Imagine-se deixando o único lugar que você conhece e confia, onde tem aconchego, o abraço contínuo de quem mais te ama e todo o alimento de que necessita. Agora, imagine ser lançado de um instante ao outro num mundo bem mais confuso, barulhento e menos acolhedor. Esse assustador momento foi vivido por cada ser humano no instante em que veio ao mundo. Não é à-toa que os bebês nascem gritando a plenos pulmões. É um momento traumático e de ruptura na vida de todos.
Essa adaptação ao mundo fora do útero da mãe costuma requerer certos cuidados. Precisamos ter consciência que seu único desejo é calor humano, aquele mesmo que ganhava no ventre a todo instante. Anseiam pelo toque, pele na pele, carinho… E se eu lhe dissesse que existe a possibilidade de resgatar tudo isso por meio de uma massagem específica para essa fase da vida, chamada Shantala?
A fotógrafa Simara da Rosa conta que conheceu a técnica há alguns anos, mas a buscou por um objetivo muito profissional. Ela já realizava ensaios newborn – aqueles feitos com bebês nos primeiros dias de vida – e acreditava que essa massagem pudesse ajudar nas sessões. Capacitou-se em Shantala, trouxe a técnica para Montenegro, mas descobriu que para aquele objetivo a técnica não se enquadrava.
“Shantala é um lindo presente que o pequeno ser pode receber de sua família. Há vínculo familiar em cada toque. Eu jamais poderia invadir esse momento de tamanha intimidade”, explica Simara. A descoberta lhe causou certa frustração, mas ao mesmo tempo gerou uma vontade enorme de passar adiante este conhecimento capaz de mudar a vida de uma criança. Ela criou então um workshop, com 1h30min de duração, feito com turmas de no máximo três pessoas, realizados na Doc Photos ou individualmente, na casa da pessoa. “É uma técnica extremamente simples, mas de uma essência única”, destaca.
A aula é prática e aplicada diretamente no bebê ou em uma boneca caso a mãe ainda esteja gestante e já queira preparar-se para a chegada do herdeiro. A Shantala deve ser aplicada após os 30 dias de vida do bebê. Antes disso, porém, já é possível oferecer a ele algumas manobras específicas como precaução para cólicas, algo muito comum nesse período.
Depois de aplicada a massagem, é indicado um banho de imersão para um melhor aproveitamento e relaxamento total. “São em torno de 45 minutos de contato direto com a mãe (ou outro familiar), de toque, de carinho, de intimidade, estabelecendo um profundo vínculo de confiança entre eles”, complementa.
“Um momento de conexão”
Caroline Brenner é uma das mamães montenegrinas que aprendeu a Shantala. Tudo começou quando levou seu bebê, Theodoro, na Doc Photos para uma sessão de fotos e ficou sabendo do workshop. “O assunto me interessou demais. Eu iria fazer com toda certeza”, diz. Caroline se refere à técnica como o melhor investimento feito em favor do filho, tanto pelo aprendizado dela quanto pelo que consegue passar para Theodoro.
A Shantala entrou na rotina. Theodoro recebe a massagem da mãe e do pai, Gustavo Harres de Oliveira. “Aplico no meu filho todas as noites antes de ele tomar o banho. No momento da massagem é simplesmente magnífico o que acontece. É uma conexão incrível que fomos criando desde o primeiro dia da massagem, cada expressão dele, cada gesto retribuindo o meu toque”, derrete-se a mãe. Theodoro tem apenas 1 mês e 20 dias, mas já sabe expressar que gosta do toque da mãe. “Ele fica completamente relaxado e me permite tocar em todas as partes do corpo dele. Sorri muitas vezes e gagueja de prazer”, diz Caroline, indicando para todas as mamães.
A técnica
As manobras são realizadas com o auxílio de um óleo vegetal aplicado na criança despida, em um ambiente climatizado que ofereça tranquilidade para o momento. O massageamento de todo o corpo é feito com movimentos harmoniosos que possibilitam ao bebê e seu familiar a descoberta de várias sensações. Isso funciona como um canal de comunicação entre eles. “É lindo”, explica Simara. Por isso, é fundamental que ambos estejam bem naquele momento, com a mente completamente conectada um no outro. O objetivo maior é a troca de energia e amor.
Origem
Shantala é uma massagem milenar indiana trazida para o ocidente pelo médico obstetra francês Frédérick Leboyer. Ele viu uma mulher em meio à caótica rotina indiana aplicar a massagem em seu bebê em plena rua. O detalhe é que o bebê estava concentrado na sua mãe e em seus toques, apesar do ambiente barulhento. O nome da técnica Shantala foi dado em homenagem a essa mulher, uma paraplégica, que presenteava seu filho com o que ele mais precisava na vida: amor!