CAUSA ANIMAL. Cães e cavalos são principais alvos de abandono e outras crueldades
A recorrente situação de abandono e maus-tratos aos animais tem causado preocupação e indignação nos voluntários que prestam socorro a esses seres, em Montenegro. Enquanto aguarda por ajuda do Poder Público, a ONG Patinhas da Esperança faz apelo para que a comunidade continue fazendo doações, e para que denuncie casos suspeitos de maus-tratos antes que os animais atinjam estado crítico.
No último sábado, dia 28, seis cães foram retirados de uma residência na localidade de Pesqueiro, ao ser constatado que estavam feridos e sem alimentação. A ação ocorreu através da ONG Patinhas da Esperança, que foi contatada pelo Pelotão Ambiental da Brigada Militar (Patram).
A pessoa responsável pelos animais chegou a ser detida, mas, após o registro da ocorrência, na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) foi liberada. Conforme a Polícia Civil, foi instaurado inquérito e o fato está sendo apurado pelo Cartório Amigo dos Animais, localizado na 1ª Delegacia de Polícia. “Se o crime for comprovado, será indiciada e provavelmente processada”, relata o delegado André Roese, titular da 1ªDP.
Segundo a Patram, o caso foi descoberto através de denúncia. Ao chegar no local, foram confirmados visíveis sinais de maus-tratos aos cães. Um deles apresentava ferimento na cabeça, e não tinha parte da orelha esquerda. Anêmico, o cão – assim como outros três – precisou de transfusão de sangue. Outro animal estava ferido no abdômen e tinha larvas pelo corpo.
O caso não é isolado e, tampouco, ocorre somente com cachorros. Desde o final de 2020 até abril deste ano, a ONG Patinhas da Esperança resgatou mais de 15 cavalos em situação de maus-tratos. A maior parte dos equinos foram encontrados nos bairros Estação e Esperança.
Por mês, em Montenegro, a Patram recebe, em média, de três a quatro denúncias de maus-tratos envolvendo cavalos. Entre os tipos de agressão estão a exposição ao trabalho excessivo, falta de alimentação e lesões causadas por chicote, relho e outros objetos.
A voluntária Claudete Eberhardt explica que, em muitos casos, o Ministério Público determina ao Poder Público retirar os animais da situação em que se encontram. Porém, sem ter uma equipe estruturada e local para abrigar os animais, para fazer cumprir a determinação do MP, o Executivo acaba recorrendo ao trabalho da ONG. “A Prefeitura é obrigada a dar suporte, mas eles não têm como ajudar e repassam para nós. Há pouco começamos a ajudar cavalos na cidade e já estamos saturadas de dívidas”, relata Claudete.
A representante da ONG reclama da falta de apoio para conseguir ajudar os animais. “Apesar de ser uma responsabilidade social e pública, não existe verba nem veterinário da Prefeitura para nos ajudar. A Patram liga para a Prefeitura e eles ligam para nós”, desabafa Claudete. “As pessoas ajudam com doações na hora que fazemos o pedido, depois as ajudas acabam e as despesas com o animal continuam. O gasto com um cavalo é muito grande”, conta ainda.
O custo fixo da ONG com despesas, em vacinas e alimentação, para cada cavalo resgatado chega a R$1mil, diz a voluntária. A demanda por atendimento e medicamentos gerou uma dívida que ultrapassa R$ 9 mil.
Quando resgatados pela ONG, os cavalos são medicados, tratados e colocados para adoção. Mas, nem sempre a história tem final feliz. “Em uma semana, por duas vezes, chegamos tarde demais. Dois cavalos que tentamos resgatar não resistiram. Um deles faleceu quando estava sendo avaliado pela veterinária”, lamenta Claudete.
Falta de local adequado e transporte dificultam ações
A ONG Patinhas da Esperança não tem sede própria. O piquete 15 de Novembro, instalado no Parque Centenário, disponibilizou potreiro para que os animais lá permaneçam até, totalmente, se recuperarem. Antes disso os cavalos ficavam em locais improvisados. “Agora, enquanto podemos usar o Parque é uma preocupação a menos pra gente. Nossa maior preocupação é com o reboque e atendimentos”, diz Claudete.
O comandante da Patram, Luís Fernando da Silva, também aponta a carência de local adequado para encaminhamento dos equinos em situação de maus-tratos. “Com a evolução da questão do bem-estar animal, cada vez mais latente na sociedade, cresce a necessidade de o Poder Público atender às demandas nesse sentido”, defende o militar. “Se faz necessária a implementação de medidas no sentido de criar uma estrutura para acolhimento destes animais, para que recebam o devido atendimento”, sugere Luís Fernando.
A voluntária Sélia Carolina de Ávila reforça o pedido de ajuda feito por Claudete. “Se a Prefeitura pudesse, pelo menos, fornecer o transporte para deslocamento dos cavalos. Em um dos últimos atendimentos, levamos quase quatro horas para conseguir locação de um reboque”, lembra Sélia.
O que diz o Poder Público
A Administração Municipal destaca que tem adotado providências em relação à causa animal. O Executivo salienta que, no mês de maio, enviou à Câmara de Vereadores um projeto que prevê abertura de crédito especial, no valor de R$ 250 mil, para atender a antigas demandas apontadas pelas ONGs da cidade. Entre os procedimentos contemplados, estão consultas veterinárias com sedação, realização de partos, atendimentos a casos de queimaduras e ferimentos, eutanásia, além de exames variados.
Além disso, no caso de cães e gatos, o Poder Público aposta no aumentou do número de castrações para minimizar os problemas. A previsão de investimento em castrações é de mais de R$ 200 mil. Os valores são oriundos de emendas impositivas da Câmara.
Empresas interessadas em participar do Chamamento Público, que visa a realização das castrações, tem até sexta-feira, dia 3, para se credenciar, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM).
Como ajudar
Doações para ajudar no custeio das despesas, com animais resgatados de situações de abandono ou maus-tratos, podem ser realizadas para o pix (CNPJ) 41.965.694/0001-89
Lembre-se e denuncie:
Em 2020 a Lei 14.064 passou por mudanças que alteraram o tempo de pena para autores de crimes contra cães e gatos. O autor de maus-tratos pode ter detenção estipulada de dois até cinco anos.