No mundo novo em que acordei, empoderaram o inaceitável e agora o enaltecem.
É claro que o inaceitável sempre existiu, mas ele nos chocava; quando nos dávamos conta, meu Deus, éramos tomados pelo horror. Um sentimento esperado perante ações que não deveriam, nunca, gerar qualquer emoção que não esta.
No mundo novo em que acordei, “haha”s dominaram tudo. Pessoas passam com o carro por cima de outras em protestos: “haha”. Um idoso morreu: “hahaha”. Justificam a comemoração de uma morte pela diferença de ideologias. “Morreu porque estava fazendo baderna ao invés de trabalhar”. Quão sujo é alguém que realmente acredita que isso é um “bom” motivo para assassinato?
Não importa mais o que há de bom. As vozes no poder riem da dor do outro, da nossa cara, da justiça, da laicidade do Estado, dos direitos básicos. É “haha” em cima de “haha” e nós somos os palhaços da vez.
No mundo novo em que acordei, as vozes que riem de toda a desgraça estão mais altas que as que lutam para que as desgraças não aconteçam. É dolorido, é triste. Dá medo do futuro.
Dizem que é apenas uma fase; que, como tudo na vida e no tempo, também vai passar. Minha dúvida é: quanto da nossa humanidade vai morrer para que possamos sobreviver durante a emergência da desumanidade?
O mundo novo em que acordei, é um pesadelo. O mais assustador de tudo é que é real.
Ana Clara Stiehl
Cronista