Histórias da carreira de um motorista

Mário Augusto Ramos de Souza, 58 anos, natural de Porto Alegre, hoje morador de Montenegro, tem muitas histórias para contar sobre sua relação com o volante. Não poderia ser diferente, durante 30 anos foi motorista em uma das maiores empresas responsável pelo transporte público na Capital do Estado. E, há dois anos reinventa sua rotina na condução de caminhões. Dentre tantas situações inusitadas, a bordo dos veículos que já conduziu, ter conhecido sua esposa entre os passageiros do ônibus foi a mais satisfatória.

Mário iniciou sua carreira na área mecânica, isso ainda muito jovem, com 14 anos. Mas buscava uma profissão que lhe proporcionasse reconhecimento e remuneração justa. Foi então que encontrou sua vocação ao tornar-se motorista. Primeiro, com pouco mais de 20 anos, passou a trabalhar em uma empresa de turismo e, posteriormente, em uma grande companhia de transporte público de Porto Alegre.

A troca de olhares no coletivo levou a união que
já dura há mais de 25 anos

Enquanto conduzia ônibus na Capital, Mário testemunhou diversas situações inusitadas e até perigosas, como assaltos e emergências médicas. A quantidade de assaltos sofridos foi tanta que uma colega, cobradora, passou a sofrer da Síndrome do Pânico e precisou largar a função. “Uma vez o assaltante entrou pegando celular e bolsas, e o comparsa ficou com uma faca encostada no meu pescoço dizendo que não era para eu dar uma de herói. Um passageiro puxou o braço para não entregar o relógio e o assaltante atirou no assoalho do ônibus, ao lado do pé do rapaz. Ele não se feriu, mas entregou o relógio”, conta Mário.
Momentos de boas emoções também marcaram a trajetória do motorista. Ele lembra bem da ocasião em que auxiliou uma passageira em trabalho de parto. O motorista poderia ter simplesmente chamado uma ambulância para conduzir a grávida ao hospital, mas, em vez disso pediu aos demais passageiros e ao cobrador para que descessem e esperassem por outro coletivo que chegaria logo em seguida.

Mário deitou a mulher sobre um papelão, no corredor do veículo, e foi até o Hospital Fêmina, a cerca de 8 quilômetros da Av. Protásio Alves, local onde estavam quando a passageira começou a sentir dores. “Ela foi atendida e eu voltei ao trabalho”, comenta o condutor. Algum tempo depois, a mulher levou o bebê para que Mário conhecesse e agradeceu pelo que ele havia feito por ela.

Romance não foi passageiro
Foi no ônibus que, entre muitos passageiros, Mário encontrou o amor. Em 1997, Tereza Solange Linhares de Campos chamou a atenção do motorista. A sincronia nos olhares foi tanta que eles não sabem dizer quem olhou primeiro para o outro. “O carro estava cheio, mas eu vi ela dentro do ônibus”, conta o motorista. “Foi na linha Ipiranga 53”, lembra Tereza.
Ao sair do ônibus, Tereza sempre despedia-se do motorista. Certa vez, Mário entregou seu cronograma de horários para ela. E, depois de muito flertar, ele chamou a passageira para conversar. O primeiro encontro foi em uma pizzaria. O jantar deu origem a muitos outros, até levar a união do casal.
Por anos eles moraram no Lami, em Viamão, mas para ficar mais próximo da família e aproveitar a companhia dos netos, o casal passou a residir em Montenegro.

Mudanças de rotas e de vida

Após 30 anos como motorista de ônibus, Mário decidiu dar novo rumo à sua vida. Em 2021, começou a trabalhar com caminhão muk. Contudo, o empreendimento não apresentou o resultado esperado pelo dono do veículo que optou por vendê-lo.
Em março de 2023, Mário foi contratado por uma empresa de transportes com caçamba e carreta. “Antes lidava com pessoas, agora lido com pedra, terra, brita, areia”, comenta Mário. “No caminhão são toneladas de brita. No ônibus eram vidas em quantidade. Eu dirigia um coletivo articulado, o chamado minhocão. No sobe e desce, cheguei a carregar 270 passageiros do aeroporto até a zona Sul. Era muita gente”, recorda.

Mas a nova atividade também tem momentos de tensão. Ele viaja por diversas rodovias do Rio Grande do Sul, da Serra ao Litoral, saí cedo sem hora certa para retornar para casa. “Nos primeiros dias, eu voltava pra casa e nem conseguia comer, estava tenso. Fui a lugares onde o caminhão patinava com todo aquele peso atrás. Hoje me acostumei”, conta.
Para quem é apaixonado pelo volante, os desafios são combustível que levam a conhecer novas e belas paisagens. “O caminhão a gente carrega, coloca a lona sobe e segue ouvindo rádio”, pontua Mário.

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