As velhas e as futuras guerras do clima

Longe de mim contestar os que creem que o clima do planeta não está mudando. Concordo que é um assunto controverso e que há muitos interesses, de ambos os lados, que impedem um debate frio e técnico a respeito. Mas também não posso me alienar e não perceber que a ação do homem está degradando o planeta, cujos recursos estão à exaustão.
O clima e suas mudanças causadas por ciclos naturais movimentaram a história humana em várias oportunidades. Durante o império Romano, o clima ameno aumentou a produção de alimentos e a população. Houve grandes migrações para as cidades, fortalecendo o império de soldados e seu poder militar, o que está na base de sua glória.
Depois veio um período de frio, onde decai a produção de alimentos e as populações diminuem. Os bárbaros, fugindo do frio intenso, buscam terras mais quentes e começam a invadir os limites do império. É o início do fim da poderosa Roma. Um escritor da época, Procópio de Cesarea, escreveu que o sol parecia estar apagando.
Depois do ano 900, começa um novo período ameno, quando então os Vikings vão à Groelândia e à costa americana. No fim da Idade Média, um novo ciclo frio que durou até o século XIX. As colheitas se tornaram difíceis e a fome aumentou, o que foi uma das causas da Revolução Francesa. As grandes chuvas dos anos de 1840 na Irlanda levaram muitos irlandeses a emigrar para os Estados Unidos, o que muito influenciou a história americana.
Atualmente, já com a ação humana agindo junto com os ciclos naturais, muitos conflitos se dão pelo controle de rios, aquíferos e florestas. E ressurge a figura do refugiado climático, que busca novos lugares para viver por conta da fome e da esterilidade da terra em seus países de origem, como os degredados da Primavera Árabe.
O governo da Indonésia estuda a mudança da capital Jacarta para a ilha de Bornéu. Jacarta está ameaçada pelo aumento do nível do mar e o solo está se desfazendo pelo peso dos edifícios.Dá para imaginar as perdas imobiliárias das pessoas que possuem imóveis em Jacarta com este anúncio.
Cerca de 100.000 pessoas vivem em Kiribati, um arquipélago no Pacífico que está em alerta desde 1989 por causa do nível do oceano. Um estado composto por 33 ilhas que vai virar uma “Atlântida” e submergir. Os onze mil habitantes de Tuvalo – outro arquipélago – estão também no caminho das águas.
O certo é que o clima e a história estão umbilicalmente ligados. Quando o clima muda e as condições de uma região não são mais as mesmas, a tendência é o conflito. Vimos agora com as queimadas recordes na Amazônia, o que gerou e ainda vai gerar de desinteligências.
E se a gente pudesse rir disso tudo – e a gente não pode – mas se a gente pudesse; se houvesse algo engraçado embutido em tamanha tragédia, seria cômico assistir ao mar invadindo a Zona Sul, Copacabana e Leblon, e a alta elite carioca – que sempre pensou que os morros desceriam sobre ela – numa espécie de vingança dos miseráveis, ter que ela, a elite, se refugiar nas alturas das montanhas para escapar do revide da natureza.
Isto, claro, é só uma piada de mau gosto. Muito antes de isso acontecer por obrigação dos mares, não haverá mais miseráveis nas montanhas e a migração será pacífica e sem desespero, preparada bem antes, assim que a verdade das águas se mostrar definitiva.Será somente a História se repetindo.

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