Programação da Semana da Mulher apresenta painel de feminicídio

Seguindo a programação da Semana Municipal da Mulher, na manhã dessa terça-feira, 8, a Central Única das Favelas promoveu um painel sobre o feminicídio, no Espaço Braskem, da Estação da Cultura. O momento de debates contou com a presença de Carliane Pinheiro, a Kaká, diretora da Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania; delegada Cleusa Spinato, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim) de Montenegro; Maristela Schneider, promotora de justiça; Juliana Deles Abdel, defensora pública; Fernanda Klunck, psicóloga, e Danielle Araújo, representante do “Mulheres da Cufa”.

Mas, afinal, o que é o feminicídio? Maristela destaca que é a condição onde uma mulher é morta em violência doméstica, ou seja, por companheiro, namorado, pai, ou algum homem de seu convívio; ou, ainda, pelo simples fato de ser mulher.

A delegada Cleusa destaca que durante o isolamento social, notou-se que a denúncia ficou ainda mais dificil para as vítimas, que não conseguiam se desvencilhar de seus agressores. Dados divulgados nessa terça-feira pelo Estado, e apresentados por Cleusa, apontam o aumento de 20% dos casos de violência doméstica registrados de 2020 para 2021, passando de 80 para 96 mulheres. Ainda, que das 96, 81,25% das mulheres sofreram violência dos próprios companheiros, e que 74% dos casos aconteceram na própria casa da vítima. “Das 96 mulheres, 67% não tinham nenhuma ocorrência registrada contra o agressor. Precisamos alcançar essas vítimas. Essas mulheres têm vergonha, medo, estão fragilizadas”, destaca.

Salete Kronhardt, 53 anos, é prova viva de que se desprender do ciclo de violência não é simples. As agressões não ocorreram em Montenegro e Salete prefere não citar o local, mas ela já mora aqui há mais de 20 anos. “Quando tu conhece um companheiro, acha que vai ser tudo ótimo, que ele é bomzinho, tu está apaixonada. Com o tempo ele começou a exagerar no álcool, chegar em casa agressivo e muito ciumento”, conta. A agressão começou em forma de xingamentos, as conhecidas agressões psicológicas e moral, seguida da agressão física. “Se algum conhecido passava por mim e me cumprimentava, já era motivo para ele me puxar pelos cabelos para dentro de casa e me insultar com palavrões, diziaque eu ficava me oferecendo, e eu ficava quieta”, relembra. “Eu tinha horário para ir e voltar do mercado, então eu pedia para passar na frente das pessoas na fila mentindo qualquer coisa, porque tinha vergonha de dizer que eu não podia ficar muito tempo por causa do meu companheiro”, relata.

Salete conta que em um dia, seu companheiro bateu nela, decidida, ela foi à delegacia, mas, por não ter marcas aparentes, foi mandada para casa outra vez, direto para as mãos de seu agressor. Foi aí que tudo piorou. “Um dia ganhei uma roupa muito bonita, porque nem isso eu tinha. Fiquei toda feliz, limpei a casa e coloquei a roupa para esperar ele, pensando que ele ia mudar. Ele rasgou toda a minha roupa, me deixou nua e disse que me arrastaria pelos cabelos na rua, porque era roupa de mulher à toa”, detalha. “Ele foi acabando com a minha vida. Eu só usava pijamas, com medo de me arrumar e ele achar que eu queria me aparecer para outros homens”, desabafa.

Ela conta que após episódios em que apanhou durante a gravidez, quando a filha já tinha um mês, se olhou no espelho e não se reconheceu. Foi o momento em que decidiu fugir para nunca mais voltar. Com apoio dos vizinhos e amigos, com sua filha, fugiu da cidade, para longe, sem olhar para trás. Após ganhar medida protetiva, nunca mais ela teve contato com seu agressor. Hoje, agente de saúde, com a autoestima e confiança renovadas, Salete agradece pela coragem que teve e pela oportunidade de poder ajudar outras pessoas e mulheres.

A programação da Semana da Mulher segue nesta quarta-feira, dia 9, às 14h, com a oficina de empreendedorismo, organizada pelas Mães da Favela, da Cufa, em parceria com as Mulheres Empreendedoras, na Associação da Vila Esperança. (IF)

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