Pareciense mostra documento antigo do pai
Aos 70 anos, o aposentado João Cirio Fell é um apaixonado pelas coisas antigas e as tradições ensinadas por seu pai. Já tendo viajado o mundo, o pareciense ainda valoriza as coisas simples do campo e tem, em seu sítio, verdadeiras relíquias herdadas da família, com carretas, charretes, prensas, balanças e demais itens. Dentre as memórias do passado, está a habilitação existente para puxar veículos de tração animal.
O documento oficial está em nome do pai Oscar Jacob Fell, falecido há 15 anos. Emitido em 1940 – oito anos antes do nascimento de Cirio – o papel, hoje, está devidamente emoldurado e à mostra. “É uma coisa histórica. Acho bonito de dividir para relembrar ao jovem como era antigamente”, afirma o aposentado. Feito em uma época em que os carros eram uma realidade distante, o papel habilitava o uso de carretas ou charretes puxadas por bois.
Aliás, Cirio faz questão de explicar que as carretas são os veículos com quatro rodas e as charretes, os com duas. A carteira de habilitação era emitida pela Delegacia de Polícia de Montenegro. Na época, Pareci era um distrito do município. Para a família, era ela que permitia o uso do veículo para o ir e vir do dia a dia, apanhando e plantando laranja e bergamota, fazendo diversos tipos de chimia, dentre outras atividades.
“O agricultor fazia de tudo. O pai comprava sal e tecido, mas até um pouco de açúcar a gente mesmo fazia. 80% dos nossos mantimentos eram produzidos da terra”, relembra, orgulhoso. Habilitado para uso, o pai Oscar fazia tudo isso e mais um pouco, criando sua bela família. Círio acredita que tenha sido somente em meados da década de 60 ou 70 que o veículo começou a perder relevância, com o crescimento dos automotores, levando ao fim do documento de autorização.
Emissão do documento sem exigência de prova
João Cirio conta, do que soube do pai, que não era preciso teste para adquirir a habilitação das carretas e charretes. Como todos eram conhecidos na localidade, apenas era feita uma solicitação e emitido o documento oficial. Ele não lembra ao certo, mas acredita que somente eram dadas as autorizações para cidadãos maiores de idade. Ali consta o nome dos pais, a profissão, o estado civil e até a estatura do portador.
Questionado se costumavam ocorrer muitos acidentes ou “engavetamentos” com os carros de boi, Círio afirma que não. Mas há um incidente em que ele e o pai se envolveram que não lhe sai da cabeça. Ele lembra que, em uma ocasião, os dois bois que puxavam a carreta foram atacados por um enxame de abelhas. Assustados, arrebentaram o veículo e saíram correndo em disparada do local. Com o pai, Círio teve que saltar do veículo em movimento.
Manifestação de amor pela tradição do interior
Chegando no sítio dos Fell, já se pode ver de longe os ornamentos da entrada, com uma picareta, um machado e um martelo, todos de modelo antigo, remetendo à tradição local e ao trabalho. Lá dentro, há todo um espaço com diversos outros utensílios do passado. Tem até um aparelho antigo para aplicar veneno nas parreirais de uva. A ideia é que possa ser construído um local mais amplo, para a melhor distribuição dos objetos, em um formato de museu.