Respeito, empatia e planejamento como agentes na redução de acidentes no trânsito

Prevenção. Maio amarelo alerta para a segurança no trânsito

Com o tema “Juntos Salvamos Vidas” neste ano, o movimento Maio Amarelo, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011, surgiu com a proposta de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito. Segundo o Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito, somente em 2021, houve 20.053 mortes no trânsito no País, e 878.208 acidentes. Mas de acordo com um estudo realizado pelo Ministério da Infraestrutura, em 53,7% dos acidentes a causa é a imprudência dos motoristas. Destes, 30,3% ocorrem por infração das leis de trânsito, enquanto 23,4% indicam falta de atenção do condutor.

Essa tendência já foi alertada por pesquisa de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), em que eram estimados que 90% dos acidentes são causados por falha humana. Em concordância com os dados, foi apontada a necessidade de mudança nas atitudes dos motoristas e todos que integram o trânsito.

Lídia Mara dos Santos trabalha com a bicicleta há cerca de quatro meses

Entregadora por aplicativo há cerca de quatro meses, Lídia Mara dos Santos, de 24 anos, também nota a importância dos cuidados e transformação das atitudes atuais. Segundo a ciclista, os motoristas nem sempre respeitam os ciclistas, e o que parece uma ação sem consequência pode acarretar sérios danos. “Uma vez eu estava passando de bicicleta e o carro deu uma freada e eu quase bati no carro. Outra vez, eu cheguei a bater no carro também por causa da freada que um deu; cheguei a bater na porta do carro, sorte que eu não me machuquei muito, só a boca”, relembra.

Segundo Lídia, o espaço de 1,5m de distância entre automóvel e bicicleta também não é respeitado. “Na verdade tinha que ter um espaço a mais pro ciclista andar, assim é muito difícil de se locomover, eles não respeitam nem os pedestres, imagina os ciclistas”, fala. Em sua opinião, duas coisas já ajudariam muito no trânsito. “Falta espaço para os ciclistas passarem, e respeito com os pedestres também”, diz.

Para a integrante do Conselho Municipal de Trânsito e membro da Associação Ciclística Montenegrina (Aciclomont), Márcia Brand, os acidentes no trânsito seriam reduzidos se cada um fizesse a sua parte. “Existe um Código de Trânsito Brasileiro, que se fosse seguido as coisas não aconteceriam, além disso, um pouco de empatia com as pessoas, com os pedestres, com os ciclistas, com qualquer outro ser que circula na via também evitaria muita coisa”, declara.

O sargento Estevão Benites, do 5º Batalhão da Polícia Militar (BPM) de Montenegro, alerta também para ações essenciais no dia a dia. “Que todo motorista tenha consciência e sempre olhe para o seu próximo. E nunca se esqueça do indicador de direção, esse é o primordial para todos nós, indiquem com a seta o que você vai fazer, se vai para a direita ou para a esquerda. Vamos ter consciência e cuidar do próximo, vamos dirigir cuidando do próximo que assim eu acho que a gente vai evitar muitos acidentes”, completa.

Montenegro já registra mais de 40 acidentes com lesões corporais em 2022
De acordo com dados do 5° BPM, em 2021, na área Urbana de Montenegro, foram registradas 240 ocorrências de trânsito com apenas danos materiais, e 102 ocorrências de acidentes com lesões corporais. Já em 2022, os registros da BM apontam que até a terça-feira, 24, foram 95 registros com danos materiais e 46 ocorrências com lesões corporais em razão do trânsito. “É um número bem elevado, e a gente (BM) concorda com o que a Márcia disse sobre a questão da empatia, de que é necessário”, fala o major Ricardo Machado da Silva, subcomandante do 5°BPM.

O major ainda fala sobre como a sociedade olha de modo antipático para a polícia devido às multas. “Nós penalizamos as pessoas, mas a gente segue o Código de Trânsito Brasileiro, que diz que o trânsito em condições seguras é um direito do cidadão e também um dever daqueles órgãos e entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito de atuar. Então nós temos o dever de fiscalizar, e essa fiscalização a gente sabe que é um pouco hostil ao cidadão, percebemos pelos números que é extremamente necessária”, diz o subcomandante.

Dados da BM foram apresentados em entrevista à Rádio Ibiá Web

Esses números acabam refletindo na saúde pública. Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária, o Brasil é o quarto país com maior número de acidentes de trânsito no mundo; envolvendo mais de meio milhão de vítimas a cada ano. Em média, os acidentes deixam mais de 1,6 milhão de brasileiros feridos a cada 10 anos, e representam um custo de cerca de R$ 2,9 bilhões para o Sistema Único de Saúde – o SUS – aponta o Conselho Federal de Medicina.

José Leandro Souza , supervisor de Segurança do Trabalho do Hospital Montenegro 100% SUS, aponta que o grupo de traumatologia do hospital acompanha todas as vítimas de acidentes, e muitos têm consequências irreversíveis. “Inclusive tem muitos acidentes que o acidentado é encaminhado para a previdência social”, comenta. Segundo ele, para que isso seja evitado é necessária a conscientização da população, especialmente os jovens.

Cultura de segurança no trânsito
A Organização Mundial da Saúde (OMS) deu início no ano passado à Década de Ação pela Segurança no Trânsito, com a meta de prevenir ao menos 50% das mortes e lesões no trânsito até 2030. A cultura de segurança no trânsito e mudança de comportamentos por meio da educação é um dos fatores essenciais, segundo especialistas.

Para o sargento Benites, é muito positivo trabalhar desde cedo com as crianças este assunto. “O público infantil é o melhor público que tem para se trabalhar na parte de trânsito. Eles são uns fiscais dos pais; os motoristas do futuro”, comenta.

A educação é um ponto-chave, segundo o major Ricardo. “Vai criando uma cultura que a gente aposta muito. A gente acredita muito que a educação vá dar fruto depois com essas crianças”, complementa. José Leandro também acredita na educação com as crianças. “Começando desde a infância certamente vai ser bem relevante no futuro”, diz.

Pensando em ações voltadas às crianças e adolescentes, alunos e professores das escolas Mafalda Padilha, de Campo do Meio, e Osvaldo Brochier, de Santos Reis, deixaram os cadernos de lado por algumas horas e foram para as ruas, nessa quarta-feira, 25. Com o apoio da Guarda Municipal de Montenegro e da gestora em Trânsito e Mobilidade Urbana, Darllin Ingrid Fischer Klug, pararam os carros e entregaram panfletos aos motoristas.

Assim como no perímetro urbano, no interior também são comuns práticas como o excesso de velocidade e dirigir embriagado, que colocam a vida de todos em perigo. Os estudantes aprendem, desde cedo, que a educação no trânsito é o melhor antídoto para o problema.

Alunos e professores das escolas Mafalda Padilha e Osvaldo Brochier realizaram ação no Maio Amarelo. Foto: Arquivo Pessoal/Darllin Klug

Conscientização
A violência no trânsito atinge mais de meio milhão de vítimas anualmente. A cada minuto, pelo menos uma pessoa fica inválida e, a cada 12 minutos, uma pessoa morre. É o que aponta o Observatório Nacional de Segurança Viária.

Para o sargento Benites, a conscientização dos condutores de veículos, pedestres e ciclistas ajudaria na diminuição desses dados. “Falta um pouco de conscientização. Embora a gente queira mudar o trânsito, as pessoas também têm que ter uma consciência. Ver o perigo e saber o que é o certo e o que é o errado”, fala. Em relação a isso, José complementa: “os acidentes acontecem, porém eles podem ser evitados”.

No caso dos ciclistas ou aqueles que fazem corridas, Márcia cita a necessidade de ser visto. “Não dá para sair com uma camiseta preta para correr ou andar de bicicleta”, diz. Além disso, ela relata que sempre que um pai ou responsável for ensinar uma criança a andar de bicicleta, por exemplo, é preciso orientar primeiro e acostumar o pequeno em um local sem muito movimento.

Na visão do Major Ricardo, a única autoridade que pode mudar realmente algo é a autoridade dos pais. “Porque a criança segue o exemplo, muitas vezes não segue o que a gente diz, mas segue o que a gente está fazendo”, concluí.

Especialistas acreditam que todos os envolvidos nos trânsitos devem ser conscientes

Plano de Mobilidade Urbana
O Plano de Mobilidade Urbana tem um grande papel na melhora do trânsito na cidade. Apesar disso, Márcia Brand, integrante do Conselho Municipal de Trânsito, relata que ele está com defasagem. “O Plano de Mobilidade Urbana que temos na nossa cidade é de 2009, e ele nem sequer chegou a ser implementado, e depois daquilo foram implementadas algumas ações pontuais”, declara.

Recentemente o Conselho aprovou o Plano de Mobilidade Urbana, com um custo aproximado de RS 100 mil, segundo o diretor do Departamento de Transporte e Trânsito de Montenegro, Paulo Tempass. “Esse estudo é que vai fazer a cidade acontecer, o trânsito, as pessoas, os veículos, as bicicletas, e tudo mais. Então através de um estudo feito, que é o Plano de Mobilidade Urbana, a gente consegue dar um direcionamento para a cidade”, fala. Assim como o subcomandante do 5° BPM, major Ricardo, explicou, Paulo relata que as melhorias no trânsito precisam e serão feitas de forma técnica.

Segundo Tempass, uma das alterações que serão estudadas será mudar a rua Bruno de Andrade para somente um sentido e também a construção de uma ciclovia na Via II. “Agora tem que conseguir o dinheiro para isso. A Secretaria de Planejamento vai em busca de captar verba”, diz.

Guarda Municipal como agente fiscalizador de trânsito
De acordo com o diretor do Departamento de Transporte e Trânsito de Montenegro, até a próxima semana será votado na Câmara de Vereadores o projeto de lei que dá respaldo jurídico à Guarda Municipal, para atuar como agente fiscalizador de trânsito – como possibilita o Plano de Carreira vigente desde 2015 -, seguindo normas estabelecidas no Código Nacional de Trânsito. “A Brigada Militar (atual responsável) sempre vai poder fazer trânsito, mas o foco da BM são os crimes, então dentro dos próximos dias a Guarda Municipal vai poder fazer esse trabalho”, diz.

De acordo com o sargento Benites, esse é um grande avanço. “A Guarda entrando vai desafogar muito mais para nós da Brigada Militar”, fala.

A expectativa é que os quatro guardas municipais, que estão atuando após concurso, recebam um curso da Brigada Militar para atender o trânsito. “Nós pretendemos usar os quatro guardas para atender pelo menos o Centro da cidade, onde estamos com o rotativo. Porque existe um desrespeito ainda dentro da cidade, pois como a gente não está conseguindo fiscalizar o pessoal deixa o carro ali e esquece”, comenta Paulo. Além de trabalhar com a fiscalização, também é esperado que a Guarda atue fazendo ações de Balada Segura e utilização de bafômetro.

Avanços da Brigada Militar
Outra novidade, é que a partir do próximo ano a Brigada Militar terá uma Escolinha de Trânsito em Montenegro. “É muito bom e muito importante para a educação dos nossos futuros motoristas”, diz o major Ricardo. A Escolinha irá ocorrer dentro do quartel do 5° BPM, e a ideia é de sistematicamente convidar os alunos das escolas para realizar as atividades no local.

BM poderá multar através da captação de imagens do sistema de videomonitoramento

Além disso, no mês de março foi feita uma resolução que permite a infração de trânsito via videomonitoramento. “Nós temos câmeras por toda a cidade, então nós estamos só aguardando a sinalização das vias, e se o operador de videomonitoramento detectar a infração de trânsito, isso vai ser notificado e a pessoa vai receber lá na sua casa a multa de trânsito”, explica.

Desse modo, o major deixa o alerta para que a população seja consciente. “Isso com certeza eu repercuto como uma notícia boa, porque as pessoas vão mudar o comportamento e nós vamos ter menos acidentes, e menos trabalho para o Hospital Montenegro”, completa.

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