O “superpoder” da Síndrome de Asperger

Se você ainda não tinha ouvido falar de Greta Thunberg, nesta semana certamente a conheceu. A sueca de apenas 16 anos, uma ativista das causas ambientais, enfrenta políticos e exige medidas concretas para que o planeta seja melhor tratado. Junto de outros 15 jovens de diversas nacionalidades, ela apresentou uma queixa na ONU contra cinco países – entre eles, o Brasil – por não fazerem o suficiente para impedir o aquecimento global. Mas Greta também chama a atenção por ser diagnosticada com a Síndrome de Asperger, algo que não a impede de lutar pelo que acredita.

“Eu tenho Asperger e isso significa que, às vezes, eu sou um pouquinho diferente da norma. E dadas as circunstâncias, ser diferente é um superpoder”, disse Greta em redes sociais, rebatendo acusações sobre sua condição e, pela primeira vez, falando abertamente sobre o diagnóstico. Não foi para “se esconder” que ela não havia falado antes, mas porque sabia que “muitas pessoas ignorantes ainda veem como uma ‘doença’ ou algo negativo.”

Renata Kieling, neuropediatra, chefe na Unidade de Internação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professora da UFRGS. Foto: Arquivo Pessoal

A neuropediatra Renata Kieling, que é chefe da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que, de 2013 para cá, ninguém recebe o diagnóstico de Síndrome de Asperger, já que esta foi incluída no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). O termo “Asperger”, não é mais utilizado pelos médicos, mesmo que, entre os pacientes, ainda seja comum.
Não há números nacionais sobre o autismo. Os dados americanos dão conta de um caso para cada 59 crianças, sendo mais comum em meninos. É muito alto. “Claro que aí estão os casos mais leves, que antes poderiam sequer receber diagnóstico. Porque hoje também temos uma conscientização maior para isso”, diz a neuropediatra. Assim como nos casos de “autismo clássico”, neste, mais leve, anteriormente chamado de Asperger, diagnosticar cedo é decisivo. Renata Kieling cita, inclusive, casos de reversão de autismo. “Não podemos falar em cura. Porque no autismo não temos uma doença para ser tratada com um remédio. Temos um conjunto de sintomas. Mas temos cada vez mais casos de reversão. A criança apresenta diagnóstico cedo, aos dois anos. Tem a intervenção precoce, fonoaudiólogo, terapeuta, psicólogo e, depois se percebe que os traços comportamentais do autismo sumiram. Nunca se diria que aquela criança foi diagnosticada como autista”, detalha Renata, salientando que toda é feita a partir de brincadeiras com a criança.

Pequenos gênios?
No passado, tratou-se Asperger como a “síndrome criadora de gênios”. É que essas crianças pareciam apresentar – junto de algumas dificuldades de comportamento, interação social e comunicação – um desenvolvimento cerebral maior para determinadas áreas. Cálculos, sistemas de computação, línguas estrangeiras… os resultados apareciam em diferentes áreas. E isso não é um mito. Renata Kieling esclarece que isso é real e não diz respeito somente a Asperger, mas a todos as variações de autismo. Porém, atinge um número muito pequeno de casos. “Eles desenvolvem o cérebro de outra forma. Ainda não se sabe bem como, mas há algo de diferente”, resume a especialista.

Também ainda é um mistério para a ciência os gatilhos para o desenvolvimento do autismo. Sabe-se que há uma parcela genética na causa, mas essa deve ser associada a outras questões. Apesar de muito pesquisadas, ainda não foram esclarecidas.

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