Retinoblastoma: câncer ocular necessita de diagnóstico precoce

Nos últimos dias, o anúncio dos jornalistas Tiago Leifert e Daiana Garbin sobre o câncer raro no olho da filha de dois anos, Lua, teve grande repercussão. A pequena está com retinoblastoma. Você já ouviu falar? Se trata de um tumor maligno originário do crescimento desordenado das células da retina, que é a parte do olho responsável pela visão. O câncer ocular é o mais comum em crianças, mas este tipo é raro e responde por apenas 3% dos cânceres infantis.

Pietro Baptista de Azevedo, médico oftalmologista na Clínica Monaretto, em Montenegro, e professor de Medicina na Feevale, explica que o retinoblastoma ocorre apenas em retinas imaturas, sendo mais comum em menores de cinco anos e especialmente abaixo dos três anos de idade.

Pietro Baptista de Azevedo, médico oftalmologista na Clínica Monaretto, em Montenegro

Pietro adianta que não há maneiras de prevenir o câncer, mas tem como fazer o diagnóstico precocemente através de exames preventivos na primeira infância. Em vídeo publicado em suas redes sociais, Leifert e Daiana afirmam que é muito difícil de identificar o câncer, mas que tiveram “sorte”. Isso porque o pai da pequena, na hora de brincadeiras, notou um movimento irregular em seu olho direito, além de uma espécie de “capa” branca sobre a pupila. A partir daí, Lua já teve o diagnóstico e passa por tratamento já há quatro meses, durante os quais fez quatro sessões de quimioterapia. Leifert contou que Lua está com o grau E da doença, que é o máximo, mas enxerga bem com o olho esquerdo.

O oftalmologista explica que os principais sinais e sintomas percebidos por Leifert são os mais comuns. Um deles é a leucocoria, que é justamente este reflexo branco na pupila com uso de lanterna ou flash em fotos, também conhecido popularmente como “reflexo de olho de gato”. O estrabismo, que é um desvio anormal do olho, também é destacado por Pietro. “Ainda, existe a redução da visão, que dificilmente é percebida quando é unilateral; dor ocular e olho vermelho, inflamado. Mas, todos eles costumam ser tardios, por isso a importância de consultas periódicas mesmo em crianças assintomáticas”, destaca.

O diagnóstico precoce é a chave para o sucesso do tratamento. “Quanto mais precoce maior a chance de sobrevivência e preservação do olho e até da visão.” Segundo Pietro, na maioria dos casos, o retinoblastoma é curável, com aproximadamente 90% de sucesso em centros especializados, mas ele adianta: nem sempre é possível manter a visão ou até mesmo o olho. O rastreamento é feito pelo pediatra com o teste de reflexo vermelho após o nascimento, que Pietro explica ser conhecido popularmente como o “teste do olhinho”. Basicamente, o médico observa o reflexo da luz emitida pela lanterninha no fundo do olho da criança. Se há alguma alteração na estrutura, esse reflexo ganha uma cor diferente e pode não ser igual entre os dois globos oculares. Obrigatório na rede pública, ele deve ser feito em todos os bebês ainda na maternidade. Pietro alerta que consultas regulares com o oftalmologista são fundamentais e a primeira delas deve ocorrer dentro do primeiro ano de vida, geralmente entre os seis e 12 meses.

O oftalmologista explica que o retinoblastoma se desenvolve quando há falta ou mutação das duas cópias do gene RB1 (um gene supressor de tumor), o que pode ser herdado ou se desenvolver na retina do bebê. “Na forma hereditária, que corresponde a aproximadamente 1/3 dos casos, geralmente a criança recebe de um dos pais a mutação que estará presente em todas células de seu corpo levando a retinoblastomas bilaterais maiores e mais precoces”, afirma. Já na forma esporádica/não hereditária o retinoblastoma é unilateral, ocorre após um ano de idade, não é transmissível aos descendentes e não há predisposição para outros tumores. “Ela ocorre quando as mutações no gene surgem durante a formação da retina, assim não estão presentes nas demais células do corpo”, pontua.

Tiago Leifert e Daiana Garbin trouxeram o drama de Lua a público para incentivar o diagnóstico precoce. Foto: Reprodução

Existe tratamento?
Sim. Pietro explica que a modalidade de tratamento depende do grau/estadiamento do tumor e tem como foco principal salvar a vida da criança e eliminar o câncer. “Em segundo lugar tenta-se preservar o olho e, se possível, preservar o máximo de visão; nos casos hereditários ainda se tem a preocupação de evitar um segundo câncer”, aponta. Assim, pode ser realizado com terapias oftalmológicas (mais comumente laserterapia/fotocoagulação), quimioterapia e radioterapia. Em casos muito avançados pode ser necessário retirar o olho, a chamada enucleação.

A quimioterapia pode ser usada tanto para atacar o tumor quanto para reduzi-lo e tornar a laserterapia mais eficiente e pode ser realizada de forma intraarterial. “Isso ocorre através de um cateter, onde aplica-se a medicação dentro da artéria oftálmica, assim reduzindo os efeitos colaterais no resto do corpo”, afirma Pietro. A radioterapia também pode ser realizada de forma localizada com uma pequena placa com sementes radiativas colocada fora do olho, perto do tumor.

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