Fórmula da felicidade

O ser humano sempre gostou de fórmulas. Fórmula é síntese e, em matemática, uma fórmula sempre leva a um resultado certo. As fórmulas têm uma certa aura de magia, uma coisa meio mística por apresentarem resultados que resolvem o problema proposto. E nós sempre temos problemas a propor.

E esperamos respostas formulares, exatas, independente das circunstâncias e das personalidades que as utilizem. E o leque se abre para o elixir da vida eterna, para métodos de emagrecimento, maneira de enriquecer, adoçar a vida e… fórmulas para ser feliz.

Um psicólogo americano, Dan Gilbert, em entrevista ao jornal El País, diz ter a sua. E lista quatro atitudes fundamentais na vida para sermos felizes: ”As quatro atividades cotidianas que trazem mais felicidade são gratuitas: fazer sexo, fazer exercícios, ouvir música e conversar.”

Não é de duvidar de um cara que escreve best-sellers e lota palestras com milhares de lugares. Até porque sua “fórmula” tem sentido. Mas fórmulas, se tendem a nos tornar seguros de uma resposta, assim como regras para comportamentos, são passíveis de muita discussão. Se é verdade que fazer sexo, exercícios, conversar e ouvir música são coisas pra lá de boas, não creio que baste. A felicidade é muito complexa para tão poucas variáveis. Se é que, ao fim e ao cabo, a tal felicidade exista mesmo.

De qualquer forma, o psicólogo não citou duas grandezas que acho fazem parte de alguma felicidade. O amor e o trabalho, quando ganhamos a vida com o que gostamos de fazer. Quanta gente entrega a vida para isolar um vírus, dançar como Vaslav Nijinski, ser poeta como Fernando Pessoa, cientista como Einstein. Quanto das coisas boas da vida muita gente deixa para trás para alcançar a “sua” felicidade? Há muito amor envolvido nas causas de cada um.
E se a razão da minha vida for amar uma mulher? Uma única? Se for? Quem dirá que não fui feliz?
Cada um tem a razão de sua vida. E na razão de sua vida, repousa um naco de felicidade.

Lembro-me do meu avô Edvino. Tocava bandoneon, plantava flores e moranguinhos. Eu tinha oito ou nove anos e ele me levava junto para suas hortas e floreiras. Tinha jardins lindos. E moranguinhos que eu roubava na cara dura. Tocava bandoneon. Isso ele nunca me ensinou. E comentava novelas, logo que comprou sua primeira TV. Nossa, falava daquilo com uma alegria!

Meu avô, acho, era feliz. Mesmo depois doMal de Parkinson, que o abateu e tirou quase tudo que restara. O bandoneon, as flores e os moranguinhos. Mas não posso jurar. Eu era menos que um adolescente à época. Eu não sabia de sexo, quase nada de música. Talvez de futebol como exercício eu soubesse. Talvez eu soubesse que conversar era bom. Talvez!

Sei que a felicidade não existe. E isso se descobre com o tempo, e vai-se construindo o ceticismo a vida toda. Mas fórmulas existem. Fórmulas, senão para a felicidade, para o autoengano. Nada contra: o engano não deixa de ser uma forma de ser feliz. A felicidade é um direito. Uma construção humana, um desejo justo. E eu tantas vezes fui feliz, mesmo contra tantos argumentos.

Todos querem a paz de conhecer a felicidade. Mas quem garante que ter paz é ser feliz? A felicidade pode estar justo na angústia de questionar a vida e seus anseios. Mas para a grande maioria, a felicidade está mesmo enquadrada dentro de uma fórmula. Nem que seja a fórmula do açúcar.

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