Uma agenda importante para a pauta feminina é o Outubro Rosa. Ninguém discorda da relevância, da necessidade de dialogar sobre o assunto e do quanto ainda precisam ser replicadas as informações sobre autoexame. Fazem parte desta agenda o acesso ao serviço de saúde, a tecnologias de qualidade e a saúde mental, em caso de incidência do câncer. Nós, mulheres, sabemos o quanto precisamos vencer o medo de “achar algo” e pensar que a prevenção é o modo mais seguro e rápido de resolver o problema. Vale a pena lembrar que autoexame tem trazido resultados relevantes, que pode dar início a uma luta difícil ou grandes sustos, até que se tenha uma resposta negativa. Mas daí vocês vão me questionar: E se o acesso ao serviço de saúde, dessas mulheres que detectem os nódulos for reduzido? Mulheres negras têm alguma incidência menor ou maior? “Só falta me dizer que mulheres negras são vistas de forma diferente nessa luta”. Pois então… Deixa eu te contar uma história! A luta é igual para todas, o que iremos falar aqui é sobre acesso, vulnerabilidade social e o impacto da raça e cor nesse processo. Quem é da saúde pública tem tido acesso a estudos que discutem o porque nos comparativos com mulheres autodeclaradas brancas, as mulheres autodeclaradas negras e pardas apresentam estadiamento avançada de câncer. Ou seja, no momento da avaliação e confirmação de câncer de mama, as mulheres negras e pardas geralmente apresentam estado mais avançado da doença. Entre outras ocorrências, que podem agravar o adoecimento. Uma das hipóteses discutidas seria que mulheres pretas realizam menos exames e que quando chegam aos serviços, seria devido à indisponibilidade como provedora de seus meios. Um outro fator possível seria que grupos étnicos menos favorecidos estariam mais expostos ao sedentarismo, uso de substâncias e baixa segurança alimentar. Outra hiṕostese seria a condição de vulnerabilidade social que as mulheres negras e pardas se encontram. Precisamos salientar que o campo da saúde não se desconecta da realidade social que constantemente nos coloca em situação de desigualdade. Para mulheres negras receber a notícia de um cancêr de mama provavelmente incita o pensar de maneira mais trágica, pois se soma às experiências de um viver com dificuldades, discriminação e preconceitos. Em relação à saúde mental, as mulheres negras, pretas e pardas trazem consigo uma distorção de autoimagem e baixa autoestima, que progressivamente seguimos não poupando esforços para desconstruir. Chamo a atenção que se faz necessário priorizar grupos raciais mais vulneráveis em políticas sanitárias públicas, dando ênfase a raça e cor para que se tenha o acolhimento devido, o amparo à diversidade e seja mais ação contra o racismo estrutural existente. Não posso negar que tenho medo da possibilidade de ter um câncer de mama, mas como mulher negra também tenho medo de sofrer as diversas violências racistas intrínsecas a minha cor. Iboru, saravá e muito Rosa para todas.