ASSISTIR. Lideranças da região apelaram por revisão da decisão do Estado
A criação do Programa Assistir, lançado pelo governo do Estado, vai mudar critérios de distribuição de recursos para os hospitais gaúchos. Ele começa a valer a partir do ano que vem e, para o Hospital Montenegro, deve significar uma redução de R$ 1,4 milhão por mês de repasses. Em alerta, a casa de saúde vem se preparando com alternativas para enfrentar a escassez de recursos. Já considera redução de capacidade instalada e, inclusive, o abandono da categoria de 100% SUS.
“O hospital está montando o seu planejamento e sua forma de como irá sobreviver”, comentou ao Ibiá o diretor Executivo da instituição, Carlos Batista. “Efetivamente, quem deve ter uma preocupação são os gestores municipais de Saúde que terão redução do atendimento do SUS quando o hospital deixar de receber as verbas. Isso é claro. Eles vão ter que dar conta de onde levar os pacientes deles”, lamentou.
O Assistir foi tema de reunião na manhã dessa quinta-feira, 23, com representantes dos municípios do Vale do Caí e a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann. As lideranças apelaram ao governo estadual por revisão da decisão. Destacaram a importância da casa de saúde, que hoje atende 14 municípios, exclusivamente pelo SUS. Arita, porém, mesmo dizendo reconhecer a relevância do hospital montenegrino, defendeu que a nova divisão dos recursos é questão de “justiça com o recurso público”.
“O Programa Assistir se refere ao que vinha sendo transferido por parte do tesouro do Estado, que são recursos que o governo coloca na rede hospitalar como apoio; um complemento”, colocou a secretária. “E ele vem corrigir uma grande distorção. A metade do dinheiro do tesouro do Estado está, até 31 de dezembro, em 21 hospitais. E nós temos 278 hospitais que atendem SUS, dos quais muitos são do porte do de Montenegro, e que funcionam e atendem sem nenhum incentivo.”
Arita explicou que a divisão dos recursos levará em conta novos indicadores; e chegou a declarar que o Hospital Montenegro poderia oferecer mais do que está oferecendo; e que não consegue cumprir metas do contrato SUS. Ao Ibiá, o diretor executivo do HM apontou que já ocorrem cortes nos repasses quando alguma meta não pode ser cumprida; e defendeu a casa de saúde. “A secretária não dá conta do que o hospital faz de excedente do contrato, da quantidade de pessoas que atendemos na emergência, da quantidade de pessoas que internamos ou dos tipos de patologia que internam no hospital”, comenta. “É claro que o hospital pode oferecer mais. É só colocar recursos.”
A própria secretária de Saúde chegou a sugerir, na reunião, que a casa de saúde deixasse de atender 100% SUS. “Essa é uma oportunidade ímpar para abrir atendimento de outras áreas que não só o SUS; como fazem a maioria dos hospitais”, disse Arita Bergmann. Carlos Batista comentou a questão à reportagem. “É uma lógica perversa porque as pessoas não têm recursos. O País está com mais de 14 milhões de desempregados e eles vão arrumar dinheiro onde pra pagar um plano de saúde?”, aponta o diretor executivo do HM.
O encontro pela manhã terminou com o agendamento de uma nova reunião, para outubro, entre o Estado, lideranças da região e o hospital. Arita sugeriu que a casa de saúde apresente ao governo uma proposta de novos serviços, como traumatologia e neurologia, que possam elevar o coeficiente de repasses dos recursos através do novo programa. Carlos Batista, porém, explicou ao Ibiá que esse não é um processo tão simples. “Também tem que criar condições. Tem que ter o recurso já garantido para trazer essas altas complexidades. Não é de não querer fazer”, coloca.