Educação. Rede estadual de ensino no Vale do Caí enfrenta dificuldades para atender alunos
Salas de aula sem professores no início do ano letivo não são novidade na rede estadual, mas em 2019 os fatos têm se diferenciado pela demora na reposição destes profissionais. No Vale do Caí, muitas escolas enfrentam o problema e estão tendo dificuldades para resolver as questões de recursos humanos, que também envolvem falta de funcionários para limpeza e merenda.
“A gente tem lidado faz mais tempo com a falta de professores. São vários os motivos e um deles é que a educação não é prioridade para o Estado e nem para o País. Como convencer um aluno sobre a importância de estudar, se os professores são desvalorizados com baixos salários e estruturas insuficientes? Temos turmas ficando em casa por falta de professores”, desabafa o diretor da Escola Técnica Estadual de Portão, Marcelo Hoff.
Na escola onde Marcelo é diretor, faltam profissionais para oito disciplinas, totalizando 229 horas semanais. Esses dados foram atualizados ontem pela instituição. Para Hoff, na escola técnica é mais complicado, pois o professor não vai deixar um bom emprego com um salário considerável para dar aula por uma remuneração menor. “Os contratos de professores estão limitados até 21 de dezembro de 2019 e, depois deste dia, a pessoa estará desempregada. Isso desmotiva e por isso não há interessados em dar aula”, afirma.
Após veiculação de vídeo na televisão e muitas negociações, a direção da Escola Estadual Bernardo Petry, de Vale Real, conseguiu amenizar a situação. Até poucos dias, faltava professor para cobrir 37 horas semanais das disciplinas de Português e Espanhol, 39 horas de Português e Inglês e 35 horas de História, Filosofia e Sociologia. Arranjo interno foi realizado para garantir as aulas de matemática. Segundo a diretora Rosana Zimmer Teuschel, também falta uma servente para 40 horas semanais e esta demanda ainda está sendo avaliada pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc).
“Tivemos a aprovação de contração de merendeira e conseguimos ampliar horas de professor para espanhol, mas teremos que abrir vaga de 34 horas para a disciplina de português”, afirma Rosana.
A diretora revela que após muitos contatos com a 2ª Coordenadoria Regional de Educação, alguns sem retorno e posições de resolução, foi possível contratar uma professora de Português e Inglês e um profissional para 15 horas de História, Filosofia e Sociologia, restando ainda 20 horas. As turmas afetadas são principalmente as de ensino médio, no turno da noite, e do 6º ao 9º ano do fundamental, nas quais os alunos estudam à tarde.
Em outras cidades a situação se repete
Em Harmonia, na Escola Estadual de Ensino Médio Jabob Hoff falta professor para o 3º ano do ensino fundamental e duas pessoas para a limpeza. “Nossa vice-diretora está cobrindo a falta de professor no 3º ano, pois ela é professora de currículo e acaba deixando suas funções na direção no turno da tarde”, comenta a diretora Maria Regina Mendel Lauermann.
A escola Jacob Hoff pediu somente uma pessoa para a limpeza, mas ainda não teve retorno sobre a contratação. Para garantir a limpeza do local, professores, alunos e demais funcionários organizam e higienizam as salas e demais espaços. Maria Regina aponta as mudanças no período de contrato como barreira para conquistar os profissionais necessários. “Neste ano os contratos vão até dezembro e depois disso a pessoa estará desempregada. Quem vai querer largar algum trabalho para ter contrato temporário só para este ano?”, questiona.
Ricardo Ledur é vice-diretor da Escola Estadual Felipe Camarão, em São Sebastião Do Caí, e segundo ele, as turmas diurnas do ensino médio são prejudicadas durante as aulas de espanhol, pois falta professor para 14 horas semanais. À noite são as aulas de português e literatura que estão prejudicadas, pois não há profissional para quatro períodos de cada disciplina.
Conforme Ledur, ou são repassadas atividades, ou os alunos são dispensados pela falta de docentes. A escola atende 665 alunos e há apenas uma pessoa para o setor da limpeza, o que é outro problema da instituição.
O que diz a Seduc
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) informa que autorizou contratações temporárias de cinco novos profissionais, e 248 educadores tiveram ampliação de carga horária para suprir a demanda. A Seduc também analisa o pedido de mais 46 contratações emergenciais de professores.
Com relação aos funcionários, a informação é de que foram contratados cinco novos serventes e quatro merendeiras. “Na impossibilidade momentânea de contar com um profissional da área em determinada matéria, a orientação da Seduc é que as aulas transcorram com o remanejamento dentro do próprio quadro de recursos humanos da escola”. Caso seja necessário recuperar aulas, a Seduc afirma que a direção da instituição de ensino deve estabelecer um cronograma.