As brincadeiras sempre estiveram presentes entre os jovens. Quem não lembra do tapa na testa quando passava um Fusca azul? Do tapa na cabeça com o Zidane? Ou ainda do tapa na coxa com o Antônio Nunes?. Porém, nas últimas semanas “brincadeiras” de mau gosto tomaram as escolas e ruas do país.
Entre essas atividades, o “Desafio da rasteira” foi um dos mais comentados e reproduzidos. Em um dos vídeos mais acessados na internet, duas pessoas incentivavam uma terceira a pular mais alto que elas e, quando o indivíduo aceita o desafio, é surpreendido com uma rasteira, cai com força e bate coluna e cabeça no chão.
Ainda em outro vídeo, dois alunos giram um terceiro no ar tentando realizar uma cambalhota e finalizar a ação em pé. Muito difícil de alcançar o objetivo, a pessoa desafiada ainda corre o risco de se ferir gravemente, assim como uma adolescente de 16 anos, do município de Mossoró, Rio Grande do Norte que em novembro de 2019 bateu a cabeça após realizar a atividade proposta pelos colegas e sofreu traumatismo craniano. A adolescente foi atendida no hospital e passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu quatro dias depois.
Mesmo após o acidente fatal, vídeos da atividade e de outras interações perigosas continuam ganhando espaço nas redes sociais. Porém, essas atitudes estão preocupando especialistas, pois podem causar sérias sequelas cognitivas, dentre outros problemas.
“Ações totalmente irresponsáveis” Psicóloga recomenda mais atenção dos pais
As brincadeiras nada saudáveis vêm trazendo dor de cabeça para muitos pais e responsáveis. Para a psicóloga Milena Bitencourt, essas atitudes não podem ser denominadas brincadeiras. “São ações totalmente irresponsáveis, as quais devemos orientar para que jamais sejam reproduzidas”, diz.
Em sua opinião, os criadores destes desafios surgem do desejo de humilhar e ridicularizar aos outros. “Os desafios vão se popularizando, pois na adolescência o desejo de aceitação e pertencimento é muito forte. O que faz com que os jovens tenham medo de negar a participação deles”, explica.
Mesmo que seja uma atitude que os filhos considerem de integração, Milena recomenda que os os pais busquem informações confiáveis sobre o assunto e fiquem de olho. “Os pais devem se esforçar para acompanhar de perto a rotina do filho. É comum que o jovem esteja com muitas dúvidas, por isso, os pais precisam ter conhecimento e argumentos sólidos para apresentar ao adolescente”, aconselha. Vale ler notícias em grandes jornais e revistas e até conversar com os profissionais do colégio, como os psicopedagogos, que devem acompanhar esse tema de perto.
Além disso, a psicóloga recomenda manter diálogos frequentes e estar por dentro do que acontece com o próprio filho e os demais (sejam colegas, ou mesmo a geração como um todo). “A conversa deve ocorrer no dia a dia mesmo. Enquanto se toma café da manhã, ou almoço, ou naquela viagem para visitar os tios. Qualquer lugar é lugar e qualquer momento é momento. O que importa é estar com a mente aberta para ouvir o jovem. Conhecê-lo e acolhê-lo”, fala Milena.
Só que, para manter o canal de diálogo aberto, a psicóloga alerta que é necessário dar privacidade ao jovem. Quando se conhece os filhos, não é necessário invadir o espaço do mesmo. Ainda de acordo com Milena, a melhor ação é acolher, e jamais julgar. “Dar abertura para o jovem se expressar e, se perceber a necessidade, levar para conversar com um profissional da área da saúde mental. A orientação vale para ambos os casos, seja vítima ou agressor”, recomenda.