A cada outono que chega, a população já espera o início da campanha de vacinação contra a gripe, que imuniza grande parte da população contra a doença que mais preocupa na temporada de frio. Em 2018, porém, o temor por casos mais graves antecipou a busca por vacina. Isso porque a epidemia de gripe no hemisfério norte foi séria. Nos EUA tratou-se da mais grave em 20 anos, com 47 mil casos e dezenas de mortes.
Porém, apesar do cuidado e prevenção serem sempre recomendados, por aqui, especialistas garantem que não há razão para pânico. Nada indica que o Brasil terá registros de uma epidemia mais grave que nos anos anteriores. O Ibiá Saúde ouviu dois especialistas no assunto. Ambos defendem que os dados atuais não indicam razão para alarde no país. A médica infectologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de Porto Alegre, Marina Rodrigues diz que a cepa H3N2 – que causou os casos nos EUA – não é novidade no Brasil. “Ela já circula há alguns anos. E está contida na vacina. Preocupação sempre teremos, mas os números não indicam nada fora do normal”, diz Marina. Até o momento houve 28 óbitos por gripe confirmados no Brasil. Em 2017 foram aproximadamente 500 mortes, considerando todas as diferentes cepas de vírus da gripe.
Mas por que o hemisfério norte sofreu tanto com o vírus no seu último inverno? A explicação é fornecida pelo também médico infectologista e coordenador do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, Paulo Ernesto Gewehr Filho. “Apesar de em países da Europa também terem registros, a principal epidemia foi nos EUA. Eles tiveram um inverno rigoroso. E isso favorece a aglutinação de pessoas, auxiliando na transmissão. Claro que também pode haver outros fatores. Porém, isso é muito diferente do que aconteceu em 2009, quando o mundo inteiro sofreu uma epidemia de gripe. Não há porque pensar que se os EUA tiveram epidemia isso irá ocorrer no Brasil”, defende Gewehr.
A vacinação é o principal meio de prevenção. Com início ainda antes do inverno (nessa segunda-feira, 23), a campanha de vacinação contra Influenza tem como público alvo as gestantes; crianças com idade entre seis meses a menores de cinco anos; população indígena; puérperas (até 45 dias após o parto); trabalhadores da área da saúde com comprovação profissional e documento de identidade; pessoas acima de 60 anos de idade portando documento de identidade; doentes crônicos (com prescrição médica, preferencialmente com CID, especificando a patologia a ser enquadrada); população privada de liberdade e funcionários do Sistema Prisional; e professores de escolas públicas e privadas, com comprovação de vínculo com a instituição de ensino e documento de identidade.
Quem não se enquadra em nenhum desses casos tem a opção de recorrer à rede privada. Em Montenegro a vacina já está disponível e custa R$ 100,00. A infectologista Marina Rodrigues destaca que a esses grupos a vacinação é primordial, não devendo ser deixada de lado. Já aos demais, quem puder e desejar, que faça. “A recomendação é para esses grupos. Fora isso, quem quiser ok, é seguro para todos”, destaca.
Já Paulo Ernesto Gewehr Filho defende que quanto mais pessoas estiverem vacinadas – mesmo aqueles fora dos grupos de risco – melhor. “Nós sabemos que nas crianças e nos idosos a vacina não funciona tão bem. Ela deve ser feita por esses públicos, mas, na faixa etária intermediária ela funciona melhor. Quanto mais pessoas estiverem imunizadas melhor, porque criamos o que chamamos de ‘cordão de isolamento’ em torno dos que tem mais risco”, exemplifica Gewehr, estimulando uma cobertura vacinal o mais completa possível.
H2N3 não existe
É possível que você tenha recebido através do WhatsApp uma mensagem com áudio dizendo que o Brasil teria um surto de vírus Influenza “H2N3”. O alarme informa que um casal teria morrido vítima da doença. O Ministério da Saúde divulgou uma nota informando ser mentira e que monitora os casos de gripe no país.
Mais do que isso, os especialistas consultados pelo Ibiá dizem não se ter notícia de tal cepa. “Desconhecemos H2N3. É fato que não circula no Brasil”, diz Marina Rodrigues. “Existem muitas cepas de vírus pelo mundo. Que eu saiba, essa jamais circulou em parte alguma. Ou se enganaram na grafia ou trata-se de fake news”, concorda Gewehr.
Vacina é anual
Alguns mitos cercam a vacina contra a gripe. É necessário vacinar-se em 2018 mesmo tendo feito a imunização nos anos anteriores. A explicação tem duas razões. Em relação à dose do ano anterior, a vacina passou por uma modificação com a mudança de duas cepas de vírus que constituem a fórmula. A alteração é resultado da avaliação feita pela Organização Mundial de Saúde em relação as cepas que mais circularam no ano anterior.
A vacina aplicada na rede pública protege contra as cepas mais presentes: H1N1, H3N2 e uma Influenza B. A disponibilizada na rede privada é quadrivalente e além das cepas H1N1 e H3N2 protege duas cepas da Influenza B, uma delas menos observada. “Não é o caso de quem tem direito a imunização da rede pública procurar a privada em função dessa diferença. A vacina oferecida pelo SUS protege contra os principais. Nos próximos anos ela também deverá ter incluída essa do B, já que essas cepas Influenza B têm crescido pelo mundo”, diz Gewehr. Além disso, mesmo que a vacina não tivesse diferenças anualmente, ainda assim seria necessário renovar a apicação porque ela perde efeito com o passar dos meses.
A vacina é produzida a partir de um fragmento do vírus morto, sem possibilidade dela desenvolver a gripe. Como ela demora cerca de duas semanas para começar a agir, o que pode acontecer é a pessoa já estar gripada antes de se imunizar ou, ainda, ter um resfriado e confundir com gripe. Porém, os casos de resfriado são muito mais leves e oferecem sintomas mais brandos.
Vacinação começa na segunda, dia 23
Independente da baixa possibilidade do Brasil ter uma forte epidemia, é indicado manter a prevenção em dia. A campanha nacional de vacinação contra o vírus Influenza (da gripe) na rede pública tem início nessa segunda-feira, 23, e segue até 1º de junho. A enfermeira Nicole Ternes, responsável pelo setor de vacinação da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Montenegro, destaca que, durante a campanha, as doses serão aplicadas nas quatro salas de vacina do município – na Esf1 da Germano Henke, Esf3 do Industrial, SMS na Timbaúva e Pam do Centro – e na Unidade Móvel, de acordo com a agenda da mesma.
Já o Dia D, data em que ocorre a mobilização nacional para a vacinação será em 12 de maio. Nessa data, das 8h às 17h, as unidades de atendimento Esf1 – Germano Henke; Esf3 – Industrial; Ubs Santo Antônio; Ubs Centro; SMS (Pediatria e Setor Adulto); Ubs Muda boi (Manhã) e UBS Santos Reis (Tarde) oferecerão a dose aos públicos indicados. “Para os pacientes acamados, a vacinação será feita pelas Estratégias de Saúde da Família de referência dos mesmos”, esclarece Nicole. Nestes casos, é interessante contatar previamente com a Vigilância em Saúde pelos telefones 3632-0171 ou 3632-1113.
Evite contaminação e mantenha as mãos limpas
O ser humano tem por hábito levar as mãos ao rosto, em média, uma vez a cada cinco minutos. Isso é um problema porque elas nem sempre estão limpas e assim bactérias chegam à boca e olhos, por exemplo. Num aperto de mão, ao escrever com lápis ou caneta, quando pega o celular. Ninguém sabe ao certo quais bactérias carrega. A orientação médica é evitar levar as mãos à boca ao tossir ou espirrar. Utilize lenços de papel – jamais os de tecido – e descarte após o uso. Em último caso, leve o rosto ao cotovelo, assim você não sai espalhando bactérias por onde toca.
Você sabia?
Sim, o frio tem ligação com a gripe. Mas não que ele seja o culpado. O problema é que nas baixas temperaturas as pessoas se aglomeram em lugares fechados, o que favorece a transmissão. Ligar o ar-condicionado não ajuda, ao contrário. Ele causa e ressecamento da mucosa nasal, levando a perda de proteção do organismo contra os germes.