Músico montenegrino vai representar o Brasil em festival nos EUA

ARTE. Multi-instrumentista e produtor musical Mateus Zuanazzi estará no SXSW

Considerado um dos maiores eventos musicais e artísticos do planeta, o Festival SXSW (South By Southwest) inicia nesta sexta-feira, dia 11, em Austin, no Texas-EUA. Neste ano, o evento terá a participação de um músico montenegrino. Multi-instrumentista e produtor musical, Mateus Vinícius Zuanazzi, de 35 anos, vai integrar a formação especial da banda Akeem Music em shows no festival, que se estende até o dia 20 de março.

O SXSW acontece todos os anos na capital do estado do Texas, que é tomada por arte durante o período do evento. Além de muitas performances musicais em diversos pontos da cidade – inclusive na rua –, o festival é caracterizado pela inovação e aborda diversos temas, como cinema, publicidade, tecnologia e até assuntos mais sérios, como direitos LGBQT+ e aquecimento global.

Por meio de painéis, exibições e conferências, atrações como Donald Glover (mais conhecido como “Childish Gambino”), ator da série “Atlanta” e também cantor, expõem opiniões, relatam experiências e apresentam novidades, em uma grande troca de informações que envolve, ainda, grandes marcas como Samsung e Disney. Prestes a embarcar para os EUA, o montenegrino Mateus Zuanazzi conversou com a reportagem do Ibiá sobre sua trajetória na música e a oportunidade de participar do SXSW.

Jornal Ibiá: Como e quando aconteceu o seu primeiro contato com a música?
Mateus Zuanazzi: O primeiro contato foi na família mesmo. Não tem nenhum músico, nenhum artista, mas meus pais sempre gostaram de música. Tanto nacional quanto internacional. Gêneros diversos: samba, MPB, pop, rock, gauchesca, etc. Não sei dizer a idade, mas existem gravações de quando eu era muito pequeno e tinha um Super System Philco com um microfone, e eu ficava “dublando” as músicas. As letras em inglês eu inventava – a maioria em português também. Mas foi por causa da música que eu aprendi a falar inglês, quando mais velho eu sempre queria entender o significado da letra. Quando tinha 9 anos, eu estudava na Evangélica (atualmente o Colégio Sinodal Progresso) e tinha aula de violão para os alunos. Não sei por que tinha um violão velho em casa, três vezes o meu tamanho (na época) e foi nele que eu aprendi a tocar. Depois fiz flauta, teclado e participei da “orquestrinha”. Com 11 anos, fiz um ano de aula de piano particular, até querer tocar guitarra, aí foram uns seis anos na Fundarte. Se, na época, eu entendesse a importância do piano, tinha dado um jeito de fazer as duas coisas.

Zuanazzi (à esquerda), Akeem e Felipe Saul formarão a banda Akeem Music em Austin

JI: Quais as suas inspirações na música e os gêneros musicais favoritos?
MZ: Formei meu gosto musical basicamente no rock (por causa da guitarra), mas sempre convivi com pessoas que ouviam outras coisas completamente diferentes. Eu podia escutar um álbum do “Sublime” e depois ouvir um do “Racionais” sem problemas. Atualmente é difícil definir um artista preferido, as opções são infinitas e os gêneros cada vez mais “nichados”. Dois artistas que tenho como ídolos são Elliott Smith e John Frusciante – que agora voltou pro Red Hot Chili Peppers. Mas não necessariamente os escuto toda hora ou hoje em dia. Artista nacional me vem à mente o “Los Hermanos”, mas faz muito tempo que não escuto nada deles. Curto muito a produção “Indie” e suas variações. E tudo que cabe dentro do pop (eletrônico, R&B, Soul, Rap).

JI: Em relação à sua trajetória até aqui. Onde começou, por onde passou e quais os projetos para o curto prazo?
MZ: Como qualquer músico, eu toquei em inúmeras bandas. Já toquei até baile, com uns 12, 13 anos da idade, e foi uma excelente escola. Mas resumindo, de todas as bandas e projetos que participei, a minha última “Missing Takes” foi a que me levou mais longe, por assim dizer. Inicialmente, era pra ser meu projeto solo e virou uma banda, com pessoas muito talentosas. Conseguimos gravar bastante material (para uma banda independente – tem até álbum ao vivo). E também conseguimos fazer turnê pelo Brasil, Estados Unidos (foi aqui que eu conheci o Akeem, isso vai ser importante depois) e Canadá. Em 2019, com “meia” bolsa de estudos, tive a oportunidade de estudar produção musical na Point Blank Music School (com o Akeem), em Los Angeles, e morei em uma espécie de “hostel de artista”, dividindo a casa com outras pessoas das artes: dançarinos, comediantes, roteiristas e por aí vai. Essa época foi divisora de águas e foi lá que comecei meu projeto solo e atual “Zuana”. Pode-se dizer que é um “Indie Pop”. Minha ideia era aplicar para um visto de trabalho e ficar lá, mas a pandemia mudou os planos e fiquei no Brasil. Mesmo assim, continuei produzindo, compondo, gravando, muitas vezes sozinho. Agora que temos as vacinas, e apesar de ainda existir uma pandemia, acabei trabalhando – e continuo – com um monte de gente muito talentosa: Carlinhos Carneiro (com quem lancei meu último single “Não da Nada”), Edu K (mais conhecido pelo De Falla), Jojo Lopes (toca com a Filipe Catto, Tágua-Tágua e mais um monte de gente), e a dupla Gustavo Foppa e Bernard Simon Barbosa (com quem compus, gravei e produzi meu próximo lançamento, para quando eu voltar do festival). Fora que vai ter um clipe com uma galera muito talentosa, tá todo mundo bem ansioso pra produzir. Não posso reclamar, tem bastante coisa pra produzir e lançar em parceria com essa galera.

JI: Como surgiu a oportunidade de participar desta edição do Festival SXSW?
MZ: Agora eu retomo a turnê que fizemos na Califórnia com a Missing Takes em 2017. Tudo começou porque um cara que eu conhecia de longe chamado Akeem Delanhesi, tinha um projeto solo chamado “Akeem Music”, e na época ele conseguiu um show em Los Angeles, mas não tinha banda para acompanhar, então chamou o nosso baterista, Rodrigo Messias. O “Messi”, por sua vez, deu a ideia de ir com a Missing Takes também e fazer uma turnê dos dois projetos. Com muito esforço coletivo, marcamos 9 ou 10 shows por toda a costa da Califórnia, de San Francisco a San Diego. E eu acabei tocando baixo no Akeem Music e tocando guitarra e cantando na Missing Takes em todos os shows. Corta para 2019, de novo o Akeem surge, dessa vez com a ideia de tentar uma bolsa na Point Blank e o resultado: moramos juntos, fizemos shows juntos, vivemos uma experiência excepcional durante pouco mais de três meses (que era o período do curso) em Los Angeles. Logo após, pandemia, distanciamento social, o setor das artes nunca sofreu tanto. Como citei anteriormente, agora no final de 2021 e início de 2022, acabei trabalhando praticamente com quatro produtores ao mesmo tempo. Também montei uma banda e finalmente fizemos um show de estreia para o meu projeto solo Zuana, e foi sensacional.

No meio disso tudo, recebo uma mensagem de voz, mais ou menos assim: “Fui selecionado pra tocar no SXSW. E tô montando uma banda especialmente pro festival, em um formato reduzido. Vamos? Quem sabe tu toca baixo de novo?”.

Era o Akeem, e o Akeem Music iria tocar no famoso South By Southwest. Eu aceitei na hora, sempre quis visitar o festival, e agora posso ser uma das atrações? Obrigado universo! E de repente, surge um cara chamado Felipe Saul. Ele respondeu um “Instagram Story” do Akeem dizendo que queria ir também. Eu não sabia se era sério, a Missing Takes e a Yellow Boulevard (banda dele) já tinham tocado juntas, mas a gente não se conhecia. E não é que deu certo? Akeem Music no SXSW será: Akeem, Zuana e Felipeta.

Montenegrino já se apresentou no Whisky a Go Go, uma das casas de shows mais famosas da Califórnia

JI: Que dia vocês embarcam para os Estados Unidos? A programação já está definida? Você pretende aproveitar as demais atrações da cidade ou a viagem deve girar em torno do festival?
MZ: Embarcamos dia 10 e chegaremos lá dia 11. Por enquanto, temos dois shows marcados, em lugares icônicos de Austin, em palcos que já tocaram artistas como Sheryl Crow (dia 16 de março, no Fairmont Austin, às 18h no horário local, e 21h no Brasil; e no dia 18 de março, no Speakeasy, às 20h no horário local, e 23h no Brasil). Temos que ficar à disposição da curadoria do festival, pois eles podem nos colocar pra tocar em qualquer dia, em qualquer lugar (inclusive eventos ao ar livre). De acordo com outros artistas que já participaram, sempre acontece de fazer mais shows, a cidade toda transpira arte, existem inclusive “shows secretos”. Como artistas, temos acesso gratuito aos painéis, shows e congressos. Então, no tempo livre, eu por exemplo, gostaria muito de ver o show do Beck.
Fora que existe a parte de cinema, tecnologia e outros temas. É um festival muito abrangente e vanguardista. Então, onde a gente for na cidade, acredito que terá algo do SXSW acontecendo. Temos amigos de outra banda brasileira que também foi selecionada e estarão por lá. Vale ressaltar que algumas marcas aqui da região que valorizam a cultura, vão nos acompanhar durante a viagem: a Broda e a Dobra. Tem tudo para ser uma experiência incrível. Quem quiser conferir essa trip pode nos seguir nas nossas redes:
@akeem.music, @zuana_official e @fsaulc.

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