saturado tem contribuído para o acúmulo da água na região

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