Dados de 2020, divulgados em 2022 pelo Departamento de Economia e Estatística, da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do Rio Grande do Sul, mostram que, no Estado, a expectativa média de vida ao nascer dos gaúchos é de 77,45 anos. Falando de Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020 mostram que a expectativa do brasileiro é de 76,8, sendo a média de 73,3 anos para a população masculina e 80,3 anos para a feminina. A expectativa de vida vem aumentando ano a ano no Brasil. Em 2018, era, em média 76,3 anos. Já em 2019, subiu para 76,6. Dados de 2020 mostram que aumentou ainda mais para 76,8.
Vários fatores exercem influência direta na expectativa de vida da população de um país, como serviços de saneamento ambiental, alimentação, índice de violência, poluição, serviços de saúde, educação, entre outros. O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno recente, devido as melhorias nas condições de vida pelas quais o país passou nas últimas décadas, aumentou-se a expectativa de vida, e consequentemente, a população idosa no Brasil. Por isso, a qualidade de vida na terceira idade é tema de extrema importância.
Se preocupar com a qualidade de vida dos idosos é uma forma de ampliar a capacidade do próprio organismo. Do ponto de vista físico, significa um aumento da saúde e menores possibilidades de sofrer com doenças e condições incapacitantes. Segundo o Chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre, Virgílio Olsen, a qualidade de vida é individual do que cada um considera bom. “Porém algumas coisas são comuns, como passar tempo com seus familiares e amigos, manter-se ativo física e socialmente, manter seus hobbies e inclusive criar novos”, destaca.
Exercícios físicos: a força e resistência essenciais aos idosos
Lásaro da Rosa, graduado em Educação Física e pós-graduado em Psicologia do Esporte e do Exercício Físico, atende em torno de 100 pessoas acima de cinquenta anos de idade dentro do projeto Maturidade Ativa, do Sesc Montenegro. “Atendemos meninos e meninas com até 80, 90 anos”, diz. Segundo o profissional, em treinos semanais, além da idade, a condição física de cada aluno é levada em consideração.
Segundo Lásaro, há uma grande necessidade das pessoas da terceira idade praticarem a musculação. Isso porque, os idosos vão perdendo massa muscular ao longo dos anos, e, consequentemente, perdem também duas valências físicas: a força e o equilíbrio. “Esta é a única modalidade que dá o aumento de massa magra”, diz. Nesta idade, há muitas quedas que podem trazer fraturas. “Eles estando fortes vão ter mais resistência, força e equilíbrio.” Além disso, com o passar dos anos, há uma perda de densidade óssea, principalmente acima dos 50 anos. Assim, novamente entra a importância da musculação. “Auxilia na manutenção muscular e na resistência óssea. O osso também precisa de musculação, de tensão”, acrescenta.
Mas, não apenas a musculação é importante para os idosos. Outras modalidades têm papel fundamental não apenas fisicamente falando, dentre eles, natação, hidroginástica, caminhada, alongamento, dança e pilates. Tudo depende do que você gosta e se adapta melhor.
São vários os benefícios dos exercícios físicos regulares na terceira idade. Além da melhora do equilíbrio e manutenção/aumento da densidade óssea, fisicamente, as atividades físicas promovem autonomia para realização de tarefas simples do cotidiano, o que se torna uma dificuldade com o passar dos anos. Ainda ajuda no controle de peso ou diminuição da gordura corporal.
Os benefícios fisiológicos também são muitos, dentre eles, a ajuda no controle da tensão arterial e na diabetes e atua no controle do colesterol com diminuição dos níveis do colesterol ruim e aumento do bom. E, ainda, há os benefícios psicossociais, com aumento da autoestima e do estado de humor; diminuição do risco de depressão, estresse e ansiedade; ajuda no controle da dependência química; diminui o consumo de remédios (em alguns casos); melhora a qualidade do sono e promove momentos recreativos e de socialização.
Lásaro destaca que a convivência em grupos faz toda a diferença com encontros e trocas durante as atividades propostas no Sesc, seja dentro ou fora do Maturidade Ativa. “Formamos muito mais do que apenas um grupo para a prática de atividades. São pessoas que interagem entre si”, pontua. “A parte da convivência é muito importante para o público idoso. Vai além do físico. É corpo e mente atuando juntos. Aqueles que chegam bem, saem melhor, e aqueles que não chegam tão bem, sintonizam com a energia dos outros idosos”, salienta.
Múltiplas formas para prevenir doenças
Algumas das principais doenças que afetam os idosos são as cardiovasculares e respiratórias, além cânceres, diabetes, osteoporose e Alzheimer. Para Olsen, “o envelhecimento bem sucedido tem um tripé composto por atividade física, nutrição e interação social.” De forma geral, não há grandes segredos em relação ao que deve ser feito para prevenir doenças nesta idade. Adotar hábitos saudáveis e praticar atividades físicas regularmente são fundamentais.
Além disso, o acompanhamento médico com check up periódico para diagnóstico precoce tem extrema importância para o tratamento adequado de eventuais doenças e até mesmo, em diversos casos, facilita a cura. Assim, você evita agravos na saúde. E não para por aí. Os idosos precisam ter descanso e lazer apropriados, pois ambos têm muita importância na saúde mental e emocional na terceira idade. Por isso, cultivar bons pensamentos e manter a mente ativa e estimulada também ajuda esta parcela da população a se manter e se sentir ativa e útil.
Além disso, a vacinação para pessoas acima de 60 anos é tão importante quanto para recém nascidos, uma vez que certas doenças infecciosas podem levar a quadros crônicos de gripe, por exemplo, que evoluem para uma pneumonia e aumentam o risco de morte em quem tem diabetes, problemas cardíacos ou pulmonares. A Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda que idosos tomem de forma rotineira, cinco imunizantes para condições específicas, sendo elas Gripe (Influenza), Herpes zóster, Hepatite B, Pneumonia pneumocócica, Diferia e Tétano. Pessoas com mais de 60 anos devem seguir rigorosamente os calendários de vacinação sempre acompanhados por um geriatra, que poderá apontar contra indicações se for o caso.
Uma parte dos problemas de saúde que podemos ter na velhice tem origem genética, outra, depende de exposições ambientais que o organismo venha a sofrer e uma terceira, depende do estilo de vida, ou seja, das escolhas de cada um. É justamente nesta última que podemos e devemos intervir.
De forma geral, a prevenção se faz em três níveis:
Prevenção primária: é tudo que se faz no intuito de remover causas e fatores de risco de um problema de saúde antes que a doença ocorra. Inclui a promoção da saúde e a proteção específica contra certas doenças (por exemplo: imunização e exercícios físicos).
Prevenção secundária: são as ações que visam detectar um problema de saúde em seu estágio inicial, muitas vezes subclínico, facilitando o diagnóstico definitivo e o seu tratamento. Assim, é reduzida ou prevenida sua disseminação ou suas consequências no longo prazo (exemplo: rastreamento de câncer de mama e estratificação do risco cardiovascular).
Prevenção terciária: são as ações que visam reduzir os prejuízos funcionais consequentes a um problema agudo ou crônico, incluindo as medidas de reabilitação (exemplo: reabilitar um paciente após um infarto ou após um acidente vascular cerebral).
90 anos de pura disposição
Maria Cruz, de fantásticos 90 anos de idade, participa do Maturidade Ativa há pelo menos 10 anos. O projeto não realiza apenas atividades físicas, mas sim, trabalhos manuais como tricô e crochê, ginástica, aula de dança, canto, campeonatos de canastra, bingo, gincana, aulas de câmbio, pilates e até mesmo passeios. Mas, não pense que dona Maria tem como principal hobbie tricotar. Ela gosta mesmo é da musculação. “Eu fazia ginástica, mas eu não gosto de coisa muito parada não. Gosto de coisa mais ativa. Eu adoro fazer musculação”, ressalta.
Com disposição invejável, dona Maria, normalmente, faz a modalidade todos os dias, sob supervisão de Lásaro. “Eu não saio mais daqui, porque a gente fica mais elástica. Eu tinha muita dor na coluna e assim, parece que melhora. Se não for assim, a gente acaba ficando em casa, sentada, com dor e sem fazer nada”, explica. “O professor sempre auxilia a gente quando sente alguma dor, ele ajuda a fazer os exercícios. Quando ele dá uma saidinha todo mundo pergunta cadê ele”, conta, entre risos.
“Uma hora e meia dentro da academia e eu ganho 10 anos de vida”. Este é o relato de Evani Pohren da Silva, 67, que não participa do Maturidade Ativa, mas treina na academia do Sesc há mais de 10 anos. Ela relembra que iniciou por recomendação médica, após fortes dores. “Resisti para não vir, mas era mais por medo de me entrosar”, diz. Após se “render” e iniciar na academia, não só as dores de Evani foram embora, como também todo o receio de recém chegada. “Digo que o professor é nosso tira dor”, complementa.
Por isso, é prova viva de que a atividade física em grupos, por exemplo, vai muito além de apenas benefícios físicos. “A mente é muito importante, na verdade, é o principal. É muito mais do que apenas o corpo. É o emocional, a amizade que se criou aqui dentro é fundamental. Digo que aqui tenho minha segunda família”, salienta. Evani também não gosta do mais fácil. Para ela, quanto mais desafiadora a atividade, melhor. “Eu me aventuro dentro da academia. Quanto mais difícil, mais eu gosto”, conclui.