Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, diz o ditado. E ele se encaixa perfeitamente quando o assunto é gestação e exercício físico. Talvez você até já tenha visto fotos ou vídeos das chamadas “grávidas fitness”, que malham pesado e, logo após o parto já mostram corpos surpreendentemente sarados. As cenas por vezes geram algum ciuminho, afinal, qual mamãe não quer exibir um corpo em forma rapidamente. Mas será saudável?
O Ibiá Saúde foi tirar a dúvida com a professora da Faculdade de Medicina da UFRGS e ginecologista e obstetra dos hospitais de Clínicas e Moinhos de Vento, em Porto Alegre, Janete Vettorazzi. E ela esclarece que excessos, o exercício extenuante, é arriscado na gestação. Porém, o sedentarismo também. É preciso encontrar a medida correta.
“Algumas gestantes têm contraindicação. Nesses casos a prática do exercício não é indicada por causar risco. As demais, devem se exercitar, sem ultrapassar os próprios limites”, diz Janete. Casos de gestações de gêmeos, problemas de colo de útero, placenta prévia, risco de prematuridade ou pressão alta não controlada, entre outras razões, são os quais as atividades físicas não são indicadas.
Pode qualquer exercício? Não é bem assim. Janete Vettorazzi diz que é preciso atentar a alguns cuidados, mesmo que a mamãe seja uma esportista habituada a treinar diariamente. “A recomendação internacional é que a gestante não ultrapasse 2h30min ou 3h semanais de atividade física”, diz a especialista. A musculação, que por vezes gera temor, é liberada para gestantes. Já os exercícios de impacto não. Cavalgada, escalada, mergulho e qualquer outra atividade que gere risco de queda ou acidentes devem ser evitados. Já ao fazer atividade em piscina, é preciso atentar à temperatura, que não pode ultrapassar os 32 graus. “No caso de atletas, têm que acompanhar para que não se ultrapasse os limites seguros”, destaca Janete.
Não se deve pensar, porém, na atividade física como algo de risco, sempre capaz de colocar em perigo a gravidez. Ao contrário. Ele é indicado na grande maioria dos casos. “Feito de forma adequada, o exercício diminui o risco de problemas de pressão alta e diabetes”, destaca a obstetra. Por isso, mesmo que a mulher ao saber que está grávida não esteja fazendo nenhuma atividade, ela pode se exercitar a partir daquele momento. Não é hora de virar uma atleta. Porém, exercícios leves são incentivados.
Correndo juntinho da mamãe
O bebê de Raíssa Joner e Lucas Caetano ainda não tem um nome definido, mas já tem um currículo vasto de práticas esportivas. É que a educadora física e futura nutricionista de 26 anos descobriu a gravidez aos três meses de gestação, tendo praticado musculação, muay thai, Pilates e participado de corridas de trilhas bem fortes. “Embora ainda haja o mito de que grávida não pode fazer quase nada, minha médica sempre me incentivou a permanecer com as atividades, desde que não sentisse nada de cólicas ou desconfortos”, diz Raíssa.
Agora ela está no sétimo mês de gravidez e reduziu a intensidade das atividades. “Não estou correndo mais. Deixou de ser confortável devido ao peso nas costas e bexiga. Sigo fazendo musculação, Pilates, caminhadas e pedaladas quando possível. Até porque o tempo tem sido curto”, conta ela que segue acumulando o trabalho e o estágio da graduação. Raíssa define sua gestação como “mais que tranquila”, sem enjôos, nem nenhum sintoma incômodo ou sustos que a fizessem procurar atendimento médico emergencial.
Como qualquer grávida, há dias em que fica com um pouco de inchaço nas pernas e dores nas costas. Drenagem linfática e quiropraxia têm sido de grande ajuda para reduzir esses sintomas típicos da reta final da gestação.
O fato de ser ativa e ter praticado exercícios antes e durante a gestação, faz com que a mamãe de primeira viagem esteja confiante no desenvolvimento saudável de seu bebê. “E tem tudo para ocorrer um parto normal tranquilo, além de fisiologicamente, oferecer mais facilidade de voltar ao peso e à forma física mais rapidamente, ainda mais amamentando”, diz ela, confiante.
A educadora física e a gestante
Fazer a atividade física de forma adequada e com acompanhamento profissional também auxilia para que o exercício leve a apenas mais saúde para mãe e bebê. Débora Chimene Klein, de 31 anos, grávida de seis meses, fala com propriedade do assunto. Formada como educadora física há 7 anos, enquanto espera seu bebe, se exercita bastante. Ela e o papai Igor Klein esperam ansiosos pela chegada do Arthur.
A educadora física que atua na academia do Sesc costuma orientar as gestantes que lá treinam para seguirem em movimento, mas adaptando o exercício. Débora lembra que depende muito de cada gestação, mas que não considera adequado para mulheres sedentárias iniciarem uma atividade física ainda no primeiro trimestre da gravidez. “Se antes de engravidar não fazia nenhuma atividade, na gestação opte por caminhada ou coisa leves, que não elevem muito a temperatura corporal e batimento cardíaco. Já, se é uma mulher ativa, não tem problema nenhum. Ainda assim, o primeiro trimestre é um período mais delicado”, diz Débora.
O importante é adaptar o treino para que ele seja confortável para a mãe. E o abdominal é proibido para gestantes. Para musculação, a educadora física lembra que a carga, na maior parte dos casos, costuma ser reduzida devido ao desconforto para a mãe. Algumas gestantes, que já treinavam muito pesado, mantêm a carga intensa, mas são casos muito específicos. “A maior parte reduz para manter a pratica confortável. Vai adaptando os exercícios conforme se sente melhor. Além disso, exercício de impacto não é indicado. E, na musculação, prefiro passar às alunas exercícios fora de aparelho, para poder ajustar uma posição mais confortável, pela barriga mesmo”, diz Débora Chimene Klein.
Ela destaca, ainda, que não existe um exercício específico para indicar às gestantes como melhor, mas, que hidroginástica, natação, Pilates e caminhada são muito bons para qualquer gestante e que casos específicos precisam ser avaliados. “A minha gestação está sendo tranquila e a obstetra sempre incentiva o exercício. Diz que a atividade física é bom não só para a gestante, mas, também, para o bebê”, complementa a mamãe.
No embalo da dança, desde o ventre
Nem todo exercício físico é necessariamente um esporte. Dançar pode ser considerado uma atividade física e exigir bastante esforço. Bianca Leitão Ávila, a Bibi, professora de Dança e diretora do Studio Bálance que o diga. Aos 30 anos ela deu à luz seu primeiro filho, fruto do casamento com Diego Ávila. Théo Leitão Ávila nasceu em 13 de julho e, apesar de ter apenas dois meses, já conhece alguns palcos.
Apaixonada pela sua profissão, Bibi nunca pensou em parar de dançar por conta da gravidez, a não ser que tivesse alguma complicação. Como foi muito bem acompanhada e não teve sustos, dançou até o finalzinho da gestação. “Como estava tudo bem no decorrer da gestação, não tinha necessidade de parar”, diz Bibi, que é diabética e por isso fez um acompanhamento todo especial, endócrino, nutricionista e equipe de enfermagem, além de obstetra.
Ela trabalhou durante os nove meses, todos os dias montando ou apresentando coreografias. Na medida que a barriga foi crescendo, foi tendo maior cuidado com alguns exercícios, que eram perigosos. E, bem no final, diminuiu a intensidade. O parto foi normal, como ela desejava. “Planejei e mentalizei tudo, me preparei física e psicologicamente pra isso. Embora fosse uma gravidez de risco, não me senti assim em nenhum momento. Eu sabia que daria certo”, comemora a mãe.
Agora ela ainda está afastada dos palcos, em casa, mas já planejando o espetáculo de final de ano do Bálance. Muito do bem estar e recuperação breve que teve, inclusive retorno ao corpo e condicionamento físico anteriores, Bibi credita à dança. “Fez toda diferença. Não tive nada, me sentia 100% pra fazer tudo. E mesmo tendo uma doença complicada de controlar, tive uma gestação maravilhosa. Dei aula até o último dia, me apresentei na Mostra Bálance In Dance 6, apenas quatro dias antes de Théo nascer, de 36 semanas. Foi a experiência mais linda da minha vida, dançar um duo com o meu baby e depois um trio (Mamãe, Papai e Théo)”, emociona-se. Apenas 15 dias depois do nascimento do Théo, ela estava no seu peso de antes de engravidar.
Obviamente, a liberação médica para que Bianca fizesse tamanho esforço já próximo do parto se deu após toda a gestação ser muito bem acompanhada e do conhecimento de que seu corpo já estava acostumado e tinha preparo físico pra isso. Além dos médicos, ela tinha a vigilância e apoio contínuo do marido, muito envolvido desde o princípio em todos os passos até o nascimento de Théo. “Ele esteve comigo em todos os momentos, nas consultas, exames e durante o trabalho. Eu acho que toda gestante precisa de alguém presente nesses momentos, pois já temos que lidar com todas as mudanças naturais que ocorrem e ter alguém pra dividir os medos e inseguranças faz muita diferença. Não importa se é o parceiro, a mãe, a sogra, desde que a pessoa queira estar ali e fazer parte desse momento lindo e que curta cada etapa até a chegada do baby”, finaliza a bailarina e agora mãe.