10 anos após, produções audiovisuais remontam o caso da boate Kiss

LEMBRANÇAS do janeiro que deixou marcas na história do povo gaúcho prometem mexer com as emoções

Luane Nichelle Lopes

Luane Nichelle Lopes, de 23 anos, tinha apenas 10 quando ocorreu o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na região Central do Estado. A jovem publicitária lembra que naquela manhã, sua mãe acordou desesperada ao saber da notícia, pois a irmã dela morava em Santa Maria. “Foi um desespero completo até saber que ela estava bem”, conta Luane.

Morando em Montenegro desde a infância, Luane e a mãe não chegaram a ser testemunhas presenciais do fato ocorrido na cidade natal delas, mas, assim como muitas famílias nunca irão esquecer as marcas deixadas na sociedade gaúcha pelo incêndio na Kiss. Cenas que remontam o fato ocorrido há 10 anos passam a ser exibidas em produções audiovisuais a partir desta quarta-feira, 25.

Na sexta-feira, 27, completa uma década do incêndio que vitimou 242 pessoas e deixou centenas de feridos. Antecedendo a data, a Netflix estreia nesta quarta-feira a minissérie “Todo Dia a Mesma Noite”. A obra cinematográfica, dividida em cinco capítulos, é baseada no livro da jornalista mineira Daniela Arbex, publicado em janeiro de 2018. A produção traz momentos emblemáticos da tragédia, como as luzes das casas de Santa Maria sendo acesas no momento em que as famílias começam a ser comunicadas sobre o sinistro, o desespero de parentes e amigos nas buscas pelas vítimas nos hospitais e o início da identificação dos corpos no Centro Desportivo Municipal.

Já na quinta-feira, 26, o Globoplay lança série documental sobre o caso Kiss. A produção também conta com cinco episódios e é conduzida e dirigida pelo repórter da TV Globo Marcelo Canellas. A série refaz, passo a passo, a sucessão de acontecimentos que levaram à morte dos jovens, a dor das famílias e dos sobreviventes e o processo judicial, apresentando imagens inéditas.

Emoção é algo que não vai faltar para quem está pensando em assistir as séries. “Documentários ficcionais são necessários para a conscientização sobre os erros cometidos. É uma forma de manter a memória das vítimas, mas ao mesmo tempo uma dor para aqueles que já sofrem muito nessas datas”, comenta Luane. “Não pretendo assistir. É angustiante e doloroso se colocar no lugar dos familiares, das mães e pais e pensar que tudo poderia ter sido diferente”, explica a jovem.

Vanessa Silva

Durante 18 anos Mario José do Canto Filho, natural de Santa Maria, exerceu medicina em Montenegro. Ele já atuava na cidade quando perdeu sua irmã no incêndio da Kiss. Atualmente, Mario mora fora do País e relata que não tinha conhecimento sobre as produções audiovisuais. Para evitar nova dor, o médico não quer assistir às séries. “Não pretendo ver, não gosto de reabrir feridas”, explica Mario.

A pedagoga montenegrina Vanessa Silva, 39 anos, também não pretende ver as imagens. “Não vou assistir, fico imaginando a dor das famílias revivendo isso. Acho muito desnecessário. Tudo vira uma forma de alguém ganhar mais e mais dinheiro”, opina. “Vai sempre acontecer de novo, se os ‘poderes’ não mudarem as leis”.

Priscila Spohr. Fotos: arquivo pessoal das entrevistadas

Já a administradora Priscila Spohr, 40 anos, sabe que vai se emocionar, mesmo assim, quer assistir às duas produções. “Como são diferentes, uma com enredo baseado em fatos reais, e a outra um documentário, quero ver como isso vai ser tratado por cada uma”, justifica.

Uma nota publicada na página do Facebook da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, pede para que na sexta-feira, dia 27, não sejam realizadas festas na cidade, que seja um dia para reflexão e homenagem aos que partiram. “Acreditamos que é preciso lembrar do que aconteceu em 27 de janeiro de 2013 para que tragédias evitáveis, como a da boate Kiss, não voltem a acontecer”, diz trecho de nota.

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