Em Montenegro, quase 4 mil pessoas esperam por procedimentos de saúde

Falta liberação. Especialidades estão divididas entre exames e cirurgias

Se uma dor de cabeça constante é um incômodo, ficar com um osso quebrado ou a dúvida de estar com uma doença mais grave é muito pior. Essa é a realidade de milhares de brasileiros que utilizam o SUS e aguardam na fila para realizar exames e cirurgias. Em Montenegro, 3.898 pessoas aguardam encaminhamento para realizar algum desses procedimentos. De responsabilidade do governo do Estado, após liberação da regulação, pacientes ainda precisam esperar serem chamados pelos hospitais de referência.

Cirurgia geral, traumato-ortopedia e neurocirurgia são os procedimentos com mais pessoas na espera. Juntos totalizam 811 pessoas na fila pelo encaminhamento, sendo respectivamente 322, 320 e 169 em cada. Já na área dos exames, a expectativa é muito maior. 973 montenegrinos aguardam para realizar uma colonoscopia, 499 para tomografia e 480 para endoscopia. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até a primeira semana de julho, eram 2.485 pessoas de Montenegro esperando por encaminhamento para exames e 1.413 para cirurgia.

A secretária da Saúde, Cristina Reinhemer, explica que todos esses procedimentos são de responsabilidade do governo do Estado, e tudo aquilo que é atribuído ao Município está em dia. “Todos esses estão na nossa lista no sistema, mas a gente tem aqueles que já foram (encaminhados) e estão só esperando pela cirurgia”, diz. Segundo ela, os que estão aguardando o chamado do hospital não podem ser contabilizados pela SMS.

Sobre a média de tempo na fila de espera, a secretária conta que há pessoas esperando por cerca de dois anos. Entretanto, se for contabilizar até o momento de efetivamente ser chamado para a cirurgia a realidade pode ser outra. Esse é o caso do montenegrino Maurício Valdívia, que em outubro de 2017 sofreu um acidente de caminhão e desde então aguarda por uma cirurgia na medula.

Com compressão na parte da medula espinhal e os movimentos limitados, Maurício aposta na cirurgia para poder se reerguer. “Essa é uma cirurgia que em seis meses tu está bom; eu estou há mais de três anos parado. Eu vendi carro, caminhão, tudo, eu não tenho mais nada”, conta.

Desde o acidente, o montenegrino já passou por diversas consultas, tanto em Montenegro como em Canoas. “A Secretaria da Saúde me alegava que eu estava em uma fila de espera desde 2017, na primeira consulta que fui encaminhado a Canoas. Só que eu não estava”, fala. A Autorização de Internação Hospitalar (AIH), documento necessário para a cirurgia, veio somente em maio deste ano, mas desde então ele ainda não foi chamado para o procedimento. Ele já entrou com recurso na Defensoria Pública e na ouvidoria de Saúde, porém nada mudou.

De acordo com Cristina, Maurício Valdívia foi encaminhado para Canoas, porém desistiu do primeiro atendimento e teve de entrar novamente na fila. “Ele já está encaminhado para o Estado, para Canoas, e ele está com a AIH em mãos, só esperando a marcação do procedimento, que aí não depende do município, depende de Canoas”, diz.

Fila paralisada pela Covid-19
A secretária da Saúde explica que muitos procedimentos não estão sendo marcados pela falta de anestésicos no mercado. “Hoje o que nos traz problema é isso (a pandemia). Com o Covid as coisas subiram demais, e além de subir demais não tem para vender, como anestésicos”, declara.

Diversas especialidades nas quais os montenegrinos aguardam encaminhamento são realizadas em outros municípios. Mamografia, por exemplo, era realizada no Hospital Montenegro 100% SUS, mas, atualmente, é feita principalmente em São Sebastião do Caí.

Entretanto, o HM está retornando gradativamente, desde a última sexta-feira, 23, com as cirurgias eletivas, que são aquelas que não têm urgência. Há pelo menos um ano esses procedimentos estavam suspensos devido a pandemia.

Gestão tripartite
A administração da política pública no SUS é gerenciada pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT), dentro qual o Município, o Estado e a União têm as suas responsabilidades. Cristina explica que o Município é responsável por toda a Atenção Básica, que são demandas consideradas de baixa complexidade. Já as demandas de média e alta complexidade, como exames e cirurgias são de incumbência do Estado. Já a União deve mandar os recursos. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado a partir da Constituição Federal de 1988, que concedeu o direito à saúde aos cidadãos brasileiros, e tem como princípio o acesso integral, universal e igualitário ao sistema público de saúde.

Pessoas aguardando encaminhamento para procedimentos
Cirurgias
Cirurgia geral: 322
Traumato-Ortopedia: 320
Oftalmologia: 139
Cabeça, Pescoço e Otorrinolaringologista: 129
Vascular: 112
Proctologia: 57
Neurocirurgia: 169
Ginecologia: 165
Ao todo: 1.413

Exames
Endoscopia: 480
Colonoscopia: 973
Ressonância: 364
Tomografia: 499
Ecodoppler: 130
Ecocardiograma: 39
Ao todo: 2.485

Últimas Notícias

Destaques