Antes tarde do que nunca. Dados do Enem 2016 revelam que cerca de 20% dos candidatos já não eram tão jovens
O número de gaúchos com mais de 30 anos que prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2016 chega a 70.575, o que representa 17% do total de candidatos à prova, segundo informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os dados evidenciam que há, sim, uma grande parte da população na casa dos 30 tentando uma vaga na faculdade.
Aos 18, 25 ou 40, não importa: nunca é tarde para estudar. Exemplo disso é a universitária
Tânia Maria Schons Kayser, de 59 anos, aluna de Educação Física na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Aos 26 anos, ela cursou Matemática na Unisinos, mas teve de interromper porque vieram os filhos. Retornou 33 anos depois. “Vou me formar em julho deste ano e estou fazendo meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre ‘A História do Voleibol em Montenegro: um estudo das últimas quatro décadas”, diz.
A parte mais difícil, para Tânia, é não ter muito tempo para os momentos em família. “Na hora de iniciar, tu precisas saber que terás de abdicar de passeios, encontros e datas comemorativas para focar nos estudos. Agora eu estou fazendo estágio e trabalhos finais, então a dificuldade é maior”, aponta. Apesar disso, estar quase formada é um sonho realizado. “Você precisa ter na cabeça que o sucesso só vai depender da sua força de vontade e que é sua chance de concretizar um sonho”, finaliza.
Kamila Nunes Bemvegnu, de 28 anos, faz licenciatura em Música na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). Tudo começou em 2015, quando ela teve a oportunidade de ministrar oficinas de contraturno em uma escola. “Sou apaixonada por música, mas até então nunca havia pensado em fazer uma faculdade disso”, conta. Na escola, despertou a admiração pela Pedagogia.
Persistente no desejo de lecionar, Kamila fez vestibular e passou, mas seria fora da cidade e não teria como se manter. “Acabei conseguindo bolsa no curso em que estou. Então optei por essa, justamente por ser na cidade e de fácil acesso”, afirma. Ela tentou, inclusive, a Psicologia logo que se formou no Ensino Médio, mas não conseguiu. Então arrumou um emprego e desistiu da academia porque, mesmo que quisesse, não tinha condições de custear uma faculdade.
Todavia, retomar os estudos após um longo período longe dos bancos escolares não é fácil. “A grande dificuldade é ter esquecido praticamente tudo o que aprendi no Ensino Médio. Montar trabalhos e artigos se torna difícil quando já não fazem parte da tua rotina. Além disso, o ritmo de aprendizagem é mais rápido para quem sai da escola e direto ingressa na academia”, assegura.
Mãe de dois filhos, Kamila diz que não há realmente muitas vantagens em começar mais tarde, sobretudo porque a probabilidade de não conseguir conciliar perfeitamente família, estudos e trabalhos é grande. “Mas, ao meu ver, nunca é tarde. Confesso que, se pudesse voltar no tempo, teria começado antes. O lado bom é que agora tenho a certeza de que estou fazendo o que gosto e não por impulso”, admite.
Carla Viviane Cardoso Pozo, 37 anos, também se formou em Teatro pela Uergs neste ano. Ela foi mãe aos 15 anos, enquanto ainda estava no Ensino Médio, e teve de parar para cuidar da filha. “Eu terminei pelo programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) quando minha família cresceu”, afirma. A faculdade, Carla também teve de interromper, pois estava numa turma na qual a maioria dos estudantes não trabalhava e conseguia conciliar as cadeiras. “Os horários de uma faculdade pública são quebrados e acho que esse é o maior obstáculo. Precisa haver muito foco para trabalhar e ainda fazer um curso superior quando tu já tens uma família”, explica.
Carla concluiu a faculdade em sete anos, mas não se arrepende da escolha. “Já trabalhava com Teatro e aprimorei meus conhecimentos na universidade. A política pública que criou a Uergs e estas inúmeras formas de conseguir uma bolsa mudaram minha vida. Se tivesse de pagar tudo, não teria possibilidade”, finaliza.
Dicas para se sair bem DEPOIS DOS 30
– Seja persistente;
– abra sua mente para novas oportunidades. Lembre-se de que a cultura em geral mudou desde que você saiu do ensino básico, o que pode exigir de você novos aprendizados com os adolescentes universitários;
– é importante saber que tanto você, provavelmente na casa dos 30, quanto os adolescentes estão na faculdade para ter um futuro melhor. O ideal é não se vangloriar por ser mais experiente;
– a universidade, sobretudo, é um local em que se cria amizade com diversos acadêmicos que pensam de um jeito diferente do seu. Aproveite as novas culturas.