Até o dia 11 de julho, a Fundação Cultural e Assistencial, a Ecarta, está apresentando a exposição Afeto Presente com trabalhos de duas artistas, Ursula Jahn e Mitti Mendonça. Ursula é natural de São Sebastião do Caí, mas mora em Montenegro desde os cinco anos de idade. Fotógrafa e artista visual, ela desenvolve sua produção artística principalmente por meio de fotografias e vídeos marcados por um viés autobiográfico que explora questões feministas.
A curadora, Mel Ferrari, salienta que são duas exposições individuais dentro de uma só mostra. Nela, as artistas reconstroem sua ancestralidade matriarcal como um caminho para a sobrevivência afetiva. Expressam, em bordado e fotografia, as mulheres de suas famílias a partir de suas pesquisas.
Ursula explica que seu trabalho faz parte de uma história ficcional sobre a perda dos sobrenomes maternos. “Misturando acontecimentos verídicos que envolvem uma memória familiar e meu consciente imaginativo, me voltei ao passado e à memória que me contavam de que minha bisavó materna fraturou a cintura pélvica. Brinquei então que esse acidente foi o responsável pelo desalinhamento em minha descendência ancestral feminina, que resultou na perda do registro do sobrenome materno de três gerações de mulheres da família, recaindo sobre elas o peso da estrutura patriarcal”, detalha.
Então, ela passou a buscar, através de imagens, o que carrega dessas mulheres. “Faço isso através de imagens minhas, de minha irmã e minha mãe, da apropriação de imagens de minha avó e bisavó e de uma videoperformance. Criei na exposição o meu inventário afetivo dessas mulheres, como ritual simbólico de cura dessa ausência do sobrenome materno”, destaca.
Já fazendo interferências nos retratos de seus familiares, Mitti Mendonça apresenta dez obras com costura e bordado, técnicas que aprendeu com suas tias. Utiliza uma experiência coletiva herdada para subverter o uso cotidiano dos materiais, linhas e tecidos, mesclando-os com o desenho e fazendo uma releitura das fotografias de família.
A construção dos retratos revela referências de matriz africana, presentes em toda sua produção. (IF)