A Doença de Parkinson atinge em torno de 3% da população acima de 65 anos no Brasil. Trata-se de uma doença neurodegenerativa progressiva, ou seja, que vai piorando com o tempo. Além de causar inúmeros sintomas no paciente, costuma ser muito dolorosa aos familiares que acompanham o evoluir da doença. Quem tem Parkinson sofre com a perda de alguns tipos de neurônios, o que provoca a alteração de diversas funções motoras e não motoras.
O neurologista do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Puc-RS), Bruno Fraiman esclarece que, apesar de estar muito vinculada à velhice e o avanço da idade ser realmente um fator de risco para Parkinson, isso não significa que seja exclusiva de quem passou dos 60 anos. “Temos casos de pessoas com 20 ou 30 anos que manifestaram sintomas, mas é raro. A maior parte dos casos é em pessoas que já passaram dos 50/60 anos”, diz Fraiman.
Apesar de haver pesquisas nesse objetivo, a ciência ainda não conseguiu explicar a origem da Doença de Parkinson. Sabe-se que em aproximadamente 10% dos casos há a presença de um gene causador, casos em que foi identificada a mutação genética como causa da doença. Nos demais casos, não há causa apontada. Isso é ruim porque, sem conhecer a origem, não há como prevenir. “Não podemos afirmar ser uma doença genética porque alguém cujos pais tenham a Doença de Parkinson não necessariamente manifestará a doença. E, na maior parte dos casos, a gente não sabe da onde vem e não existe uma terapia para evitar seu surgimento”, explica Bruno Fraiman.
Já citando tratamentos, há uma série de avanços e possibilidades. “Há uma gama enorme de medicamentos. Além disso, sabe-se que a atividade física, comprovadamente, é capaz de melhorar muito a qualidade de vida das pessoas com Parkinson”, diz o especialista, que cita, ainda, terapias com fonoaudiologia e fisioterapia. Porém, nenhum tratamento de Parkinson é capaz de regredir o quadro da doença e nem mesmo frear seus avanços. Eles objetivam, apenas, garantir a qualidade de vida do paciente.
“Os tratamentos da Doença de Parkinson não são capazes de fazer nenhum sintoma retroagir, nem mesmo frear o seu avanço futuro. A doença continua avançando e a gente vai tratando cada sintoma”, detalha Bruno. A busca da cura definitiva também mobiliza pesquisadores. Há experimentos em andamento, porém, nada concreto em curto prazo. “Para o futuro há esperança, mas nada para logo”, lamenta o neurologista Bruno Fraiman.
Hospital realiza cirurgia para tratamento da Doença de Parkinson
O Hospital São Lucas trouxe uma nova alternativa para os portadores da Doença de Parkinson, a cirurgia. Ela busca o aumento da qualidade de vida do paciente através do controle dos sintomas da doença e redução dos efeitos colaterais trazidos pelas medicações.
No procedimento, utiliza-se um sistema de Estimulação Cerebral Profunda (ECP). Para isso, são implantados um gerador subcutâneo na região do tórax e dois eletrodos, que, de forma conjunta, transmitem pequenas correntes elétricas para regiões profundas do cérebro, a exemplo do marcapasso, muito utilizado por pessoas com problemas cardíacos. “O tratamento cirúrgico ocorre há muitos anos. Mas, no passado, era feito algo semelhante a uma lesão em determinada área do cérebro. Hoje o procedimento é similar ao da colocação de um marcapasso. O eletrodo fica no cérebro, a bateria no tórax e há um fio que passa pelo pescoço de ligação deles”, detalha o especialista.
A melhora esperada é de mais de 50% em sintomas como tremores, rigidez e a lentidão dos movimentos. Problemas como distúrbios da fala, da deglutição, do equilíbrio, quedas, congelamento da marcha, transtornos de humor e perda de memória não são amenizados com o processo. O tratamento é considerado de baixo risco.
O procedimento é uma importante ferramenta para o seu tratamento. “Esse é um grande recurso disponível, trazendo importante alívio dos sintomas para os portadores da doença, além de redução nas doses das medicações utilizadas”, explica. Uma investigação cuidadosa deve ser realizada pela equipe para determinar se o paciente é um candidato ideal a esse procedimento. “A cirurgia não é melhor que o remédio. A diferença é que, com o tempo, a doença vai progredir e o paciente pode não responder da mesma forma que o medicamento. O efeito vai reduzindo. Isso também ocorre com o passar dos anos de realização da cirurgia, mas, nesse caso, o médico pode fazer o ajuste no consultório mesmo. E, com os ajustes, o aparelho segue funcionando perfeitamente, 15 ou 20 anos após implantado”, destaca Bruno.
Por isso, o processo inclui a solicitação de exames de neuroimagem e avaliação neuropsicológica, além de análise criteriosa de aspectos clínicos.
Diagnóstico e sintomas
Não existe um exame clínico que diagnostique Parkinson. O médico conclui que essa é a doença que atinge o paciente conforme exame físico e o histórico da pessoa. Questões como tremores, lentidão de movimentos e rigidez muscular costumam ser encarados como sintomas característicos da doença. Estes, sintomas motores, são os principais. Mas há outros, menos comuns, e que não são motores como confusão mental, voz monótona e ansiedade, entre outros. A perda de memória, por vezes, também pode estar presente.
O neurologista Bruno Fraiman lembra que essa é uma doença assimétrica. Ou seja, o paciente começa a sentir os primeiros sintomas de um lado do corpo e esse lado, no qual a doença se manifestou inicialmente, será sempre o pior, no qual a doença mais evolui.