Na localidade de Pinheiros, produtora apostou na cultura há um ano. Maioria dos clientes são de Porto Alegre
Nos supermercados locais, já teve muita gente surpresa ao comprar uma embalagem cheia de cogumelos e constatar que a produção era montenegrina. Mas sim. Há cerca de um ano, uma propriedade na localidade de Pinheiros, no interior, vem cultivando o fungo, que, com alto teor de proteínas, é opção para culinaristas, veganos e pessoas preocupadas com uma alimentação mais saudável.
Foi justamente o gosto pelo consumo do item, aliás, que incentivou a produtora Fernanda Cozza, a iniciar o cultivo. “Eu e a minha família já consumíamos e tínhamos uma certa dificuldade em encontrar. A gente comprava em Porto Alegre ou outros grandes centros urbanos, trazia, mas não conseguia ter um consumo constante. Até porque eles têm validade curta”, conta.
Foi pela necessidade vista em casa que a oportunidade foi reconhecida. A propriedade no Pinheiros foi adquirida há quatro anos e seus 40 hectares vinham sendo utilizados na criação de cavalos crioulos – atividade conduzida, principalmente, pelo esposo. E pensando em algo que ela mesma pudesse fazer para incrementar a renda, Fernanda chegou aos cogumelos. “Achei super interessante, mas aí a gente viu que não era muito simples”, salienta.
Antes de a produção começar, foi mais de um ano de uma minuciosa pesquisa. “O processo é bastante complexo e requer um grande investimento, não só financeiro, mas em conhecimento”, diz a produtora. Ela e o esposo buscaram técnicos, fizeram workshops e viajaram para São Paulo – a principal região de cultivo dos cogumelos no país – para buscar instruções. Um consultor de Minas Gerais veio ao Município para auxiliar em todo o processo e no preparo da propriedade. E assim, parte do galpão, onde antes eram criados os equinos, sediou a nova atividade.
Item é pouco consumido
75% dos clientes de Fernanda são estabelecimentos de Porto Alegre. Em Montenegro, ela está em alguns mercados e restaurantes, mas o baixo consumo dos cogumelos por aqui tem demandado um certo esforço para a inserção. “Eu tive que chegar em um por um, porque não tinha essa cultura na cidade”, conta a produtora. Ela também criou uma página no Facebook onde divulga dicas de alimentação e receitas com o fungo. O que não faltam são possibilidades de uso.
Cobrando R$ 10,00 pela bandeja com 250 gramas no varejo; e de R$ 25,00 a R$ 30,00 pelo quilo no atacado, Fernanda destaca a evolução do empreendimento, mesmo que fora do mercado local. “O crescimento (da clientela) é muito rápido, já em função de ter poucos produtores no Estado”, comemora, cheia de planos de expansão.
Em processo complexo, fungos nascem dentro de sacos
Fernanda conta que um dos principais desafios na fase de adaptação foi buscar formas de garantir uma temperatura estável para a produção. Apesar de os cogumelos gostarem da umidade, as muitas mudanças de temperatura que temos na região demandaram a aquisição de climatizadores e ferramentas de medição para criar um ambiente propício ao seu desenvolvimento.
Como eles são bastante sensíveis, os cuidados com o clima, a iluminação e com possíveis contaminantes são muitos. Em algumas das salas, a pessoa só pode entrar com toca, luvas e proteção para os pés. As portas devem ser mantidas sempre fechadas.
A produção ocorre em etapas, cada uma em um local específico. Tudo começa na chamada “área suja”, onde é misturado um substrato, enriquecido com farelos, que enche diferentes sacos plásticos. Tudo isso é levado ao laboratório de inoculação, onde o material é esterilizado. Dentro dele, é introduzida uma semente de trigo, que é “suja” com o micélio – parte vegetativa do fungo, que é adquirida de um fornecedor de fora. Essa semente não pode ter tido nenhum contato com o ar para não ser contaminada por outros fungos.
Cada saco é vedado e levado, então, à sala de colonização, onde fica por 30 dias, até que o cogumelo tome conta de todo o substrato. Dali, os sacos vão para uma das duas salas de frutificação, onde são furados. O fungo, percebendo a entrada de ar, sai para fora no formato em que o conhecemos, pronto para a “colheita”.
Fernanda mostra que pode colher o fungo duas vezes ao dia, direto do saco, tão rápido é o seu desenvolvimento. Por semana, o atual rendimento da produção é de 80 quilos, o que ela promete aumentar – abrindo novas salas – de acordo com a demanda de clientes. Colhido, o cogumelo é embalado e resfriado para conter seu crescimento.
A propriedade trabalha com as variedades shimeji, hiratake, eryngui, europeu e salmão, já pensando em mais diversificação. Em breve, a produtora quer começar a comercializar outros tipos, como os cogumelos medicinais, que serão vendidos em cápsulas.
Agricultura Mais
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