Gente e Flores

Vamos tomar um chimas no Centenário? Pega as cadeiras que eu levo a mateira. Avisa as gurias para levarem as crianças, também. O convite – em tom quase imperativo – vem da patroa. As gurias são a filha e sobrinhas adultas; as crianças, netas e sobrinhos-netos.

Outro dia, em meio a uma semana das calorentas, fizemos um piquenique com as pompas que a circunstância exigia: toalha no gramado, doces para as crianças e formigas, água e sucos gelados, joguinhos e bola de futebol.

Dizem os doutores que a melhor forma de se prolongar a juventude é a convivência com gente jovem, em igualdade com eles; quero dizer: como se fôssemos todos jovenzinhos. Isso proporciona que transmitamos experiências vividas sem a chatice pedagógica dos meios formais, e absorvamos a tenra volúpia pela vida, a viver sem prazos. E o Parque Centenário retomou seu lugar de ser para onde recorrem as pessoas que buscam lazer e encontros; ou o lazer dos encontros.

Ainda em obras, o parque cinquentão recobra a vitalidade de há muito escondida sob o abandono e descaso de que sofre o que não é prioridade. Flores não haviam, por que flores são sufocadas pelo ervaçal daninho.

Ouvi do atual prefeito em discurso nalgum lugar, que em campanha e após eleito, pessoas lhe pediam que cuidasse do parque e o devolvesse à gente. Acredito, porque era uma das críticas que eu próprio fazia às administrações. Havíamos perdido o principal local de vivências criadoras de memórias boas de uma ou duas gerações, aquelas que nos fazem pertencer à cidadee aos grupos desuas gentes.

A obra de revivificação do parque está levando um mandato inteiro entre projeto e conclusão, mas há alguns meses já está plenamente usufruível, verificável pela constante ocupação dos espaços e a superlotação aos sábados e domingos. Espaços plurais como a pracinha de brinquedos inclusivos, as quadras de esporte, as pistas e trilhas de caminhadas, têm motivado as pessoas a se apropriarem de cada metro quadrado do espaço que sempre foi público, mas que não atraía mais o público.Às segundas-feiras de manhã, subo em nossa motinho elétrica e me vou ao parque onde, sentado em uma pedra, escrevo estas crônicas.

Em pesquisa recente, contaram-me paredes palacianas, a principal obra do atual governo, lembrada pela maioria dos entrevistados, foi a revitalização e modernização do Centenário. Minha verve analítica é capaz de jurar que a vontade do povo, atendida por ações governamentais-estatais, é a força centrípeta que arrasta aprovação popular para o centro das administrações. A gente não quer só comida, disseram Os Titãs.

Fotografei o sol poente sobre o lago. O chafariz precisa funcionar com água e luzes coloridas, disse Andréa. E o restaurante com bandinha ao vivo e chope gelado, respondi-lhe, fazendo roncar o mate.

Mais do que obras, gente traz vida ao parque. Mas gente não vai ao parque se o lugar for inóspito como uma tapera.

E as flores dos jardins do parque que haviam morrido de saudades nossas, agora estão vivinhas como nós, os que convivemos com gente fresca. Fresca de frescor, não de frescura.

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