Vivemos num balde de caranguejos

Independente das preferências partidárias de cada um e da sua visão de mundo, todos os montenegrinos saíram perdendo nas eleições deste domingo. Mais uma vez, ficamos sem um representante na Assembleia Legislativa. Cinco pessoas, de diferentes legendas, concorreram a uma vaga, mas nenhuma delas obteve votos suficientes para alcançar o seu objetivo. É a terceira vez seguida e não é preciso fazer muito esforço para entender os motivos. Nossos políticos estão mais focados em seus próprios interesses do que nos da cidade e mentem quando dizem que amam esta terra e fazem tudo que está ao seu alcance para vê-la crescer e prosperar. Se fosse verdade, não gastariam seu tempo apoiando e buscando votos para quem só aparece a cada quatro anos, mesmo quando seus próprios partidos têm gente daqui na disputa. Só pode ser inveja e a melhor analogia possível é do balde da caranguejos. Basta que um deles se mova em direção à saída para que os os demais se irritem e o puxem novamente para dentro do recipiente. É triste e mesquinho ao mesmo tempo.

Impugnado – Dos cinco candidatos a deputado estadual por Montenegro, a maior votação foi a do ex-prefeito Paulo Azeredo (PDT), que também já foi vereador e esteve na Assembleia por cinco mandatos (quatro como titular e uma como suplente). Ele fez 7.729 votos. É pouco, levando em consideração sua trajetória política. Ao mesmo tempo, muito, já que concorreu impugnado e seus votos sequer foram declarados válidos.

Sem apoio – O segundo na corrida “paroquial” foi o emedebista Waldir João Kleber. Em sua primeira experiência nas urnas, ele somou 4.609 votos, número que o credencia a lutar pela indicação do partido para disputar a prefeitura de Montenegro em 2020. Quem sabe, daqui a dois anos, os “companheiros” de partido abracem a causa juntos já que, agora, teve até vereador da legenda pedindo votos a paraquedistas. Antigamente, este tipo de “comportamento” era considerado “trairagem” e podia resultar em expulsão da legenda, mas, hoje em dia, é tudo normal.

Vontade de sair – O microempresário Adairto da Rosa, o Chacall, do PSDB, também fez uma boa votação (3.266), mas ele esperava mais, considerando seu projeto de instalar uma espécie de miniceasa na região. Depois da apuração, ele declarou sua decepção com os eleitores, ao lembrar que, infelizmente, as pessoas tendem a votar sempre nos mesmos, independente de terem ficha limpa e boas ideias. No calor do momento, chegou as dizer que vai abandonar a Política.

Para vereador – Para Márcio Müller, do Solidariedade, e Nei da Kombi, do Pros, o resultado da eleição é reflexo do baixo investimento que fizeram no pleito. Müller terminou a disputa com 1.346 votos, exatamente 200 a menos do que somou há quatro anos, quando obteve 1 546. Já Nei saiu do pleito com 420 votos e mais um grande número de amigos. Ambos devem retornar à urna eletrônica em 2020 como aspirantes a uma vaga na Câmara Municipal.

Contribuição – Rodrigo Corrêa, do PCdoB, único montenegrino a concorrer à Câmara dos Deputados, também fez uma votação mais adequada à Câmara de Vereadores. Pelo menos 892 pessoas confiaram nele para representá-las na capital federal. Sem recursos para investir em marketing, ele sabia que suas chances de vitória eram poucas, mas quis dar sua contribuição à democracia. Deve ser respeitado pela coragem de se expor.

Doentes – A soma dos votos de todos os candidatos da cidade à Assembleia Legislativa é 17.310, número insuficiente para eleger um parlamentar. Contudo, somente Montenegro tem 47.189 eleitores e o Vale do Caí como um todo, em torno de 100 mil. É voto suficiente para eleger até dois deputados e, dependendo das legendas, mesmo três. Só que a maioria trabalha e vota em gente de fora, que verá de novo daqui a quatro anos. Só pode ser doença: síndrome de caranguejo.

Votações – O Cartório Eleitoral da 31ª Zona, com sede em Montenegro, divulgou ontem a votação dos montenegrinos para os cargos de deputado estadual. Os cinco políticos da cidade que estavam na disputa não conseguiram somar votos suficientes para representar a comunidade na Assembleia Legislativa. Confira os mais bem posicionados na votação:

Para a Assembleia Legislativa
Waldir João Kleber – 3.070
Adairto da Rosa – 2.025
Luciano Lorenzini Zucco – 1.265
Tarcísio João Zimmermann – 1.146
Márcio Miguel Müller – 780
Celso Kramer – 614
Ruy Santiago Irigaray Junior – 594
Any Machado Ortiz – 514
Sergio Peres Alos – 508
Luciana Genro – 378
Franciane Abade Bayer Müller – 366
Enio Egon Bergmann Bacci – 363
de Tomasi Ribeiro – 350
Juvir Costella – 344
Elton Weber – 339
Fábio Maia Ostermann – 300
Nei Aguinaldo Alende Garcia – 293
Juliano Franczak – 290
Elizandro de Freitas Sabino – 273
Fabiano Pereira – 243
Regina Maria Becker – 232
José Airton Ribeiro de Lima – 216
João Edegar Pretto – 211
Pedro Luiz Fagundes Ruas – 207
Cláudio Rener Viana Junior – 191
Nelson Luiz da Silva – 185
Nádia Silveira Gerhard – 184
Luis Rogério Marenco Ferran – 183
Roque Valdevino Serpa – 181
Jorge Alberto Duarte Grill – 172
Luis Felipe Mahfuz Martini – 168
José Freitas Conceição – 163
Tiago Chanan Simon – 152

Não é a urna
Foi grande a quantidade de eleitores que reclamou das urnas eletrônicas neste fim de semana. De fato, muitas delas apresentaram problemas, mas não houve comprovação de fraudes. Muitas das queixas foram resultado do mau uso. Por exemplo, eleitores digitando 17 para votar em Bolsonaro no campo destinado à escolha do governador. Óbvio que daria nulo. É o chamado analfabetismo funcional que, aos poucos, ameaça até mesmo o mais inalienável direito em uma Democracia: o de escolher os governantes.

Armados – Ridícula a atitude de alguns eleitores que levaram suas armas para as seções e digitaram o número de seu candidato com o canos. Primeiro porque, salvo casos muito específicos, o porte é crime. Segundo, porque é proibido levar celular para as cabines de votação e, mais ainda, filmar. Espera-se que estes episódios sejam investigados.

Cabresto – Algumas pessoas defendem que a urna eletrônica emita, ao fim do uso, uma espécie de extrato confirmando em quem o eleitor votou. Interessante, não fosse a falta de escrúpulos de algumas pessoas, que poderiam exigir que seus familiares ou empregados votassem em determinado candidato e comprovassem com a apresentação do impresso. O voto de cabresto estaria de volta.

Suspeita seletiva – E por falar nas urnas, Jair Bolsonaro questiona a segurança do sistema e alega que, não fossem as fraudes, teria sido eleito no primeiro turno. Curioso não ter dito nada sobre os resultados que elas apresentaram nas eleições de seus filhos. Eduardo Bolsonaro, de 34 anos, tornou-se o deputado federal mais votado da história do Brasil, com 1,8 milhão de votos, e Flávio Bolsonaro, de 37 anos, conquistou a primeira vaga para o Senado pelo Rio de Janeiro, com 32% dos votos válidos, ou seja, mais de 4,2 milhões de indicações.

Quanto mais se bate, mais ele cresce
Ele é de um partido nanico (PSL), sem expressão no cenário político nacional. Na propaganda de rádio e TV, tinha poucos segundos, quando seus principais adversários, somados, acumulavam quase dez minutos por dia. Passou a maior parte da campanha num leito de hospital, recuperando-se de um atentado a faca. Seu vice, nas poucas declarações que deu, meteu os pés pelas mãos e sugeriu, entre outras barbaridades, o fim do 13º salário. Na internet, o verdadeiro campo de batalha destas eleições, nasceu um movimento robusto, capitaneado por mulheres, pregando #elenão e #elenunca, que levou milhões de brasileiros às ruas. Por que, então, Jair Bolsonaro quase venceu as eleições presidenciais no primeiro turno, neste domingo? É para esta pergunta que muitos brasileiros, ainda tontos com o que as urnas eletrônicas cuspiram, buscam respostas. Não só para entender os motivos que estão levando um deputado federal verborrágico e de poucos projetos aprovados ao comando da República, mas também para encontrar maneiras de barrar o seu crescimento até o dia 28.

Mais divisão – Embora a diferença pró-Bolsonaro tenha sido brutal, ainda é cedo para considerar a eleição ganha. Apoiadores de têm se reunido com os partidos que ficaram de fora do segundo turno em busca de apoio. Repetem, como um mantra, que a eleição, agora, é uma opção entre a luz e a escuridão. Também acreditam que será possível convencer muitas pessoas que não foram votar neste domingo a irem no dia 28, numa grande batalha contra o mal. A divisão do país vai aumentar ainda mais.

Conselhos
– O fato de Haddad ter o ex-presidente como grande mentor, a ponto de se aconselhar com ele todas as semanas em sua cela na cadeia, em nada ajuda o candidato do PT. Ele pode até ser mais preparado para a presidência da República, mas só uma minoria quer um fantoche no Palácio do Planalto.

Motivos – Desde o início da campanha, cientistas políticos alertaram que Bolsonaro é um daqueles políticos que, mal comparando, assemelham-se a uma massa de pão: quanto mais se bate, mais crescem. Um fenômeno parecido ocorreu com o ex-presidente em 2010, quando conquistou o segundo mandato. Certamente, o sucesso do ex-capitão do Exército e deputado federal pelo Rio de Janeiro não pode ser atribuído a apenas um fator. São vários os motivos que o transformaram num fenômeno de votos:

1 – O antipetismo: Muitas pessoas votaram em Bolsonaro não simplesmente porque acreditam em sua habilidade para tirar o Brasil da crise, mas porque não suportam a ideia de ver o PT novamente no poder. Os escândalos de corrupção da era / superam as realização de seus governos na área social. E foram muitas! O brasileiro médio não aceita mais ser roubado e, embora a safadeza não seja uma criação petista, elegeu a estrela vermelha como símbolo de sua insatisfação.

2 – A linguagem: Bolsonaro fala, primeiro, aquilo que as pessoas desejam ouvir e, segundo, de uma forma que elas entendem. O eleitor sabe que a Economia é uma ciência complexa, mas o que conta mesmo é comida na mesa. De que forma o presidente vai assegurar este direito a cada um não importa muito, desde que a promessa seja cumprida. O candidato do PSL simplifica os grandes problemas nacionais e, dessa forma, deixa a população com a esperança de que basta boa vontade para resolvê-los.

3 – Marketing eficiente: Acusado de racismo, homofobia e preconceito contra mulheres, negros e índios, a equipe de Bolsonaro soube reverter as críticas – e as dezenas de vídeos que circulam na internet – dando nome e identidade a estes grupos. Os marqueteiros do PSL começaram a divulgar imagens de manifestações com pessoas urinando sobre cruzes e praticando outros atos obscenos, durante os mais variados protestos, para dizer que era contra este tipo de gente que Bolsonaro se opõe.

4 – A escalada da violência: O medo de andar nas ruas, o tráfico de drogas e a impunidade são, hoje, alguns dos maiores problemas do país. O cidadão comum se sente acuado e, quando surge alguém com um discurso de salvação, tende a apostar nele. Bolsonaro promete garantir que cada cidadão tenha uma arma para se defender e dar poder à Polícia para matar se for necessário. É o que muita gente gostaria de fazer.

5 – A divisão da sociedade: Esta não é uma obra do candidato do PSL, mas do PT, seu maior adversário. Há anos, o partido da estrela dividiu o país entre os favoráveis a e os contrários, entre ricos e pobres, brancos e negros… O principal símbolo do antipetismo era o PSDB, de , que virou pó durante a Lava Jato. Bolsonaro soube ocupar este espaço e assumir a imagem de salvador.

Mudança – Na eleição para a presidente, Jair Bolsonaro colheu 19.029 votos em Montenegro, que representam 55,01% do total. O segundo colocado, , somou 6.623 (19,15%). Há quatro anos, a vencedora na Cidade das Artes foi a representante do PT, , com 16.381 votos (47,77%). É o que aconteceu na maioria das cidades brasileiras.

Migração – Apesar de, nas redes sociais, os últimos dias indicarem uma migração de Haddad para Ciro Gomes, por aqui, o pedetista fez apenas 11,7 % do total de votos. Também neste caso, um repeteco do que aconteceu no país inteiro.

Preço alto – Ainda esta semana, começa a campanha para o segundo turno. Agora, Bolsonaro e Haddad terão os mesmos espaços no rádio e na televisão para convencer os eleitores a votar neles. Entrevistas e debates tendem a ser mais produtivos, permitindo ao eleitor conhecer, de forma mais clara, as propostas de cada um para os grandes problemas nacionais. Também é o momento de fazer um apelo à civilidade. As trocas de agressões nas redes sociais já são uma marca deste pleito e podem ganhar as ruas se os dois candidatos não controlarem as suas militâncias. E aí todo o desejo de paz e tranquilidade da população se perderá. Espera-se que nenhum dos finalistas esteja disposto a pagar um preço tão alto pelo poder.

Leite X Sartori
O eleitor montenegrino “seguiu o fluxo” na votação para o governo do Estado. Também por aqui, os mais votados foram , do PSDB, com 11.328 votos (35,60% do total), contra 10.067 de José Ivo Sartori, do MDB, que equivalem a 31,64%. Há quatro anos, o Gringo havia vencido com folga no Município, acumulando 40,23% dos votos. A redução no eleitorado se deve, obviamente, à falta de respostas do governo aos grandes problemas locais, entre eles, a má conservação das estradas, com destaque à RSC-287.

Diz aí, candidato – Antes de votar novamente, no dia 28, os eleitores de Montenegro e da região devem buscar informações junto aos dois candidatos sobre a instalação de rótulas no perímetro urbano da 287. Sartori teve quatro anos parta dar uma resposta ao problema das travessias perigosas e nada fez. Leite pretende privatizar a EGR, cujos recursos são justamente a esperança de que as melhorias sejam realizadas no curto prazo.

Variações – Na Economia, Sartori e são tonalidades diferentes de uma mesma cor. Os dois defendem a redução do tamanho do Estado, com a venda de estatais, instalação de pedágios, congelamento de salários e outras medidas de controle dos gastos. Quem quer que ganhe terá uma firme oposição dos servidores públicos. E a sociedade terá ser vigilante para que a qualidade dos serviços não caia ainda mais.

Surpresa no Senado
Erraram feio as pesquisas de intenção de voto na disputa para o Senado no Rio Grande do Sul. Até dois dias antes da eleição, os institutos davam como certa a vitória de Paulo Paim, do PT, e José Fogaça, do MDB. Na sequência, vinham Beto Albuquerque, do PSB, e Luiz Carlos Heinze, do Progressistas. Apurados os votos, o que se percebeu foi uma inversão. Heinze ficou em primeiro e Paim em segundo. Fogaça, que liderava nas sondagens, terminou o pleito em quinto lugar, atrás ainda de Beto Albuquerque (PSB) e Carmem Flores (PSL).

Dilma fora – Em Minas Gerais, ocorreu um fenômeno semelhante na disputa pelo Senado. A ex-presidente , do PT, que liderava a corrida nas pesquisas, terminou o pleito na quarta colocação, com apenas 15,5% dos votos válidos.

Derrota – E por falar em Senado, uma das grandes derrotadas nesta eleição foi a gaúcha Ana Amélia Lemos, do Progressistas. Ela desistiu de uma reeleição bem encaminhada para concorrer a vice de . Ficaram em quarto lugar na disputa, com míseros 4,77% dos votos.

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