PROFESSOR destaca que deve haver equilíbrio no uso do celular para atividades de aprendizagem
O debate sobre o uso de celulares em sala de aula ganhou força nas últimas semanas, especialmente após a declaração do Ministro da Educação, Camilo Santana, que anunciou um projeto de lei visando a proibição do uso desses aparelhos nas escolas do Brasil. De acordo com o ministro, essa medida se baseia em estudos que demonstram que a utilização de celulares oferece prejuízos ao aprendizado dos alunos. A proposta ainda deve ser discutida no Congresso Nacional, mas já acende uma discussão importante nas instituições de ensino de todo o país.
Na região, os municípios têm adotado posturas variadas em relação ao uso de celulares nas salas de aula. Em Montenegro, o diretor de Educação da Secretaria Municipal de Educação (Smed), Tiago Vargas, afirma que não há uma proibição geral, mas sim uma recomendação para que o uso do celular seja feito apenas para fins pedagógicos. As escolas possuem autonomia para decidir, em conjunto com seus Conselhos Escolares, se irão restringir ou não o uso dos aparelhos. Segundo ele, o papel da escola é educar e preparar os alunos para o uso responsável da tecnologia, não apenas proibir. “Precisamos encontrar maneiras de integrar o celular no processo educativo de forma construtiva”, conclui.
Cristiane Maria Scherer, secretária de Educação, Cultura, Desporto e Turismo de Brochier, destaca que no município o regramento é definido pela escola, com regras e combinações sobre o definidas pela direção e pedagógico das instituições em reunião com as famílias a cada início de ano letivo. “Crianças e adolescentes não têm maturidade para perceber o excesso do uso. Precisam da supervisão e limites impostos pelos adultos”, afirma. Para a secretária, o celular pode ser uma ferramenta útil para pesquisa e aprendizado, mas sua utilização deve ser equilibrada.
Em São José do Sul, a secretária de Educação, Elisabete Terezinha Hartmann Jahn, explica que as normas de uso de celular são combinadas com os alunos. Durante os intervalos, o uso é liberado, mas fotos e gravações só podem ser feitas com autorização. “A norma está bem clara nas diretrizes da escola”, afirma. Para ela, a supervisão dos adultos é fundamental para que os alunos aprendam a utilizar a tecnologia de maneira saudável, evitando excessos que podem comprometer o aprendizado.
Por outro lado, em Pareci Novo, a secretária de Educação, Rita Julia Carneiro Fleck, informa que o uso do celular é regulamentado pelo Regimento Interno Padrão das escolas. O uso é permitido somente durante atividades pedagógicas e sob a orientação do professor, garantindo que a tecnologia seja uma aliada no aprendizado, mas sempre com gestão cuidadosa.
A reportagem também tentou contato com a Secretaria Municipal da Educação e Cultura de Maratá para trazer um panorama sobre o uso do celular em sala de aula na rede municipal de educação do município. No entanto, a assessoria de comunicação da Prefeitura informou que a pasta está sem titular, e só poderá se posicionar sobre o tema após a definição de um novo nome.
Uso de celulares nas escolas é desafio e oportunidade, diz professor da Unisc
Em um cenário em que o debate sobre o uso de celulares nas escolas se intensifica, o professor Willian Araujo, doutor em Comunicação e Informação e coordenador adjunto dos cursos de comunicação da Universidade de Santa Cruz do Sul, oferece uma perspectiva crítica e fundamentada sobre o tema.
Para Araujo, o uso de celular em sala de aula é uma questão importante para a escola contemporaneamente. Ele enfatiza que as instituições de ensino são um espaço essencial de educação para os jovens, mas que essa educação se estende a muitos outros ambientes, incluindo as tecnologias digitais. “A educação sempre foi distribuída em muitos meios de comunicação, e isso ajuda a constituir quem nós somos”, afirma.
O professor aponta um grande desafio. “Diferente dos demais meios de comunicação, o celular é uma tecnologia que é hiperpessoal. Cada um tende a ter o seu, com seus sistemas e aplicativos, o que levanta questões de controle parental e dificuldade de monitoramento dos usos”, afirma. Araujo destaca ainda que o celular pode atuar como um grande estímulo negativo, utilizando táticas comportamentais que, muitas vezes, dificultam a concentração e a atenção do aluno.
“A questão do celular é um desafio social, que passa pela relação que, obviamente, os jovens têm com essa tecnologia, mas também nós, pessoas de meia idade”, ressalta. No entanto, o professor argumenta que, em um país como o Brasil, onde a digitalização frequentemente chega por meio de smartphones de baixo custo, evitar o uso do celular em sala de aula pode não ser uma alternativa interessante. “Para muitos estudantes, esse aparelho pode ser o único acesso à informação digital”, complementa
Com um olhar voltado para a educação, Araujo afirma que o celular também pode ser uma ferramenta relevante no contexto de aprendizagem. Ele destaca a importância de capacitar professores e alunos para utilizarem o aparelho de maneira mais ativa e interessante no ambiente escolar. “A aprendizagem sobre um uso saudável de tecnologias fundamentais é elementar para o desenvolvimento de jovens e adultos”, completa.
Entretanto, ele também ressalta a necessidade de um controle mais eficaz por parte das gestões escolares. “Esse projeto de lei vem com a característica de garantir autonomia para gestores escolares, para que consigam arbitrar momentos importantes onde o uso do celular pode ser pedagógico”, explica. Araujo acredita que deve haver um equilíbrio entre o uso do celular para atividades de aprendizagem e a necessidade de atenção e foco nas interações com os docentes.
Ele conclui sua análise afirmando que não acredita em um banimento absoluto dos celulares do contexto escolar. Para ele, a proposta deve dar ferramentas de gestão aos diretores e professores para que possam tomar decisões fundamentadas. “Acredito que essa lei que vai ser discutida no Congresso venha no sentido de garantir que os estudantes possam saber usar o celular para acessar informações relevantes para seu aprendizado e vida cidadã”, conclui Araujo.